1 ano de Reencontro no Anhangabaú

No coração da capital, Vila Reencontro promove o fortalecimento de vínculos sociais e afetivos em famílias em situação de rua na busca pela saída qualificada da rede socioassistencial

Imagem de uma criança correndo pela Vila Reencontro Anhangabaú. Ao fundo, a decoração do aniversário em cima de mesas coloridas.

 

Texto: Cristina Coghi
Fotos: Sabrina Pais

A Vila Reencontro Anhangabaú, equipamento da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), garantiu conquistas importantes para os moradores no primeiro ano de existência do serviço.

Atualmente, o equipamento acolhe 40 famílias e todas recebem apoio psicológico, social, educacional e de saúde. Das 102 pessoas que moram na Vila hoje, 50 estão inscritas no Programa Operação Trabalho (POT) da Prefeitura de São Paulo e todas as 43 crianças estão matriculadas e estudando.

Na última sexta-feira (23), moradores e funcionários da Associação Evangélica Beneficente (AEB), Organização da Sociedade Civil (OSC) que administra a Vila, fizeram uma festa no pátio para comemorar o primeiro ano da unidade. Bexigas coloridas decoraram o ambiente, que recebeu ainda uma caixa de som para que todos pudessem cantar e dançar. Foram distribuídos salgadinhos e cachorros-quentes. E, claro, a festa também teve bolo e docinhos.

“Que maravilha! Temos muito o que comemorar. Eu e meus filhos. Aqui, me sinto segura, consigo fazer comida para os meninos, cuidar das nossas coisas e dormir em paz. Os meninos estão na escola! Só estamos prosperando”, comemorou Kátia Regina Semeão, que mora na Vila com os filhos de 5 e 12 anos desde dezembro do ano passado.

Imagem da acolhida Katia Semeão sentada à mesa enquanto cede entrevista. Ela veste uma blusa rosa e uma calça jeans azul. Há três bexigas coloridas de decoração compondo a foto.

Com a bebê Alyce no colo, Kelly Domingos Ferreira também fez questão de participar da confraternização. “Eu comemoro muito pela Vila. Eu não tinha nada e agora tenho onde morar e oportunidades para melhorar nossa condição. Eu já estou fazendo cursos e vou entrar no POT. Vou conquistar minha autonomia. Essa é a ideia”, disse Kelly, que também é mãe de Marcus Aurélio e Norberto, crianças de 10 e 14 anos.

A Vila Reencontro Anhangabaú está sob administração da AEB, Organização da Sociedade Civil com 95 anos de história e larga expertise no trabalho de acolhimento a pessoas em situação de rua.

A gerente do serviço, Camila Cardoso Luz, disse que a Vila vem desenvolvendo parcerias importantes para a melhoria da qualidade dos serviços oferecidos às famílias.

“Temos conseguido equacionar casos graves de saúde em parceria com as unidades de saúde do bairro. De 15 em 15 dias, um assistente em saúde da UBS República vem até a Vila atender as famílias. Duas vezes por semana, temos aqui um mediador de conflitos para conversar com os moradores. A partir de março, teremos uma parceria com a faculdade Mackenzie para estágio de estudantes de psicologia na Vila. E, em parceria com a Secretaria Municipal da Cultura, temos encaminhado nossas crianças para o PIÁ (Programa de Iniciação Artística). Metade dos moradores da Vila está trabalhando no POT e 100% das nossas crianças estão na escola! Temos avançado e, portanto, com muitos motivos para comemorar”, avaliou Camila.

A Vila Reencontro Anhangabaú está instalada em um terreno com mais de 1.900 m², cedido pela Prefeitura à SMADS, na Ladeira da Memória, região central da cidade. A Vila tem 49 unidades modulares, sendo nove para funções administrativas e 40 para moradia. O espaço multiuso tem ainda lavanderia, brinquedoteca, playground e horta.

As unidades têm 18 m² e são equipadas com banheiros e pias e mobiliadas com camas de casal ou beliches e berços, geladeiras, fogões com duas bocas e guarda-roupas.

Diariamente, serão servidos café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar. A Prefeitura investiu, ao todo, R$ 3,4 milhões na instalação dos módulos da Vila Reencontro Anhangabaú.

Imagem do bolo de aniversário da Vila Reencontro Anhangabaú. Há velas vermelhas e enfeites com o logo do Programa Reencontro sobre o bolo, além de uma vela rosa com o número um.

Sobre o Programa Reencontro

O Programa Reencontro prevê a entrega de unidades que serão destinadas prioritariamente a famílias - com ou sem crianças - que estejam utilizando as ruas da cidade como moradia há menos de 36 meses. Cada família deve permanecer entre 12 e 24 meses nas moradias transitórias das Vilas Reencontro. Esse período pode ser estendido de acordo com o acompanhamento da família pela equipe técnica. Além disso, as famílias devem participar de capacitações profissionais e outros atendimentos sociais com o objetivo de ganho de autonomia.

Os critérios de priorização para acolhimento nas moradias transitórias são as informações do CadÚnico, as famílias em que as mulheres são as responsáveis, núcleos familiares que possuam crianças e adolescentes em sua composição.

O projeto possui três eixos de atuação: conexão, cuidado e oportunidade. O primeiro visa a estimular a recriação de vínculos preexistentes e o fortalecimento da rede de apoio. O primeiro elemento de conexão entre o poder público e o indivíduo em situação de rua é a abordagem social, sendo, portanto, um instrumento fundamental de vinculação das pessoas à política pública e às demais etapas e eixos do Programa Reencontro.

Já no segundo eixo, serão oferecidas moradias subsidiadas para aqueles que não possuem renda suficiente, nas seguintes modalidades: locação social, que é o aluguel subsidiado conforme renda; a renda mínima ou o auxílio pecuniário para pessoas sem problemas de drogadição; moradia transitória ou as unidades com alta rotatividade para que se busque evitar o processo de cronificação, promovendo rápido resgate da autonomia.

O eixo oportunidade, por fim, consiste na intermediação de mão de obra e emprego, através da capacitação profissional, da alocação em

Rede Socioassistencial

A Prefeitura de São Paulo possui a maior rede socioassistencial da América Latina que conta, atualmente, com mais de 25 mil vagas de acolhimento para população em situação de rua.

Os Centros de Acolhida (CAs) estão distribuídos em: 77 CAs para adultos; quatro CAs para Mulheres em Situação de Violência; um CA para Gestantes, Mães e Bebês e cinco serviços de Casa Lar. Além destas modalidades, a rede socioassistencial conta também com os Centros de Acolhida Especiais (CAEs), sendo: 27 CAEs para Famílias; 22 CAEs para Idosos; 16 CAEs para Mulheres; quatro Vilas Reencontro, três CAEs para Mulheres Transexuais; dois CAEs para Pessoas em Período de Convalescença; um CAE para Homens Transexuais; uma Unidade de Acolhimento; e um CAE para Mulheres Imigrantes.

Há, ainda, 149 Serviços de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes (SAICAs), 22 Repúblicas e 18 Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs).

Os encaminhamentos para os serviços de acolhimento da rede socioassistencial são realizados através de um dos seis Centros POP existentes na cidade de São Paulo, dos 54 Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), dos 30 Centros de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) ou por meio de abordagens sociais, realizadas pelo Serviço Especializado de Abordagem Social (SEAS).