De Alameda Javry à Rua Javari – o estádio do Juventus na Mooca

O estádio e o clube mais tradicionais da capital paulista

Falar de futebol na cidade de São Paulo é falar de Clube Atlético Juventus. O time mais emblemático do futebol paulistano reside na zona leste, mais precisamente no bairro da Mooca.

A Mooca abriga desde o dia 26 de abril de 1925 o estádio Conde Rodolfo Crespi, conhecido por todos como o estádio da Rua Javari, inaugurado em 11 de novembro de 1929. Mas há quem diga que não é o bairro que abriga o estádio, e sim o inverso. “A Javari não é um estádio, não é só um Templo... É um lar, o lar de todos os Mooquenses!”, afirma com todas as letras o juventino, estudante de jornalismo e morador da saudosa Mooca, Caio Henrique de Oliveira Tiago, de 18 anos.

Orra meu, o começo de tudo!

A história começa na fábrica de manufatura de tecidos da Família Crespi e seus dois times de futebol de várzea: o Extra São Paulo F.C., e o Cavalheiro Crespi F.C. Da união dos dois times, surgiu o Cotonifício Rodolfo Crespi F.C. em 20 de abril de 1924, mantendo as cores do Extra e a sede social do Cavalheiro, na Rua dos Trilhos, no antigo nº 42.

O dono da fábrica de tecidos, o imigrante italiano Cavalheiro Rodolfo Crespi, em um gesto de profunda gratidão, deu ao clube que carregava o nome de sua família e de sua fábrica, um espaço para que o futebol, que nessa época começava a se popularizar na cidade, pudesse ser jogado em melhores condições. O terreno cedido pelo Cavalheiro, que era usado como cocheira de cavalos, era amplo e estava situado na Alameda Javry, nº 117 – hoje Rua Javari. Naquele momento, mesmo que ainda não existisse, o Clube Atlético Juventus já era um pequeno bebê, dando seus primeiros passos.

O papel do Conde Rodolfo Crespi na história do Juve

Simplesmente, o nome mais influente do clube, cedeu o espaço para jogo, que hoje é o estádio da Rua Javari. Antes de ser Juventus, o clube levava o nome do Conde, e se o Cotonifício Rodolfo Crespi se tornou Clube Atlético Juventus, foi por influência do Conde. Em uma assembleia realizada buscando melhorias para o clube, para que o futebol se tornasse algo muito mais sério do que já era ali, foi decidido que o nome da agremiação seria mudado, bem como suas cores.

O Conde Rodolfo Crespi havia feito uma viagem à sua terra natal, Itália, e lá acompanhou uma partida de futebol entre Juventus e Torino, jogo conhecido como o Clássico de Turim. Encantado com a peleja e com os dois times, ele deu a ideia de homenagear esses dois clubes na nova agremiação que estava para ser criada da zona leste de São Paulo. Juntaram o nome do Juventus Football Club, e as cores grená do Torino Football Club. Nasceu de vez, no dia 19 de fevereiro de 1930, por intermédio do Conde, o Clube Atlético Juventus.

Rodolfo Enrico Crespi foi um dos maiores industriários paulistanos do século XX, e o sucesso do italiano em terras tupiniquins rendeu a ele duas honrarias do Rei da Itália na época, Vítor Emanuel II: em 1907 recebeu o título de Cavalheiro pela Ordem de Mérito do Trabalho e em 1928, recebeu o título de Conde. Sua esposa era a Condessa Marina, e eles juntos tiveram quatro filhos: os Condes Raul, Dino e Adriano, e a Condessa Renata. O filho Adriano Crespi seguiu os passos do pai no Juventus, e foi o segundo presidente da história do clube.

Todos esses feitos tornaram o Conde Rodolfo Crespi um ídolo do clube e da torcida. Eterno e imortalizado. Além de ter sido o primeiro presente do Juve, ele ganhou o título de Presidente Honorário Perpétuo, e o estádio do time leva o seu nome: Estádio Conde Rodolfo Crespi, o Templo da Rua Javari.

Meu, que estádio é esse!

Com aproximadamente 15 mil metros quadrados de área, o ‘Complexo Juventino’ conta com uma lanchonete, um estacionamento que comporta 40 automóveis, vinte quartos, cozinha, refeitório, sala de televisão, quadra de futsal, academia, secretaria do departamento de futebol, ambulatório médico, espaço para a imprensa, e espaço para deficientes físicos com banheiro privativo.

Passou por três grandes reformas, a primeira em 2006 quando houve melhorias do gramado, dos alojamentos dos jogadores profissionais e da base, e foi construída uma garagem para ônibus e veículos do time visitante. Para a torcida adversária, foram feitos banheiros femininos e instaladas grades de proteção. Para oferecer mais conforto ao torcedor grená, foram instalados assentos estofados na tribuna de honra, assentos grenás e brancos na arquibancada coberta, piso no estacionamento, placar eletrônico, e ampliação do sistema de som.

A segunda reforma, no ano de 2010 foi tanto no estádio como nos alojamentos. Instalação de novas telhas, retirada de infiltrações, pintura, reforma de alambrado, instalação de corrimãos e troca em parte do gramado.

Visando a participação do Clube na Série A2 do Campeonato Paulista de 2013, foi feita a terceira grande reforma, para atender as exigências feitas pela Federação Paulista de Futebol e o Estatuto do Torcedor. O gramado e estádio passaram por reformas, bem como o alojamento dos profissionais, buscando um maior conforto de toda a comissão técnica.

E o endereço do estádio? Convido você, leitor, a reler o título desse texto. Claro, se for realmente necessário.

O gol do Rei na Javari – Quem viu, viu! Quem não viu, nunca mais, mano!

De acordo com o site oficial do Juventus, as dimensões do campo da Javari são de 105 metros de comprimento por 69,30 de largura. O estádio tem capacidade para quatro mil pessoas. Já registrou a presença de 15 mil, em uma derrota do Juve por 3 a 1 para o Corinthians no longínquo ano de 1941. Porém, no dia 2 de agosto de 1959, em um jogo contra o Santos, a Javari teve o maior público de sua história. Não há um número oficial de torcedores presentes, mas podem ter sido 50, 100, 150 mil pessoas. O bairro todo da Mooca no estádio? Claro, por que não? Qualquer mooquense dessa época que se preze, diz que estava no jogo, e viu o Rei Pelé marcar o gol mais bonito de sua carreira. Isso gera milhares de histórias, que contribuem para o folclore que é esse gol, esse clube e esse bairro.

Infelizmente, o gol de Pelé que é considerado por ele como o mais bonito de sua carreira, não tem nenhum registro em vídeo. Somente fotografias, reprodução computadorizada, e as histórias de quem viu o lance no estádio.

O contexto do jogo: Campeonato Paulista de 1959, Juventus x Santos na Rua Javari. O Santos de Pelé vencia por 3x0, o Rei já havia marcado duas vezes, e mesmo com a vantagem ampla no placar, Pelé estava irritado. A torcida da casa o xingava sempre que tocava na bola, por conta de uma dividida com o juventino Pando, que quebrou a perna. Então Pelé pediu para que os torcedores grenás tivessem calma.

Aos 40 minutos do segundo tempo, o camisa 10 recebeu cruzamento do lateral Dorval, e o que viria a seguir era mais um capítulo épico da história do futebol. O Rei aplicou três chapéus seguidos: no zagueiro Homero e no zagueiro Clóvis, que falhou em ajudar o companheiro da defesa. O goleiro Mão de Onça se adiantou tentando parar Pelé e também acabou chapelado. Antes da bola cair, Pelé cabeceou para as redes e em um desabafo, comemorou dando socos no ar. Comemoração essa que se tornou sua marca registrada.

Para o documentário ‘Pelé Eterno’ de 2004, dirigido por Aníbal Massaini Neto, foi feita em computador uma animação que tenta mostrar do modo mais fiel possível, como foi o gol de Pelé que rendeu ao Rei uma placa e um busto no estádio da Rua Javari.

A Mooca por um Mooquense; o Juventus por um Juventino

O estudante Caio Henrique de Oliveira Tiago, contou sobre a emoção de ir ao jogos na Javari, o orgulho de ser da Mooca, e a importância do clube para o bairro que respira Juventus. Caio conta que aquele estádio faz o juventino se sentir poderoso, crente de que ali o Juventus pode ganhar de qualquer time. Não é só confiança, é a certeza de que uma hora um milagre vai acontecer. O jovem torcedor também destaca o sentimento de família entre torcedor e clube: “A Javari é tão importante pro Juventino que se ele não for aos jogos e ele sabe que fez falta, porque torcedor de time grande não faz falta.

Caio mantém a esperança no Juventus, e explica isso com o apelido do time: “Juventus é o Moleque Travesso porque é o pequeno que sempre deu trabalho para o grande. Então tem condições de ser campeão paulista! Se dá trabalho para os grandes, logo, para os pequenos também vai dar! Ser Campeão Paulista é o maior sonho de qualquer juventino”.

Ele também acrescenta a criação do Movimento ‘Ódio Eterno ao Futebol Moderno’. O movimento foi criado por conta de um projeto que existe de derrubar o estádio da Rua Javari e construir no lugar uma Arena Multiuso. Ideia totalmente incabível para Caio e os demais torcedores do time grená. “A gente não quer! A Javari é um templo, um monumento histórico pra todo mundo da Mooca, meu. É um orgulho pra gente ter um clube com estádio no nosso bairro. Eles querem acabar com a nossa casa, mas a gente não vai deixar.

Para encerrar, Caio também relata o clima de família e de união entre clube, torcedor, estádio e bairro. Um quarteto que forma um só clube, do qual a Javari é o seu principal jogador, porque é ela que faz tudo acontecer. “A torcida é o clube. Se você fala ‘sou juventino’, você não é só um torcedor, você já é parte do clube. E se a torcida é o clube, o craque dele é a Javari, ela que decide, ela é a nossa camisa 10.

A primeira arte do Moleque Travesso

Em 1930, o Juventus disputava pela primeira vez na sua história a elite do Campeonato Paulista. Era o maior desafio do clube desde que foi criado em 1924. Isso significava ter que enfrentar Ypiranga, Germânia, Santos, São Paulo, Palestra Itália e Corinthians. O último foi o campeão paulista na ocasião, enquanto o Juventus foi apenas o décimo colocado. Mas uma partida entre esses dois times mudou o jeito dos ‘grandes’ olharem para o Juve.

No dia 14 de setembro daquele ano, Corinthians e Juventus se enfrentaram no estádio do Parque São Jorge. O Juventus surpreendeu a todos, e venceu o alvinegro por 2x1. Então, o repórter do jornal A Gazeta, Thomaz Mazzoni, apelidou o clube carinhosamente de ‘Moleque Travesso’, por aprontar para cima dos grandes clubes da capital e do estado. Até hoje o Juventus é chamado assim, e tem o Moleque Travesso como mascote.

Thomaz Mazzoni foi um jornalista esportivo que ficou famoso por dar apelidos aos times de São Paulo. Além do Juventus, Mazzoni transformou o Palmeiras em ‘Campeoníssimo’, o São Paulo no ‘Clube da Fé’, o Corinthians no ‘Timão e Mosqueteiro’ e o XV de Piracicaba no ‘Nhô Quim’. O repórter foi imortalizado e seu nome batiza o Centro Esportivo Thomaz Mazzoni, da Secretaria de Esportes, Lazer e Recreação (SEME), localizado no bairro da Vila Maria, zona norte da capital.

Ser juventino é ser de fato, paulistano

Por ser tão família, e por ser tão pequeno, o Juventus acabou se tornando o segundo time de muita gente por São Paulo. É o caso de Caíque Silva (19 anos) e Lucas Ribeiro (21 anos). Os dois são amigos, e compartilham do mesmo carinho pelo Juventus. O primeiro trabalha na Mooca, porém mora na região do Anália Franco e é palmeirense desde antes de nascer. Já Lucas é de Santo Amaro, zona sul da capital, e é corintiano roxo.

Caíque conta como é torcer pelo Moleque mesmo já tendo um clube de coração. Para o palmeirense, para se sentir juventino e sentir a paixão grená, basta conviver na Mooca. Como trabalha no bairro, testemunha todos os dias o amor que esse povo tem pelo clube, e como é presente o sentimento de união, e de posse do Juventus. “É quase um patriotismo. Cada morador dali cuida do clube como se fosse dele, sua propriedade. E essa paixão que eles nos mostram é contagiante.” Caíque também destaca a sensação de estar na Javari e presenciar essa ‘paixão contagiante’ de perto: “Ver o quanto o torcedor juventino é apaixonado, é simplesmente impagável. Mesmo sendo pequeno, a torcida faz o Juventus gigante”.

Já Lucas, exalta a importância de preservar a história do clube, e do estádio principalmente. O jovem tem um blog chamado Futebol é Coisa Séria, que cobre os jogos de futebol da várzea paulistana. E no começo do blog, ele quis ir atrás das histórias da várzea. E como o Juventus começou como um time varzeano, não pôde deixar de ir à Javari, e foi aí que nasceu o carinho pelo time da Mooca. “Quando fui até a zona leste, o Juventus tinha acabado de ser rebaixado para a Série A3 do Paulista, e mesmo assim a relação do clube com os moradores era muito forte. Por conta desse sentimento é que é importante preservar esses clubes tradicionais da capital, principalmente o Juve, que já bateu tantas vezes no meu Corinthians!

Títulos importantes conquistados pelo Juventus no futebol

1934 – Campeão Estadual da Liga Amadora (LAF)
1971 – Campeão do Torneio Paulistinha
1983 – Campeão Brasileiro da Série B
1985 – Campeão da Taça São Paulo de Futebol Juniores
2005 – Campeão Paulista da Série A2
2007 – Campeão da Copa Federação Paulista de Futebol

Final da Série Prata da Copa SP 14

No próximo sábado, dia 11 de abril, mais um capítulo da história desse estádio será escrito. As quatro seleções das subprefeituras de Sapopemba, Jaçanã/Tremembé, Cidade Ademar e Butantã vão pelejar na Javari. As duas primeiras jogam pelo terceiro lugar da Série Prata, às 14h. E às 15h, a bola vai rolar para Cidade Ademar e Butantã, valendo o título da Série Prata da Copa SP 14. A molecada é boa, e vão jogar em um estádio que é um verdadeiro monumento. Compareça, venha prestigiar, tirar fotos e vibrar. Isso é Rua Javari, isso é Copa SP 14!

Texto: Leandro Olovics - laoalves@prefeitura.sp.gov.br

Apoio: Caio Henrique de Oliveira Tiago, Caíque Silva, Lucas Ribeiro, e equipe de imprensa do Clube Atlético Juventus

Fotos: Francisco Pinheiro - fbpinheiro@prefeitura.sp.gov.br, Leandro Olovics – laoalves@prefeitura.sp.gov.br, Stephanie Frasson - sbffranco@prefeitura.sp.gov.br, arquivo pessoal/Caio Henrique de Oliveira Tiago, equipe de imprensa e Site Oficial do Clube Atlético Juventus

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