Após quase quatro anos na rua, Elias supera dificuldades e começa a trabalhar

Programa Trabalho Novo já contratou 1.171 pessoas que estavam em situação de rua


Foto e texto: Bruna Carvalho


Superação, força de vontade e recomeço resumem a etapa que Elias da Silva, 46 anos, está vivendo. “Eu estava no fundo do poço, então enxerguei uma corda para subir e sair dessa situação”, afirma sobre a oportunidade que recebeu por meio do programa Trabalho Novo.

Elias esteve em situação de rua por três anos e oito meses, até que encontrou abrigo no Centro de Acolhida Solidariedade, localizado no Jabaquara, onde está há cerca de um ano.

Empregado há três meses, trabalha no período noturno como auxiliar de jardinagem e passa o dia descansando e auxiliando nas atividades diárias dentro do centro de acolhida. “Aqui sou bem cuidado e tenho todo apoio que preciso. É minha hora de crescer e buscar minha melhora”, disse.

A queda

Elias já foi casado e é pai de seis filhos. Trabalhou a maior parte da vida como padeiro e confeiteiro em grandes padarias da cidade de São Paulo. Para ele, a vida nas ruas era uma realidade praticamente desconhecida. “Eu tinha uma vida muito diferente disso. Vivia com a minha família, pagava meu aluguel e seguia uma vida comum”, declarou.

Após enfrentar o divórcio no casamento, Elias começou a perder o controle da vida. Com o alto consumo de bebida, passou também a consumir drogas. Sem compromisso com horário e presença no trabalho que exercia na época, também perdeu o emprego.

Essas situações levaram Elias para as ruas de São Paulo. “Na rua não existe vida, não existem condições para ser alguém. As pessoas julgam e não existe o respeito. Eu senti isso tudo na pele”, relembrou.

Contou também que no período em que viveu na rua utilizou da reciclagem para conseguir a renda mínima que garantiu a sobrevivência dele. Além disso, tentou buscar ajuda nas grandes padarias em que trabalhou, mas o máximo que conseguia era a doação de alguns pães para saciar a fome.

De acordo com Elias, na rua existem pessoas boas e que não estão lá por opção e sim pela falta de oportunidades para sair dessa situação. “Nesse tempo todo nunca tive uma segunda chance, uma oportunidade como estou tendo no Trabalho Novo”, afirmou.

A ascensão

No tempo em que viveu nas ruas, Seu Elias nunca se esqueceu de quem ele é. E esse é considerado por ele o segredo da sobrevivência nessa situação. Agora, quer provar para ele mesmo que é possível a mudança e a reestruturação de uma vida digna.


Ele recorda que chegou a pesar 46 quilos na rua, e hoje após um ano abrigado está pesando 67. A recuperação do físico e do psicológico é diária. “Eu não me via como um cidadão e hoje estou recuperando isso”, confessou.


Para ele seria impossível a conquista de um novo emprego sem o auxílio da prefeitura. Contou que “não adianta entregar um bom currículo do que você já foi quando você está maltrapilho, ninguém te dá uma chance”.


Elias já passou por uma internação em equipamentos públicos e hoje está livre dos vícios, os próximos objetivos são a conquista da autonomia e de um lugar para morar. “O espaço aqui é maravilhoso, sou muito grato a todos. Mas é uma passagem, quero voltar a ser quem eu era”, declarou.


Contratado 12 dias após a conclusão do curso oferecido pela Rede Cidadã em parceria com a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, ele contou também que planeja fazer outros cursos e subir degrau por degrau nesse remeço. “Agora é o meu momento de crescimento, reflexão e conquista”, completou.