Mulheres no esporte: falta divulgação e sobra preconceito

Conheça o trabalho do Centro Olímpico, opção diferenciada para mulheres que desejam praticar esporte em São Paulo

Elas não aparecem muito. Essa questão é antiga e isso ainda é normal na sociedade em que vivemos. Geralmente, na vida corriqueira, elas passam por diversas situações que as remetem ao preconceito. Preconceito que elas podem julgar como vão, porque hoje as mulheres assumem qualquer posição em qualquer camada da sociedade.

Em pleno século 21, época em que as pessoas respeitam e estão acostumadas com diversas situações, o esporte praticado por mulheres ainda é tabu. O Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa aposta no trabalho de atletas mulheres e ajuda a preencher a lacuna de quem procura a prática regular e profissional do esporte. Conheça o trabalho de algumas atletas mulheres que formam times fortes no estado e país.

No futebol

A Ester Pereira sabe que preconceito não é raro na sociedade quando se trata da mulher no esporte. Paulista de 23 anos, joga futebol desde os 9. O pai dela tinha o sonho de ter um filho que fosse jogador profissional de futebol, mas por questões diversas e adversas ela assumiu o posto. Não deixou de ser o orgulho do pai só porque é uma menina que joga futebol. E, mesmo expondo suas habilidades técnicas e práticas no esporte, há quem diga que atividade de mulher é segurar uma colher, e etc.

Atualmente, joga no time adulto do Centro Olímpico Futebol Feminino, de São Paulo. Quando vai entrar em campo prende o cabelo e tira os brincos, mas aposta na baby look, no blush, lápis nos olhos, batom e, principalmente, nos pés as chuteiras cor de rosa.

Dizem por aí que o Brasil é o país do futebol, mas a Ester esclarece essa afirmação: “Existe uma cultura de rejeição nos esportes praticados pelas mulheres. O Brasil tem raízes fortes e visíveis em relação a isso. O futebol ajuda a quebrar preconceitos. E precisamos usar o futebol como arma para quebrar o preconceito contra a mulher no esporte. O Brasil é conhecido como o país do futebol sim, o masculino. Só. Aqui falta o apoio das empresas, dos governos, e uma divulgação melhor. Tem gente que dá a desculpa de que o futebol feminino não dá o mesmo retorno que o masculino. Mas se ninguém mostrar, como poderão conhecer para falar se possui retorno ou não? O futebol não tem um clube que seja só de mulheres. Se cada jogador, por exemplo, adotasse uma jogadora ou um time feminino, a história começaria a mudar, porque com o dinheiro que eles ganham mudaria essa situação”, desabafa a atleta.

O Centro Olímpico Futebol Feminino é um dos poucos clubes que levam a sério a prática do esporte, ainda mais em equipes femininas. O treinador auxiliar do clube, Rodrigo Iglesias, que trabalha com as meninas há cinco anos, diz que o trabalho realizado com as atletas vai muito além do preparo físico, e trabalhar com atletas mulheres é gratificante. “A personalidade da mulher é muito diferente. Elas são mais disciplinadas. Aqui trabalhamos não só o atleta na sua modalidade, mas também perfil psicológico, pessoal e de cidadão. Para as meninas que ainda estudam, temos todo o cuidado com as notas e presenças na escola. E isso é de extrema importância. O preconceito, infelizmente, ainda acontece, mas injustamente porque conheço muita atleta mulher que joga muito melhor que atleta homem”, conta.

No basquete

Em São Paulo os times de basquete feminino também passam longe de serem divulgados. E isso quando existem times femininos. A Alessandra Ferreira, que tem 12 anos de idade, e joga desde os 8, diz que sempre enfrentou dificuldade. O único clube que ela viu a possibilidade de jogar, foi no Centro Olímpico, onde joga na categoria sub-12. “A minha única e melhor opção foi o Centro Olímpico. Mas, realmente faltam times, divulgação e pessoas compromissadas com o esporte. A prática esportiva é muito importante, porque aprendemos de tudo, como, por exemplo, ser sociável, a ser disciplinado na vida e na escola, além das amizades que levamos também”, diz.

Vânia Paulette, supervisora e técnica da categoria sub-14 e do time adulto de basquete do Centro Olímpico, onde trabalha há mais de 20 anos, diz que esse trabalho é pouco conhecido. “Falta acessibilidade. Aqui em São Paulo só o nosso clube tem tradição no basquete feminino. E aqui preparamos os atletas para o campeonato estadual. Oferecemos aos atletas o cuidado por psicólogos, nutricionistas, educadores e técnicos. Trabalhamos toda a formação dos atletas para que possamos obter o alto rendimento. Visamos a entrada nas nossas equipes de competição e, claro, para a seleção brasileira também. Já tivemos meninas que saíram daqui e chegaram lá. Esse é um sentimento de trabalho realizado".

Na luta

“Luta e mulher não combinam!”, foi o que Lucimar Medeiros ouviu a vida inteira. Ela soma mais de dez títulos, entre brasileiros, pan-americanos e estaduais. Além de praticar luta olímpica, ela também é supervisora e treinadora da modalidade no Centro Olímpico, onde trabalha há sete anos. “A luta olímpica é pouco divulgada, e as pessoas esquecem que mulheres podem lutar, a luta feminina é pouco divulgada. Isso não acontece apenas aqui no estado de São Paulo, é no país inteiro. Isso acontece também nas outras modalidades. A luta olímpica feminina está ganhando muitas medalhas, mas além dessas medalhas, ela também oferece outros benefícios como o condicionamento físico, disciplina, habilidade social”, conta.

Outra atleta que também está sendo reconhecida e já disputou mais de oito títulos é a Daniele Brandão, de 20 anos de idade. Ela diz que luta é vista como tabu para as mulheres. “A luta é vista como esporte para homens. Esse é um preconceito que precisa ser quebrado. Esse papo de que mulher que luta tem trejeitos masculinos é puro preconceito. Qualquer esporte só tem a somar para uma pessoa. Por causa da falta de divulgação, as pessoas não sabem o quanto essa luta é importante no mundo. Essa modalidade está trazendo muitos títulos para o Brasil, títulos que não tínhamos tanto no masculino quanto no feminino. Precisa de divulgação”, declara a atleta.

Com esses e tantos outros exemplos de atletas mulheres que conquistam a vida e diversos títulos, seria justo elas continuarem sendo intituladas como o sexo frágil? Estranho e retórico tentar responder essa questão. Os fatos de preconceito continuam óbvios. Ainda existem aqueles que rotulam alguém dizendo não ter capacidade para fazer isso ou aquilo. E, principalmente apenas pelo fato de ser mulher. Isso nos serve para deixar claro que todo preconceito é injusto.


Texto
: Quézia Amorim
Fotos: Arquivo SEME