Ex-atleta do Centro Olímpico nocauteia as dificuldades e é exemplo de superação

Jefferson Loiola, o “Loia”, mostra como o boxe pode formar cidadãos

“- Abaixo o queixo ! (socos são dados)
- Vai cabeçudo, abaixa o queixo se não vai tomar. O troféu Orelha vai ser seu essa semana”.

É nesse tom de descontração que até hoje Messias Gomes, técnico experiente de boxe do Centro Olímpico, incentiva os atletas a atingirem o melhor desempenho nos treinamentos. E são essas frases que Jefferson Oliveira Loiola, popularmente conhecido como “Loia”, lembra-se de como o treinador motivava os alunos a se proteger dos golpes dos adversários, sempre destacando um a receber o Troféu Orelha, prêmio para aquele que “recebeu” o maior número de socos na semana.

Jefferson é um exemplo de como o esporte pode mudar a vida e inspirar sonho de crianças. Desde os 13 anos, o menino do Capão Redondo sempre teve o sonho de lutar, defender o país em uma competição internacional. Só não sabia como ainda.

Começou praticando Kung Fu em Santo Amaro. Mas logo seu professor percebeu que suas habilidades vinham das mãos, da força que tinha com elas. Foi assim que Loia entrou para o boxe. E também foi assim que conheceu uma pessoa, que mal sabia, seria extremamente importante em para sua vida: o mestre e professor Messias Gomes.

“Quando conheci o Jefferson, ele era um pouco revoltado [risos]. Queria lutar de qualquer jeito, mas ainda não estava estudando. Por isso, combinei que ele poderia frequentar os treinamentos desde que estive matriculado em uma escola. Ai ele voltou a estudar”, relembra Messias.

Por conta das constantes mudanças do pai que o garoto dificilmente se estabilizava em algum colégio. Mas pela vontade de lutar e aprender o boxe, Jefferson continuou estudando e treinando. Sempre dedicado e talentoso, o pequeno talento começou a se destacar, ganhando o primeiro campeonato em 1993, o da Associação Biquíni-Boxe do Centro Olímpico.

O garoto, agora com 17 anos, brilhava cada vez mais nos ringues. Em 1997, o boxeador chegou a todas as finais, dando uma amostra do que as pessoas poderiam aguardar dele no futuro. “Nesse ano também foi que meu pai teve que se mudar novamente, só que para Campinas. Com a ajuda do professor Messias, consegui arranjar um lugarzinho para ficar em São Paulo, enquanto treinava e trabalhava”, conta Loia.

A permanência na capital paulista rendeu grandiosas conquistas. Jefferson foi simplesmente campeão de todos os torneios que disputou no ano seguinte. A então promessa começava a virar realidade. O boxeador agora fora chamado para integrar a Seleção Brasileira, tudo isso em meio sua entrada na na faculdade, para cursar educação física.

Com as vitórias vieram às cobranças. Loia não conseguiu classificação no primeiro Pré-Olímpico que disputou, mas foi no segundo que uma briga separou o então “padrinho” Messias do “afilhado” Jefferson. Na época do torneio, a mãe de Jefferson sofria com um câncer de mama, que se generalizou para os ossos e outras partes do corpo. O ex-atleta fala que ao receber a ligação da esposa, retornou imediatamente para o Brasil. “Muitas pessoas entenderam que eu tinha voltado por conta da minha esposa. Por isso, acabei me desentendendo com o Messias, que acreditava que o Pré Olímpico era minha grande chance e acabamos não nos falando mais”, relata.

Contudo, a trajetória de ambos voltaria a se encontrar. Depois do desentendimento, Loia começou a treinar pelo São Caetano. Contudo, nas seletivas para o Sulamericano, Jefferson percebeu o interesse do técnico do clube. Em sua luta contra um cubano, o então treinador do boxeador mandava-o atacar incessantemente o adversário, estratégia que estava fazendo Jefferson perder a luta. Só que Messias estava na arquibancada. Os dois contaram a reportagem da SEME como aconteceu a luta:

“Para alguns dos meus melhores alunos, eu passo alguns códigos para orientá-los no momento das lutas. Jefferson era um deles e ao vê-lo perdendo aquela luta, comecei a gritar esses códigos, para que ele pudesse virar a luta, já que a tática do treinador estava o prejudicando”, diz Messias.

“Assim que percebi que o técnico [do São Caetano] não estava interessado na minha vitória, comecei a ouvir os gritos do Messias. No final, acabei virando a luta e ganhando por mais de 30 pontos de diferença. Assim que desci do ringue, abracei-o e voltamos a nos falar”, lembra Jefferson.

Jefferson acabou fazendo apenas uma luta como profissional em sua carreira, na qual a ganhou por pontos. Entretanto o que mais impressiona não os seus 46 nocautes. O nocaute mais importante de sua vida foi contra todas as dificuldades que apareceram e ele soube superá-las.

Atualmente, o aluno virou professor. Treina uma das mais conceituadas academias de boxe e possui um projeto no Capão Redondo que beneficia 60 crianças, com aulas das mais variadas lutas. E o que aprendeu com isso tudo?

“Meu mestre, professor Messias, sempre nos ensinou que devemos formar cidadãos antes de atletas. É isso que devemos passar para a criançada hoje em dia. A vida é como uma luta de boxe mesmo. Sem estratégia, esforço e dedicação, não podemos vencê-la”, filosofa Jefferson.

Com 32 anos, ele apenas espera que o esporte amador no Brasil tenha mais investimentos. E agradece a todos, do Messias ao Marcão do Centro Olímpico, por tudo que realizaram em sua vida. O gongo tocou, mas a luta continua para essa humilde e esforçada pessoa que superou tudo e hoje é um cidadão por completo.

Texto:
Leandro Carrasco-  lcarrasco@prefeitura.sp.gov.br

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