Encontro de gerações: jovens e idosos constroem laços na rede socioassistencial

Iniciativa de serviços para crianças e adolescentes e para a terceira idade na zona leste traz novas perspectivas para atendidos

Jovens e idosos jogam damas em mesa no CDI Penha

Texto e Fotos: Anderson Paiva

 

Em ação conjunta do Centro Dia para Idoso (CDI) “Penha” e do Centro para Crianças e Adolescentes (CCA) “Gotas de Esperança”, ambos localizados na região da Penha, zona leste da capital, idosos e jovens passaram a conviver e criar laços. O encontro intergeracional une os grupos em torno de práticas que estimulam a convivência, o cuidado e a troca de conhecimentos, como oficinas de jogos e atividades musicais.

A coordenadora do CCA, Fernanda Santos, cultivava o desejo de implantar uma atividade que integrasse os jovens usuários do serviço, que atende 120 crianças e adolescentes nos períodos da manhã e tarde, juntamente a acolhidos de outro equipamento. Entretanto, ela não sabia a quem sugerir a parceria, até chegar ao CDI “Penha”, serviço que atende até 36 idosos que passam da manhã até o fim da tarde no local, com acompanhamento de equipe multidisciplinar.

Fernanda encontrou o equipamento durante visita a família de um dos atendidos pelo CCA - procedimento padrão de acompanhamento familiar realizado por essa tipologia de atendimento. O CDI estava há poucas quadras de distância, então ela decidiu procurar a gerente do serviço, Elisangela Barbosa, e propor a ideia de uma atividade conjunta.

O acordo aconteceu de bate-pronto e, na sexta-feira seguinte, ocorreu uma atividade teste. Ao todo, 11 crianças e adolescentes visitaram o serviço para idosos e realizaram uma oficina de jogos juntamente aos atendidos, exercício estimulante para ambas as idades por estimular a cognição, a paciência e a interação. A ação deu tão certo que, a partir dali, os encontros tornaram-se fixos, todas as sextas-feiras à tarde, com a participação de um grupo de jovens do CCA.

Segundo Fernanda, os jovens disputam para serem escolhidos a integrarem o grupo que irá ao CDI. “As crianças e adolescentes adoram a atividade e pedem para estar no grupo que faz a visita. Nós fazemos um revezamento para que todos tenham a chance de vir”, explica.

Muitas das crianças e adolescentes do serviço foram criadas por seus avós, e parte delas tiveram esse vínculo quebrado com a perda deste ente, sobretudo por decorrência da pandemia de Covid-19. Além do impacto imediato da relação entre diferentes gerações, que dá aos atendidos a chance de trazer ou reaver os cuidados e vivências nesse ambiente, o encontro também permite que os idosos se coloquem novamente na posição de cuidado e transmissão de aprendizados na qual estiveram em outros momentos da vida.

Murilo Zouain, psicólogo do Centro Dia para Idoso, destaca justamente o reencontro dos mais velhos com a experiência do zelar pelo próximo. “Eles já passaram da fase de cuidar para fase de ser cuidado, e aqui eles reencontram a possibilidade de ajudar, de cuidar, apoiar esses jovens. Eles comentam, após as atividades, que ensinaram algo às crianças, e isso traz para eles novamente essa sensação de voltar a viver a prática de cuidar, de ser o líder, estar à frente do olhar para o outro”, comenta.

O profissional aponta ainda o efeito positivo da atividade na melhora do convívio entre os próprios atendidos do serviço. “Inclusive, entre eles a interação aumentou. Eles começaram a criar laços com outros idosos também após compartilhar a experiência com os mais jovens”, finaliza.

Arte-educador explica para jovens e idosos como usar os chocalhos em atividade musical

Centro Dia para Idoso

O CDI atende aos idosos no âmbito da Coordenação de Proteção Social Especial (CPSE) de alta complexidade e disponibiliza atividades e cuidados pessoais na prevenção da institucionalização e da segregação, além da promoção da inclusão social desse público por meio de ações de acolhida, escuta, informação e orientação. O serviço é destinado à atenção diurna de pessoas idosas em vulnerabilidade social e com grau de dependência, que convivem com suas famílias, porém não dispõem de atendimento em tempo integral no domicílio e necessitam de uma equipe multidisciplinar voltada à atenção e suporte das necessidades dessas pessoas.

A rede socioassistencial da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) disponibiliza 27 CDIs, nas cinco regiões da cidade, que ofertam 810 vagas.

Centro para Crianças e Adolescentes

O CCA tem por objetivo oferecer proteção social à criança e adolescente em situação de vulnerabilidade e risco por meio do desenvolvimento de potencialidades, bem como propiciar a conquista da autonomia, do protagonismo e da cidadania mediante o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários a partir do desenvolvimento de atividades. São atendidas crianças e adolescentes de 6 a 14 anos e onze meses, inclusive com deficiência, de segunda a sexta-feira, pelo período de 8 horas diárias, divididas em dois turnos de 4 horas, nas partes da manhã e da tarde. O serviço tem como foco a constituição de um espaço de convivência baseado nos interesses, demandas e capacidades dessa faixa etária. As intervenções são pautadas em experiências lúdicas, culturais e esportivas como formas de expressão, interação, aprendizagem, sociabilidade e proteção social.

A SMADS disponibiliza, através da rede socioassistencial, 463 CCAs que ofertam mais de 68 mil vagas a crianças e adolescentes nas cinco zonas da capital.