O bom filho a casa torna

Chocolate, boxeador e medalhista Pan-Americano, visita Centro Olímpico

Joedison de Jesus Teixeira, baiano nascido em Salvador no dia 28 de janeiro de 1994, filho de Joceval Lima Teixeira e Elizabete Conceição de Jesus; começou a treinar boxe aos 11 anos no Centro Esportivo Santo Amaro e, um ano e meio depois, o professor Messias Gomes trouxe o jovem atleta para o Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa (COTP). “Eu percebi que o Joedison tinha potencial e tinha que investir na carreira”, afirmou Messias que atualmente comanda os treinamentos dos boxeadores no COTP e é diretor técnico da Federação Paulista de Boxe.

Hoje aos 21 anos, Chocolate como é conhecido no meio esportivo, conquistou na semana passada a medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, no Canadá. Ele perdeu para o cubano Yasnier Toledo nas semifinais da categoria meio-médio-ligeiro (até 64 kg). Em 2012, nas Olimpíadas de Londres, na Inglaterra, o cubano ganhou a medalha de bronze.

Atualmente Joedison que é 3º sargento da Marinha e é atleta integrante do Programa Olímpico da Marinha (PROLIM) já se prepara para novos desafios e o principal deles é garantir uma vaga na equipe que vai disputar as Olimpíadas do Rio de Janeiro no ano que vem. Na manhã desta quinta-feira, Chocolate veio visitar o local onde tudo começou e rever os amigos. Em especial o seu mestre, o técnico Messias Gomes. 

1. Como você começou a treinar boxe?

Comecei a treinar através do meu pai, que já era atleta da modalidade. Ele sempre quis que eu fizesse boxe, mas eu nunca gostei da modalidade. Eu achava que boxe era esporte de doido, ficar tomando porrada na cabeça. Mas eu sempre gostei de ver o estilo de luta dele.
Ele fez uma luta que quis parar de lutar, após a última derrota dele no amador. Para incentivar ele, eu comecei a treinar boxe. E acabei pegando o gosto. 

2. Desde quando você treina no COTP?

Eu tinha 11 anos quando comecei a treinar no Centro Esportivo Municipal Joerg Bruder. Eu vim para o Centro Olímpico um ano e meio depois, em 2006, com 12 anos, através do professor Messias Gomes.

3. Qual é o seu ídolo no esporte? Você se espelha nele?

Os caras no esporte que eu sempre me espelhei desde o começo são Roy Jones e o Muhammad Ali.

4. Quais foram os seus títulos conquistados até agora?

Fora a medalha dos Jogos (Toronto 2015), eu conquistei título nos jogos Mundiais de Combate, fui campeão no festival Pan-Americano, ano passado; no Campeonato Europeu; no Pan-Americano Juvenil e campeão no Sul-Americano - Adulto.

5. Qual é a sensação de integrar a equipe que disputou o Pan em Toronto?

A primeira vez em Vila Olímpica é uma oportunidade única. Fui para as Olimpíadas como atleta sparring, porém eu não fiquei na Vila, mas sim no espaço do time Brasil, que foram alguns atletas para ajudar como reserva.
Ficar na Vila é uma sensação única, ter vários atletas de renome. O coração batia forte.

6. Como era o dia a dia na Vila Olímpica?

Estávamos focados no treino, então a gente acordava às 6h e tomava café e às 8h ia para o treino. Depois eu descansava um pouco, almoçava e voltava a treinar. Íamos dormir por volta das 22 horas.
Após os treinos da tarde, a gente jantava e tinha um tempo para conhecer outros atletas e ir à sala de jogos.

7. Você acha que pode integrar a equipe que participará das Olimpíadas Rio2016?

Eu sou titular da seleção brasileira. No dia catorze de agosto eu viajo para a Venezuela, aonde vou disputar um Torneio que classifica para o Mundial, no Catar, e que garante uma vaga para as Olimpíadas. Eu estou bem confiante na classificação.

8. Qual é a sensação de conquistar a medalha no Pan 2015?

Quando eu ganhei a minha primeira luta do atleta mexicano Raul Curiel, o meu próximo adversário era o cubano Yasnier Toledo nas semifinais da categoria meio-médio-ligeiro (até 64 kg). Os dois boxeadores já tinham vaga para a Olimpíada do Rio de Janeiro.
Então, quando eu passei o primeiro obstáculo que seria ele (o Raul), foi uma emoção que não coube no peito. Eu tive que gritar “Aqui é Brasil”. Já liguei pra galera todinha: vamos buscar o ouro.
Na última luta que foi a semifinal, procurei dar o meu melhor, tanto que lutei de igual a igual. Tanto que muitos me aplaudiram lá. Aqui no Brasil todo mundo me mandou mensagem “pô, pra mim você tinha ganhado”. Foi uma luta muito párea, eu acredito que foi um detalhezinho simples. Até o momento da vitória, ele (o cubano) ficou surpreso. Ele sentiu que foi uma luta bem disputada.
E isso me motivou mais, me deixou mais confiante para as próximas competições.

9. No mundo do boxe, todo mundo te conhece como Chocolate. Qual é o motivo desse apelido?

O Messias Gomes me deu esse apelido. Desde o começo ele falou que eu era parecido tanto na aparência e na parte técnica com o lutador cubano Kid Chocolate. No começo era Kid Chocolate, mas a galera me apelidou mais por Chocolate.

10. Neste ano, com a participação de mais de 40 países no Pan em Toronto, quem era o principal adversário do Brasil na disputa pela medalha?

O cubano era o principal adversário no meu caso, pois o atleta é o primeiro do mundo.

11. Qual é o seu treinamento diário para participar dessas competições?

No Rio de Janeiro eu fico 24 horas no quartel da Marinha. Aqui em São Paulo eu tenho meus pais, eles moram no bairro do Grajaú, na zona sul, e minha rotina muda um pouco. Aqui eu consigo treinar e ter tempo para a minha família e amigos de infância.

12. Como é voltar no COTP depois de conquistar o bronze em Toronto?

Quando eu cheguei ao COTP comecei ver as minhas fotos. O Messias guarda muitos quadros aqui. Isso me faz parar e pensar no que eu já passei. Minha rotina sempre foi tirar peso para lutar. Eu lembro até de um campeonato, onde a gente tinha que tirar peso e lutar duas horas depois, com um tempo muito curto de descanso.
Rever os quadros me faz pensar no que eu já passei para chegar aonde cheguei. Então é uma emoção, pois eu nunca me esqueci do Messias e acredito que a experiência que ele teve comigo, ele repassa para o pessoal que treina hoje.

13. Você já pensou em desistir do boxe?

Já, eu inclusive gravei um vídeo relatando isso. Há oito anos eu pensei em desistir do boxe por que eu precisava ganhar dinheiro para ajudar em casa. Eu nunca tinha lutado, nem feito nada, mas o Messias não deixou. Ele me ajudou, incentivou a continuar e acreditou, antes de qualquer pessoa, que eu tinha potencial.

14. Você está estudando?

Eu terminei o ensino médio e atualmente foco só no curso inglês. Mas, quando eu tiver um tempo reservado, pretendo fazer engenharia civil.

15. Você já pensou sobre aonde o Boxe pode te levar?

Nunca pensei aonde o boxe pode me levar, mas eu sempre sou grato pra onde ele me levou.

Veja mais fotos através do link: www.flickr.com/photos/secretariadeesportes

Texto:
Carlinhos Araujo: acaraujo@prefeitura.sp.gov.br
Fabiana Rosa: frosasilva@prefeitura.sp.gov.br

Foto:
Francisco Pinheiro: fbpinheiro@prefeitura.sp.gov.br