Dona Nadir: Um trabalho social que atravessou gerações

Os esforços e reconhecimento de uma senhora que, desde a década de 90, tem grande importância para a comunidade de Perus

 

Dona Nadir, senhora negra com cabelos brancos e óculos de grau, veste um vestido azul enquanto posa para foto. Ela está na frente de uma parede com  desenho de um menino cadeirante. 

Texto e foto: Guilherme Fernandes

Desde meados dos anos 90, Nadir Balbina da Rocha, 73 anos, conhecida por todos como Dona Nadir, tem-se dedicado ao trabalho na área da Assistência Social. Originária da cidade de Mariana (MG), sua trajetória iniciou-se com a distribuição de santinhos para as eleições de 1994, em uma das casas que visitou. “Foi uma tristeza”, ela inicia o relato, “bati palmas e quando entrei para conversar, a mulher não conseguia sair e deu sinal para que eu entrasse e subisse. Quando eu cheguei lá, ela estava no chão. Como ela não estava se alimentando e não tinha o que comer, as pernas dela não tinham forças para levantar”, relata.

A partir desse dia, Dona Nadir começou a se dedicar ao trabalho social. “Embora sabendo que a educação está em primeiro lugar, eu gosto muito da Assistência. Se tiver educação, mas não tiver Assistência Social, o jovem não chega a lugar nenhum”, comenta.

Dona Nadir é responsável por dez serviços, ligados ao Centro de Apoio Comunitário de Perus, sendo oito deles na área de Assistência Social e dois voltados para Educação. O mais recente é o Centro de Convivência Intergeracional (CCInter) Perus e todos os demais também estão localizados na região norte de São Paulo, nos distritos de Perus, Morro Doce e Cachoeirinha. Ela acredita que é fundamental ajudar as famílias mais carentes a acessar direitos sociais.

As conquistas pessoais e profissionais, no entanto, não vieram sozinhas. Dona Nadir comenta que apesar de não ter recebido ajuda direta de muitas pessoas, recebeu incentivo e apoio moral para não desistir de seus objetivos.

Porém, dentre tantas conquistas, houve momentos de dor e perda. Apesar de todos os esforços de Dona Nadir, a mesma reconhece que é impossível ajudar todos que necessitam. “Todas as tragédias que acompanhei me entristecem muito porque o que eu faço é muito pouco em vista do que as pessoas precisam”, ela comenta em relação às desigualdades sociais e econômicas que vivenciou no país, especialmente a recessão econômica que o Brasil enfrenta desde 2014 e como afetou a população, principalmente em Perus, onde reside e atua desde 1988.

Entretanto, ela jamais se deixou abater por isso. “Eu amo Assistência Social, amo poder ajudar”, afirma. E é o altruísmo e honestidade de Dona Nadir que fazem dela uma mulher tão reconhecida em seu trabalho e pela comunidade de Perus por décadas. “Era muito triste ver aquelas crianças mexendo no lixão para comer restos, hoje Perus é um lugar muito melhor do que já foi”, encerra.