Carta da Terra encerra formação da 12ª turma com debate sobre Educação Integral

Baseado no pensamento de integração dos colégios com os agentes sociais locais, as palestrantes focaram na formação de redes e parcerias para promover mudanças no âmbito escolar.

Na dia 14 de julho, o Carta da Terra em Ação promoveu mais um debate, que encerrou o ciclo de formação da 12ª turma do programa. Realizada na sede da Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz (UMAPAZ), o tema principal da discussão foi Educação Integral nas escolas municipais, com foco na ideia de que escola e sociedade precisam formar uma nova rede de parcerias e transformações. O encontro contou com três convidadas: a diretora da Fundação SM, Maria do Pilar Lacerda, a diretora da Escola Municipal do Ensino Fundamental Amorim Lima, Ana Elise e a diretora de Projetos Especiais da Diretoria Regional de Educação (DRE) do Butantã, Andrea Tolentino.

Primeiramente, é importante destacar que a mudança na escola começa pela mudança na sociedade. Não podemos simplesmente pensar os colégios e sistemas de ensino fora do contexto da cidade como um todo. As duas coisas se integram. Maria do Pilar Lacerda destacou que o processo de modificação escolar começa no território. A escola está inserida na sociedade, onde o modelo atual de aprendizagem é legitimado pelo histórico do ensino brasileiro, que segue as mesmas diretrizes e disciplinas desde o século XX. Para que o ambiente escolar mude, é necessário dialogar com os cidadãos do entorno, respeitando a identidade local de cada equipamento público. Quando a comunidade civil está inserida na escola, novos debates e novas propostas são formuladas e as iniciativas sociais dos bairros são levadas e potencializadas dentro dos colégios.

Pensar outro modelo disciplinar, onde os alunos aprendam fora da sala de aula é fundamental. A vivência empírica, ou seja, conquistada a partir da observação e imersão física nos lugares, ajuda na formação e na aprendizagem das crianças e jovens. Integrar atividades escolares em parques municipais, por exemplo, é uma maneira efetiva de incentivar os questionamentos sobre a cidade.

Diretora da DRE Butantã, Andrea Tolentino, salientou a necessidade de integrar a escola com a comunidade, trazendo iniciativas culturais e esportivas do território para o âmbito escolar, formando uma rede de ensino que transcende a sala de aula. Andrea destacou a união entre secretarias e órgãos municipais, que detém a capacidade de mapear as ações que já acontecem nos bairros, fazendo uma ponte entre as instituições escolares e as intervenções sociais. O trabalho conjunto entre secretarias, como da saúde, do verde e do meio ambiente e da educação, abrem um enorme leque de possibilidades d para os jovens, integrando professores de diversas áreas e com diferentes maneiras de ver o mundo. Tomando a integração como medida básica e permanente, a educação integral vira uma possibilidade real, onde os alunos usufruem das estruturas da cidade para fazer esportes, discutir novas possibilidades e aprender sobre a cidade após o horário letivo.

Saindo da teoria e entrando na realidade, podemos citar exemplos reais que já ocorrem na cidade de São Paulo. O projeto Ocupe a Praça, criado a partir da organização de agentes da sociedade civil, tem como objetivo levar para parques e praças públicas ciclos de debates e intervenções culturais, sempre voltados para questão da emancipação das minorias e na humanização da sociedade como um todo. A integração deste projeto com os colégios, levando a iniciativa para dentro das escolas e, de outro lado, levando os alunos para ocupar os lugares que lhes pertencem dentro da cidade, culmina em uma nova interação, incentivando os jovens a circularem e conhecerem sua região. 

Por fim, é importantíssimo destacar escolas que já incorporaram as diretrizes da integração territorial e estão dando andamento no processo de mudança, tanto no ensino, quanto em novas propostas disciplinares. A EMEF Amorim Lima, representada por sua Diretora, Ana Elise, abriu o colégio para comunidade. Iniciando o processo com a participação efetiva das mães, o Amorim Lima fez uma reforma estrutural. Quebrando as paredes das salas de aula, ação simbólica que mostra a importância de enfraquecer também as barreiras do pensamento vigente, a instituição criou uma nova dinâmica de aprendizado, onde alunos de vários anos diferentes aprendem juntos. A integração entre os alunos de diferentes idades também é uma ótima ferramenta para que os jovens se integrem e pensem juntos.

Compartilhar aprendizados de maneira humana também foi uma conquista da Instituição. Aulas de dança, música e circo foram acopladas à uma nova disciplina do colégio, denominada Cultura Brasileira. A partir daí, projetos e agentes culturais da comunidade do Butantã, onde a escola fica sediada, passaram a fazer parte do dia a dia do ensino das crianças e dos professores. Cursos técnicos, ministrados por pais voluntários, site e blog do colégio, feito por comunicadores do bairro e festas na escola, organizadas e produzidas também pelos moradores, são formas reais de integração.

Portanto, para você que não é ligado diretamente a uma instituição pública de ensino, não se sinta fora do processo. Fazer parte da rede de agentes transformadores, procurando os movimentos sociais e se integrando a eles, é a melhor maneira de começar a promover a mudança tão necessária. Pesquise, procure e faça parte. Assim, você ajuda São Paulo a crescer socialmente e se humanizar cada vez mais.