Série de Perfis In Memorian do Bosque da Fama – Oberdan Cattani

O terceiro e último homenageado da série de perfis é ídolo do Palmeiras e da Seleção Brasileira

Goleiro, conselheiro, ídolo, eterno. Este é Oberdan Cattani, o último perfil da nossa série, e que também será um dos homenageados in memorian desse ano no Bosque da Fama, dia 8 de dezembro (segunda-feira).

Oberdan Cattani nasceu em um dia mais que emblemático para todos os palmeirenses. Dia 12 de junho, só que no ano de 1919, na cidade de Sorocaba, interior do estado de São Paulo. Filho de imigrantes italianos da região de Toscana, orfão de pai desde os 10 anos de idade, vivia em uma casa simples com a mãe e mais sete irmãos. Essa vida o obrigou a trabalhar desde cedo, entregando jornais em Sorocaba e recebendo por unidade. O trabalho o fazia acordar com o nascer do Sol, e correr para que o jornal chegasse na hora certa nas casas. Esse esforço lhe deu um bom condicionamento físico, e foi nesse momento que Oberdan percebeu que tinha vocação para ser um atleta. Participava de eventos esportivos na cidade, e se destacava no atletismo, salto em altura, salto em distância e futebol.

Com 17 anos de idade, Oberdan começou a trabalhar como motorista de caminhão e sua principal função era transportar laranja e cebola de Sorocaba até São Paulo, para abastecer o Mercado Municipal. Como viajava constantemente para a capital, por muito tempo acompanhou do lado de fora os treinos do Palestra Itália. Foi em um dia de folga do trabalho em 1940, e incentivado pelo irmão Athos, que fez seu primeiro teste, e surpreendeu a todos que o avaliavam inclusive o técnico italiano Caetano de Domenico. No mesmo dia, já ficou para jogar o tradicional “rachão” no treinamento. Seu time perdeu por 3x0, mas mesmo assim, o “projeto de goleiro” foi o destaque do jogo.

Após passar três dias na capital e não receber nenhuma resposta da diretoria palestrina, voltou para sua cidade e retomou a vida normal. Nessa época, Oberdan já havia jogado em equipes amadoras de Sorocaba, e também pelo tradicional São Bento. Olheiros do Corinthians já haviam o sondado e feito um convite para que ele fosse treinar no alvinegro paulistano. No entanto, recusou a proposta.

No Campeonato Paulista de 1940, foi lembrado pelo técnico Caetano de Domenico, e realizou outro treino no Palestra. Porém, por não ser chamado para nenhuma conversa formal, ele achou que a história se repetiria, e só não desistiu do futebol por insistência do irmão. E foi no dia seguinte que tudo mudou. A diretoria ofereceu um contrato temporário de três meses para Oberdan, que aceitou a proposta no dia 27 de outubro de 1940.

Sua estreia oficial no time principal foi em 1941, em partida contra o time da São Paulo Railway (SPR), válido pelo Torneio Início do Campeonato Paulista, com vitória palestrina pelo placar de 1x0. Dono de mãos enormes, Oberdan costumava defender os chutes dos adversários com só uma delas, estilo de jogo que o caracterizou eternamente e provou ainda mais o talento do sorocabano.

Antes de serem disputados os primeiros campeonatos nacionais, já existia o Campeonato Brasileiro de Seleções, onde os melhores jogadores do país eram convocados para representar seu estado. Oberdan integrou o time da Seleção Paulista com apenas alguns meses de Palestra Itália. Os torneios com as seleções estaduais eram quase tão importantes quanto representar a Seleção Brasileira. E falando em Seleção Brasileira, Oberdan a integrou por dois anos consecutivos. Em 1944, disputou várias pelejas amistosas e foi titular no Campeonato Sul-Americano de 1945, e só não jogou uma Copa do Mundo por causa da paralisação forçada do evento, causada durante a Segunda Guerra Mundial. Nesse período, enfrentou Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Uruguai, além da Argentina, pela Copa Roca (conhecido hoje como Superclássico das Américas).

O goleiro estava presente no famoso jogo “Arrancada Heroica”, que marcou a mudança do nome do time de Palestra Itália para Palmeiras, no dia 20 de setembro de 1942. Essa mudança aconteceu por conta de que a legislação brasileira proibia qualquer tipo de alusão a qualquer país que estava em conflito com o Brasil durante a Segunda Guerra Mundial. Nesse dia, o Palmeiras entrou em campo carregando a bandeira nacional, e a partida era a final do Campeonato Paulista contra o São Paulo. O Alviverde venceu por 3x1 e conquistou o título. O time saiu de campo ovacionado e sob o lema: “Palestra Itália: nasceu líder, morreu campeão”.

Oberdan atuou por 14 anos no Palestra/Palmeiras em 351 jogos. A goleada de 4x0 sofrida pela Juventus da Itália pela Copa Rio de 1951 - que viria a ser conquistada pelo Palmeiras (Oberdan foi campeão no banco) - pesou até 1954, e em fevereiro, o goleiro chegou para treinar junto do time quando foi surpreendido pela notícia de que seu contrato fora rescindido pelo então presidente do Palmeiras, Pascoal Giuliano. Este alegou que pelo fato do goleiro ser veterano, já não estava em sua melhor forma. Sofrendo a maior frustração da sua vida, Oberdan provou o contrário para Pascoal, e ainda no ano de 1954, jogou 26 partidas pelo Juventus da Mooca. Essas 26 atuações bastaram para que o goleiro fosse eternizado no clube da zona leste de São Paulo. Encerrou sua carreira no dia 13 de dezembro de 1954, na vitória do Juventus sobre o Ypiranga por 2x1, no estádio Palestra Itália.

Apesar de tantas conquistas em sua carreira, e apesar de ser um ídolo, um dos maiores desejos de Oberdan era ter um busto no estádio do Palmeiras. Sonho impedido por uma regra do conselho palmeirense, que diz claramente que só pode ter busto quem nunca jogou contra o Palmeiras, e Oberdan vestiu a camisa grená do Juventus.

No ano de 2014, o atual presidente da Sociedade Esportiva Palmeiras, Paulo Nobre, quebrou a regra do conselho e autorizou a construção do tão almejado busto. Uma clara demonstração de reconhecimento dos seus anos de serviços prestados ao clube. Infelizmente, ele não pôde ver um de seus maiores sonhos tornar-se realidade: no dia 20 de junho (oito dias após completar 95 anos), Oberdan faleceu em decorrência de uma infecção pulmonar. Com a morte do goleiro, se foi também o último remanescente do antigo Palestra Itália. O homem se foi, mas a lenda será eterna. Dentro do Palmeiras, Oberdan foi conselheiro vitalício e é até hoje considerado o maior goleiro da história do clube.

Oberdan Cattani se juntará à Bellini, o Capitão do 1º título mundial da Seleção Brasileira, como os dois primeiros homengeados in memorian de futebol no Bosque da Fama, que é uma iniciativa da Secretaria de Esportes, Lazer e Recreação (SEME), em parceria com o Panathon Club, cuja meta é manter viva a memória do esporte brasileiro, fomentando o cuidado e a preservação do meio ambiente.

Títulos de Oberdan Cattani:

Seleção Paulista

Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais: 1941 e 1942

Palmeiras

Campeonato Paulista: 1942, 1944, 1947 e 1950
Taça Cidade de São Paulo: 1946, 1950 e 1951
Torneio Rio-São Paulo: 1951
Mundial Interclubes (Copa Rio Internacional): 1951

Você pode ler os outros perfis aqui:

Bellini e Waldir Pagan Peres

Texto: Leandro Olovics – laoalves@prefeitura.sp.gov.br

Fotos: Site Oficial da Confederação Brasileira de Futebol, Clube Atlético Juventus e Sociedade Esportiva Palmeiras

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