Eliminando o preconceito e agarrando oportunidades

Esmeralda e Larissa lutam diariamente contra a transfobia e correm atrás de seus sonhos



Não são apenas as malas de Esmeralda Marques da Silva, 21 anos, guardadas no canto do quarto, que carregam bagagens e histórias de superação de uma vida cruel e cheia de preconceitos. Seus olhos também indicam que ela está no caminho certo, caminhando para um futuro brilhante e promissor.

Natural de Manaus, Amazonas, Esmeralda veio para São Paulo há cinco meses na tentativa de mudar de vida. ‘’Lá em Manaus, a minha vida era muito complicada. Não tinha muitas condições e também sofria muito preconceito por ser transexual. Não arrumava emprego de jeito nenhum’’, contou.

Mesmo com a determinação para transformar sua vida, ela encontrou dificuldades em seu caminho e se perdeu de vez. ‘’Tudo começou quando eu terminei meu relacionamento aqui em São Paulo. Saí da casa do meu companheiro e fiquei nas ruas por dois meses, foi terrível’'.

Depois disso, Esmeralda ficou um tempo na casa de uma amiga enquanto procurava emprego para conseguir voltar para Manaus. ‘’Era tudo o que eu queria. Precisava sair da rua, conseguir dinheiro e voltar para a casa da minha mãe, mas não conseguia.‘’

Foi aí que ela decidiu sair da capital paulista a qualquer custo. Ficou completamente perdida, sem direção, nas rodovias pedindo carona para que conseguisse ir pra Sorocaba procurar ajuda. E foi.

‘’Fui para Sorocaba por não conhecer nenhum albergue para transexual em São Paulo. Fiquei pensando e procurando o motivo de uma cidade tão grande não ter algum lugar que abrigasse uma pessoa como eu’’, destacou.

Quando já estava em Sorocaba, Esmeralda ficou sabendo de centros de acolhida que atendiam transexuais na cidade de São Paulo.

‘’Primeiro fiquei sabendo do Complexo Boracea. Voltei pra São Paulo, fui até lá e descobri que não tinha vaga. Foi quando me indicaram o Centro de Acolhida Portal do Futuro’’, contou.

No serviço, a manauense conseguiu tirar todos seus documentos e realizar algumas entrevistas de emprego, depois que participou do curso de inserção no mercado de trabalho por meio do Programa Trabalho Novo.

Rapidamente, ela conseguiu um emprego como auxiliar de limpeza no Hospital das Clínicas e se mudou para outro centro de acolhida. ‘’Depois que consegui o emprego, me mudei para o Centro de Acolhida Florescer, onde hoje posso chamar de casa, mesmo que seja provisória’’.

‘’Agora é focar no meu futuro ainda mais. Quero fazer faculdade de administração e ter uma casa própria’’, finalizou.

Das ruas ao progresso

A empolgação de Larissa Laim, 27 anos, ao falar de seu emprego, mostra a gratidão e o orgulho que carrega dentro de si.

Nascida em São Paulo, ela trabalhou nas ruas da capital por falta de oportunidade. ‘’Sem escolhas, me rendi à prostituição. Eu tenho estudo, mas tive que ir pras ruas pra conseguir pagar o aluguel do meu apartamento na Bela Vista’’.

A partir disso, as coisas ficaram cada vez mais difíceis para Larissa, já que estava sem emprego, sem dinheiro e sem rumo. ‘’Foi aí que eu me dei conta que eu precisava de mais dinheiro. Trabalhar nas ruas, além de ser doloroso e péssimo, não me sustentava completamente. Então, comecei a vender algumas coisas minhas’’, afirmou.

Depois desse complicado período, a paulistana descobriu o curso de inserção no mercado de trabalho pelo Programa Trabalho Novo. Mesmo com medo do preconceito, Larissa não se rendeu. ‘’Fiz o curso de qualificação, pois sabia que com ele as coisas poderiam ficar mais fáceis pra mim’’, contou.

Logo, ela descobriu o Centro de Acolhida Florescer. ‘’Assim que eu soube de uma casa que acolhia transexuais, pirei. Soube que havia vaga, então me instalei rapidamente no serviço’’.

Em pouco tempo no serviço, ela foi chamada para algumas entrevistas de emprego. ‘’Depois que eu fui chamada pra algumas entrevistas, passei na Coordenação Regional das Obras de Promoção Humana (CROPH), onde trabalho atualmente como educadora socioeducativa’’, contou.

Com muita alegria e determinação, Larissa finaliza revelando seus planos para o futuro. ‘’Como eu fiz três anos de enfermagem, pretendo fazer alguma faculdade nessa área. Se não der certo, penso também em fazer algo na área social. O meu futuro é querer dar oportunidades para as pessoas, que assim como eu, não tiveram chance de muitas coisas’’.