Requalificação dos Calçadões

 

A requalificação da área central da cidade prevê a reforma das áreas destinadas exclusivamente a pedestres – os chamados calçadões.

O objetivo é construir um sistema de espaços públicos para todos, a par de suas características pessoais, idade ou habilidade, funcionando como corredor de transporte peatonal e interligando os diferentes modais de transporte (ciclovias, metrô e ônibus). Deve-se dar destaque e visibilidade às áreas integrantes do patrimônio histórico, cultural e artístico existentes, criar meios de manter e expandir as atividades econômicas instaladas, especialmente nos setores ligados à educação, cultura, lazer e entretenimento e, finalmente, contribuir para reforçar a identidade do centro histórico de São Paulo, promovendo a valorização do contexto local e suas várias formas de uso.

 

 

PREMISSAS

1. Valorização local
Transformação do uso e da qualidade dos espaços públicos da área central

A intervenção nos calçadões nas áreas centrais, com a substituição do piso e a implantação de iluminação e mobiliário urbano, qualifica um espaço de utilização intensa pela população, possibilitando novos usos do espaço, reforçando a identificação com a área central e sua valorização como coração da cidade.


2. Acessibilidade universal
Implantação de condições de acesso a todas as pessoas

A definição de um pavimento adequado, a revisão de aspectos geométricos e o atendimento às normas atuais, no que tange às inclinações longitudinais e transversais, e aos vãos entre grelhas por exemplo, permitirá um percurso acessível sem interferências por toda a área dos calçadões. A qualificação das bordas e as conexões com as demais calçadas, ruas e praças, formará um circuito completamente acessível em toda a área central.


3. Valorização do patrimônio
Padronização da paisagem urbana e valorização do patrimônio cultural do Centro.

Ao contemplar passeios acessíveis e confortáveis, prover espaços de estar e descanso e vegetação quando for possível, a intervenção na área dos calçadões melhora toda a ambiência da região e contribui para dar maior destaque e visibilidade ao patrimônio histórico, incentivando melhor interação entre público e patrimônio.


4. Qualificação da manutenção das redes subterrâneas
Qualificação no processo de intervenção e manutenção das redes e da microdrenagem

A manutenção das redes de infraestrutura, que na área central já são subterrâneas, promove algum tipo de intervenção no piso quase diariamente. A nova requalificação dos calçadões deve prever uma forma de intervenção mais eficiente e organizada das redes subterrâneas. O projeto de microdrenagem superficial deve ter as mesmas premissas, promovendo intervenções mais qualificadas.


5. Facilitação da rede logística
Oferta de estrutura logística de fornecimento de cargas e bens de consumo e logística reversa.

Ao implantar maior controle no acesso e organizar a coleta de resíduos, a intervenção prevê, em conjunto com outras secretarias, a reorganização da logística de abastecimento e de coleta.

 

 

ESTRATÉGIAS

1. Novo piso
O modelo de piso em blocos de concreto foi desenvolvido em parceria com a ABCP ( Associação Brasileira de Cimento Portland) com a premissa de garantir a preservação das suas características ao longo do tempo. Por isso, a alta espessura e a resistência à grande carga pontual. Propriedades fotocalíticas reagem às manchas e odores, permitindo a conservação da aparência ao longo do tempo. Seu manuseio é feito através da retirada dos blocos, e não de quebra, evitando assim obras de manutenção malfeitas. Além do dimensionamento correto do material para o piso, é necessário o correto dimensionamento da base e sub base, sempre definido a partir do conhecimento e análise do solo existente.

2. Piso tátil
Instalação de linha de piso tátil ao longo das linhas de drenagem. Além da superfície lisa e contínua proporcionada pelo piso em blocos de concreto, a utilização do piso tátil nas vias dos calçadões, alinhado à linha de drenagem, proporcionará um caminhar seguro para deficientes visuais e pessoas com baixa visão. A utilização do piso tátil estampado nas peças de concreto, permite a manutenção da qualidade do pavimento e a uniformidade estética.

3. Projeto e ordenação de tampas metálicas
As tampas serão ocultas e alinhadas ao piso proposto. As existentes deverão ser substituídas por tampas com requadro em ferro fundido e preenchidas na parte superior com concreto, com altura mínima de 6cm. A resistência do conjunto deve ser a mesma dos blocos do piso. Os requadros externos deverão estar encaixados nos alinhamentos do piso. As novas tampas deverão ter travas anti-vandalismo. Qualquer tipo de dobradiça deverá ficar dentro do requadro externo.

4. Calha técnica
A utilização de calha técnica organizando redes de infraestrutura similares. A implantação da obra nos calçadões cria a oportunidade de limpeza, manutenção e renovação das redes de infraestrura subterrâneas. Também é o momento de propormos a utilização de calha técnica, permitindo a reunião de infraestrutura de características similares (no caso as redes de telefonia e lógica por exemplo) em uma mesma calha com o compartilhamento de poços de visitas monitorados.

5. Drenagem superficial
O projeto prevê a utilização de geometria e inclinações eficientes e a implantação de canal “oculto” linear, em praticamente toda a extensão das vias. Este modelo permite o escoamento imediato e garante lâmina dágua mínima no período crítico de chuva. Caixas de inspeção e limpeza a cada 20m aproximadamente. O material possui baixa rugosidade, evitando acúmulo e resíduos e entupimentos. As ligações prediais serão remanejadas para as caixas de limpeza. Nas caixas é que também serão instaladas as ligações com a rede existente, que será vistoriada e limpa, recuperando sua capacidade original.

6. Implantação de mobiliário urbano e Arborização
A implantação de mobiliário robusto e em quantidade apropriada, requalificando o espaço e protegendo a arborização que será implantada em locais específicos. A implementação de mobiliário urbano, em quantidade adequada, sem excessos ou escassez, permitirá uma qualificação no uso deste espaço, com áreas de descanso e contemplação.

 

 

RESULTADOS ESPERADOS

A partir das estratégias apresentadas, pretende-se dotar o espaço dos calçadões de uma ambiência mais gentil e convidativa, cuja fruição seja mais prazerosa. A qualidade espacial é fundamental e é composta tanto de aspectos estéticos como técnicos. No que tange à organização e aparência das vias de pedestres, o que se pretende como transformação está resumido no quadro abaixo.

 

 

 

DIAGNÓSTICO

Para entender o uso e funcionamento dos calçadões nos dias atuais, a equipe da SP Urbanismo saiu a campo para uma série de levantamento de dados quantitativos e qualitativos, utilizando uma metodologia composta de alguns estudos já experimentados em outros lugares e situações.

Uma das metodologias utilizadas para análise das calçadas foi o estudo “Active Design: Shaping the Sidewalk Experience”, elaborado pela Prefeitura de Nova Iorque. Esta metodologia enfatiza o desenho de perspectivas que representem a experiência do pedestre ao caminhar por essas calçadas. Cada um dos 4 planos que compõem essa perspectiva (plano do piso, da via, do edifício e da cobertura) são desenhados separadamente, habilitando um olhar mais atento e crítico dos elementos que os compõem.

Outro estudo utilizado foi a observação da qualidade urbana a partir de 12 critérios propostos pelo urbanista Jan Gehl, sintetizados nos temas: Proteção, Conforto e Prazer. Os temas envolvem a avaliação da atuação dos poderes públicos, a presença ou ausência de equipamentos e a escala dos elementos conformadores do espaço público. A presença de fachadas ativas também foi verificada quanto à quantidade e qualidade, em notas de A a E.

Por fim, vários levantamentos quantitativos foram realizados, tais como o numero de usuários nos diferentes horários, de bicicletas e veículos, as características de iluminação, a quantidade de lixo, numero de tampas, etc.

Fichas sintetizam parâmetros obtidos em campo e facilitam a compreensão – e comparação – dos elementos que caracterizam as calçadas avaliadas, qualitativa e quantitativamente.

 

 

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Fichas preenchidas pela equipe

 

 

HISTÓRICO

Os Calçadões do Centro surgiram no início da década de 1970 como resposta a uma nova dinâmica que a cidade havia implantado: o transporte de alta capacidade. A crescente demanda pela circulação de pessoas, pelo comércio especializado e pelo farto patrimônio cultural, ensejou a transformação das ruas tradicionais de seu Centro em ruas exclusivas para pedestres, ou melhor, a transformação do espaço destinado ao automóvel em um espaço de livre público. Essa nova condição permitiu uma valorização e qualificação dos usos cotidianos da região e uma circulação confortável com áreas de estar, espaços de sombra durante o dia e boa iluminação à noite.

O Metrô no Centro trouxe com ele uma lógica de cidade voltada ao usuário do transporte, onde os acessos a essa região estariam concentrados ao longo das diversas estações. Primeiro com a linha 1 nas estações Liberdade, Sé e São Bento e depois com a linha 3, na República, Anhangabaú e Parque D. Pedro. Em conjunto foram pensados edifícios-garagem, que poderiam receber os automóveis a essa região por um novo sistema de circulação viária: a Rótula e a Contra-Rótula. A garagem da Praça Roosevelt e do Terminal Bandeira são dois exemplos deste sistema.

 

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Rua Senador Paulo Egídio, 1977