Você sabe o que faz verdadeiramente um biólogo?


Como você aproveitou este fim de semana? Se reservou esse tempinho para estar em contato com a natureza, com certeza precisa saber que existe um biólogo por trás de toda a beleza de fauna e flora dos parques municipais visitados. Nada mais justo que, nesta segunda-feira (3), prestar-lhes uma homenagem, já que é comemorado o Dia Nacional do Biólogo. Aqui, na Secretaria do Verde e do meio Ambiente (SVMA), diversos profissionais possuem essa formação, mas 79 deles atuam na área.

Esses dedicados biólogos e biólogas cuidam principalmente da preservação dos parques da cidade, por meio de diversas ações como educação ambiental e trabalho em campo. Luccas Longo (foto abaixo) é gestor da Área de Proteção Ambiental (APA) Capivari-Monos, primeira unidade de uso sustentável do município, criada para assegurar a sustentabilidade na utilização dos recursos naturais para a cidade. Ele também colabora na gestão de outras Unidades de Conservação (UC), como o Projeto de Observação de Aves no Parque Natural Fazenda do Carmo, na Zona Leste.

“Acredito que já tenha nascido biólogo, pelo prazer de estar em contato com a natureza e pela curiosidade em aprender tudo sobre ela, em especial sobre os animais”, relembra. Essa paixão pela natureza, claro, teve um “empurrão” do avô materno, agrônomo, ambientalista e naturalista. Longo acredita que, diante de um cenário de mudanças climáticas, extinção de animais silvestres e escassez de recursos, o biólogo seja o profissional capaz de promover desenvolvimento científico, tecnológico e humanístico para garantir a proteção à vida de toda biodiversidade.

A bióloga Miriam Helena Bueno Falótico (foto abaixo) é outra apaixonada “de infância” pela carreira abraçada, nas visitas às praias do litoral sul paulista e aos parques e praças de São Paulo. Ela trabalha na Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura da Paz (UMAPAZ) com o desenvolvimento de cursos e projetos na área de educação ambiental. “Foram esses meus contatos iniciais com o ambiente natural que me marcaram profundamente, pela diversidade de cores e formas e também por uma série de espaços importantes para o brincar. Acredito que esse primeiro contato com o ambiente natural pode ter despertado o meu interesse pelas ciências biológicas”, recorda.

Desafios
A preocupação com a questão ambiental e com os danos causados pelo homem à natureza sempre foram uma preocupação para Fabio Biazoto, diretor do Parque do Carmo. Ele abraçou a profissão justamente pelos desafios que ela representava. O maior: ser um “guardião” da vida no planeta, frase da qual se recorda ainda de sua colação de grau. “Mostrar à população a importância do biólogo como profissional em todas as atribuições que lhe competem, além de ser esse ‘guardião’ da vida no planeta, e tentar levar conhecimento a todos os níveis da sociedade para uma convivência mais sustentável e em harmonia com o meio ambiente, são os grandes desafios da profissão”, explica.

“O pior dos problemas é a desigualdade, que traz consigo miséria e fome, e, com isso, todos os problemas ambientais que vemos. Até mesmo os que não percebemos no nosso dia a dia estão relacionados à poluição sonora e visual”, opina Camila de Oliveira Praim, coordenadora de Parques Municipais, sobre atuar como bióloga na capital paulista. Ela havia atuado em um laboratório de diagnóstico molecular, mas a certeza da escolha pela biologia surgiu quando iniciou um estágio no Parque Vila dos Remédios; um mundo de possibilidades parecia se abrir a ela, com educação ambiental, monitoria e rotina do parque.

Esse apego à natureza também fisgou a bióloga Maria Amélia de Carvalho (foto acima), que atua nos processos de registro, reabilitação e soltura de animais silvestres do Departamento de Fauna da SVMA. Ela destaca ser fundamental que o biólogo goste muito do que faz para provocar a mudança de hábito nas pessoas, ponto de vista compartilhado por Luccas Longo. “Como conciliar desenvolvimento e proteção da biodiversidade? Só de forma coletiva e com a presença humana. Conservação é isso. Essa é a pergunta que tentamos responder no dia a dia por meio de nossas ações na gestão das Unidades de Conservação Municipais”, explica.

Um desafio, segundo Miriam Falótico, que abrange todas as áreas da cidade. “O biólogo, que tem formação na área da conservação de sistemas naturais, tem por desafio pensar a cidade como um organismo vivo, que clama por áreas verdes funcionais. Não somente com função estética, mas que incorpore as funções ecológicas também, para o bem-viver de sua população. Nós, biólogos, precisamos transpor a cultura de que o ambiente construído não deve incorporar o verde, que deve ser somente o concreto, o cinza”.

Estereótipos e atuação
Um profissional aventureiro, desvendando a natureza com roupas de trekking em trabalho de campo, ou alguém de jaleco branco num laboratório? Há muitos estereótipos para a profissão, sem dúvida. Para quem já testou os conhecimentos de um biólogo, perguntando a origem de algum animal diferente, Luccas alerta: biólogos não saem da graduação sabendo classificar todo ser vivo: “Isso dependerá da área de atuação, do seu esforço e interesse individuais”.

Dentre os setores possíveis, Miriam cita a análise de impacto ambiental, como consultor; a microbiologia, em indústrias farmacêuticas; a esfera pública, em unidades de conservação; a pesquisa, em institutos ou fundações ligadas a conservação; em áreas específicas, como ecologia, botânica ou zoologia; e, por último, na docência, podendo lecionar desde o fundamental até o superior, com competência para ministrar várias disciplinas, conforme a área de especialização.

Na profissão, Camila Praim (foto acima) destaca a multidisciplinaridade, pois é possível interagir no dia a dia com advogados, engenheiros, arquitetos e muitos outros atuantes de diversas áreas. “Infelizmente, as pessoas ainda olham o biólogo como aquele que só pensa em abraçar árvores e olhar passarinhos. Na verdade, cada biólogo, em sua área de atuação, olha e pensa em todos os sistemas complexos juntos, desde nós humanos até a fauna e a flora. Pode atuar em pesquisas, desenvolver vacinas ou analisar o DNA e suas moléculas, presentes no núcleo das células de todos os seres vivos, ou em obras, pensando e propondo soluções para reverter os impactos e danos ao meio ambiente”, exemplifica.

Conhecer a história, a grade de atuação e o papel desse profissional e saber que o curso pode ampliar os pontos de vista da carreira são as dicas de Luccas para os que querem abraçar a Biologia. Porém, mais que pensar em mercado, o biólogo lembra que é preciso haver prazer dentro da profissão escolhida. Fabio Biazoto (foto acima) acrescenta que dedicação e curiosidade são fundamentais ao perfil do biólogo, a quem ele descreve como “um profissional idealista e inquieto, sempre tentando explicar tudo o que acontece à sua volta”.