Biblioteca Mário de Andrade promove ciclo de palestras sobre História(s) da arte no Brasil

O primeiro módulo, que tem seu foco no século 19 até a primeira metade do século 20, acontece em novembro. São quatro encontros gratuitos, compostos por duas apresentações de palestrantes convidados de diversas universidades do país.


Após sua reabertura no início do ano, a Biblioteca Mário de Andrade retomou as suas atividades com uma vasta programação. A iniciativa visa dinamizar o acesso do público ao seu acervo, com atividades complementares que despertem curiosidade sobre a cultura em geral. A programação tem o objetivo de estimular a frequência da população ao local, reafirmando assim, o seu papel como centro de pesquisa e reflexão da cidade de São Paulo.

A Sala de Artes da Biblioteca oferece ao público interessado em história da arte, estética, arquitetura, fotografia, cinema, design, moda, um acervo de mais de 37 mil volumes, entre livros, periódicos e catálogos, reunidos a partir dos esforços do crítico de arte Sérgio Milliet, quando dirigiu a Biblioteca nos anos 1940 e 1950.

O ciclo História(s) da Arte no Brasil visa atrair pesquisadores, ajudar na redescoberta de obras e autores e destacar a multiplicidade das formas de afirmação das narrativas sobre a história da arte no Brasil.

Em novembro, o primeiro módulo irá focar no período de um século (1840 a 1940). Entre os temas discutidos, o ponto de partida será a obra de Araújo Porto Alegre e, como marco final, as publicações e atuação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.  

Para o segundo módulo, programado para o primeiro semestre de 2012, o período abordado compreenderá desde a fundação dos primeiros museus de arte moderna, no fim da década de 1940, até as últimas décadas do século passado. Será abordada a institucionalização da história da arte como disciplina acadêmica autônoma, por meio da criação de cursos de pós-graduação em diversas universidades do país.

A curadoria e a mediação do ciclo é de Thiago Gil, graduado em Artes Plásticas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e, atualmente, desenvolve pesquisa de mestrado na mesma universidade.

As palestras são todas gratuitas, acontecem às terças e quintas-feiras, nos dias 8, 10, 22 e 24 de novembro, das 19h às 21h e trazem os seguintes assuntos e palestrantes: Escola brasileira de pintura (com Letícia Squeff e Ana Cavalcanti); Crítica de arte como historiografia (com Vera Lins e Tadeu Chiarelli); Discurso Paulista (com Alexander Gaiotto Miyoshi e Miyoko Makino) e Barroco, nacional, moderno (com Antonio Gilberto Ramos Nogueira e Letícia Julião).

Para Thiago Gil há muitas formas de se instituir uma visão sobre a história da arte. Um livro, um documentário, uma curadoria de exposição, a política de aquisições para um acervo são diferentes maneiras de afirmar a importância de um movimento artístico e de integrar ao sistema artístico objetos que originalmente sequer foram produzidos como arte. “Daí o interesse de abordar, nesse primeiro módulo, algumas instituições importantes, como a Academia Imperial de Belas Artes, a Pinacoteca de São Paulo, o SPHAN. Mostrar como as narrativas da história da arte são construções, que não estão aí para tomarmos conhecimento passivamente, mas sim questioná-las, revisá-las”.

 

Programação

8 nov – terça – 19h às 21h

Escola brasileira de pintura

A proposta deste encontro inaugural é discutir a formação de uma ideia de arte brasileira a partir dos escritos do pintor, historiador e escritor Manuel de Araújo Porto Alegre, um dos primeiros a refletir sobre a história da arte no Brasil, e também a atuação da Academia Imperial de Belas Artes como principal instituição responsável não apenas pela formação de artistas, mas também pela legitimação da produção artística no século 19.

 
Do cume dos Andes ao centro das florestas virgens: Araújo Porto Alegre (1806-79), a escola brasileira e a construção de uma cultura figurativa para o Império
palestra de Leticia Squeff

Entre versões e contradições: historiografia da arte brasileira no século 19
palestra de Ana Cavalcanti

10 nov – quinta – 19h às 21h

Crítica de arte como historiografia

Uma das funções sociais que a crítica de arte pode assumir é a atribuição de valor – positivo, negativo – a uma obra específica ou à trajetória de um artista, num processo que pode levar ao questionamento de ideias e nomes consagrados como intocáveis. Neste encontro, serão discutidas as contribuições de dois intelectuais que atuaram como críticos de arte no fim do século 19 e que, de fora da Academia, procuraram um diálogo com a produção artística, defendendo uma renovação nos debates estéticos do período.

Gonzaga Duque: histórias de literatura e artes plásticas
palestra de Vera Lins

Félix Ferreira e a arte brasileira no século 19
palestra de Tadeu Chiarelli

22 nov – terça – 19h às 21h

Discurso Paulista

Durante um bom tempo, a Semana de Arte Moderna de 1922 projetou sobre a situação das artes no início do século 20 uma sombra que só recentemente vem sendo iluminada. O intuito deste terceiro encontro é contribuir para a reavaliação desse período, relembrando os esforços de figuras como Cesário Motta Junior, idealizador do que viria a ser a Pinacoteca do Estado de São Paulo, e Afonso de Taunay, autor de A Missão Artística de 1816 e diretor do Museu Paulista entre 1917 e 1945.

Primeiros anos da Pinacoteca do Estado: Cesário Motta Júnior e a formação do acervo (1893-1905)
palestra de Alexander Gaiotto Miyoshi

Afonso de Escragnolle Taunay: contribuição para história da arte e a formação da coleção iconográfica do Museu Paulista (1917-1945)
palestra de Miyoko Makino

24 nov – quinta – 19h às 21h

Barroco, nacional, moderno

A arte colonial foi objeto de enorme interesse da geração de intelectuais modernistas, que contribuiu de maneira decisiva para situá-la como um marco na história da arte no Brasil. As esculturas de Aleijadinho e a arquitetura barroca foram vistas como expressões artísticas da alma nacional, surgidas antes da intervenção francesa no ensino artístico oficial. Neste quarto e último encontro se discutirá o pensamento historiográfico de Mário de Andrade e a atuação museológica e editorial do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, criado em 1937.

Mário de Andrade e a arte patrimonial: história e historiografia da arte no Brasil
palestra de Antonio Gilberto Ramos Nogueira

Patrimônio da nação: a brasilidade redesenhada pelo SPHAN
palestra de Letícia Julião

Palestrantes

ALEXANDER GAIOTTO MIYOSHI - Mestre e doutor em história da arte pelo IFCH/Unicamp e pós-doutorando em artes visuais na ECA-USP. Atualmente estuda a história da museologia de arte em instituições brasileiras, em particular da Pinacoteca do Estado de São Paulo e do Museu Paulista nas primeiras décadas do século 20.

ANA CAVALCANTI - Professora de História da Arte na EBA/UFRJ onde atua no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais. É doutora em História da Arte pela Université de Paris 1 Panthéon-Sorbonne, coordena grupo de pesquisa sobre a relação entre crítica e produção artística no século 19 e início do 20 no Brasil. É integrante dos grupos de pesquisa Entresséculos (EBA/UFRJ) e Vanguarda e modernidade nas artes no Brasil e no exterior (Unicamp).

ANTONIO GILBERTO RAMOS NOGUEIRA - Graduado em História pela UNESP/Assis, mestrado e doutorado em História pela PUC/São Paulo. Atualmente é professor do Departamento de História e Coordenador do Programa de Pós Graduação em História Social da Universidade Federal do Ceará. Autor do livro Por um inventário dos sentidos: Mário de Andrade e a concepção de patrimônio e inventário (HUCITEC/FAPESP, 2005) e diversos artigos publicados em revistas acadêmicas. É coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisa em Patrimônio e Memória-UFC/CNPQ.

LETÍCIA JULIÃO - Graduada em História pela UFMG, mestre em Ciência Política e doutora pela mesma instituição. Atualmente é Professora Adjunta do Curso de Museologia da Escola de Ciência da Informação da UFMG. Participa do  projeto História, herança cultural e tempo: conhecimento e imaginário museológico no Brasil.  Publicou, dentre outros, o artigo "O SPHAN e a cultura museológica no Brasil", publicada na Revista Estudos Históricos.

LETICIA SQUEFF - Graduada e mestre em História Social pela FFLCH-/SP, com doutorado em arquitetura e urbanismo pela FAU/USP e pós-doutorado em artes pela IA/UNICAMP. Atualmente é professora de História da Arte Ocidental dos séculos 18 e 19, no curso de História da Arte da UNIFESP e também pesquisadora-colaboradora do IA/UNICAMP. É autora de O Brasil nas Letras de um pintor: Manuel de Araújo Porto Alegre  (Unicamp, 2004) e Uma galeria para o Império: a  “Coleção de Quadros nacionais formando a Escola Brasileira (1879)”  (Edusp, no prelo) e de artigos no Brasil e no exterior sobre arte brasileira e latino-americana.

MIYOKO MAKINO - Graduação em História, especialização em Metodologia de História, mestrado e doutorado em História Social pela USP. É professora doutora do Museu Paulista da USP. Atua na área de História do Brasil, com ênfase em pesquisa iconográfica, nas seguintes áreas: história do Imaginário, pintura histórica, cultura material, artes plásticas e museus. Foi Diretora Técnica da Divisão de Difusão Cultural do Museu Paulista, entre os anos de 1991-2006.

TADEU CHIARELLI - Professor no Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da USP. Entre 1996 e 2000 foi Curador-Chefe do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Em abril de 2010 foi nomeado Diretor do Museu de Arte Contemporânea da USP. É autor de livros sobre História e Crítica de Arte no Brasil, como Um jeca nos vernissages (Edusp, 1995), Arte internacional brasileira (Lemos, 1999) e Pintura não é só Beleza (Letras Contemporâneas, 2007).

VERA LINS - Professora da Faculdade de Letras da UFRJ e pesquisadora do CNPq. Publicou Gonzaga Duque: a estratégia do franco atirador (Tempo brasileiro, 1991), Novos pierrôs, velhos saltimbancos: os escritos de Gonzaga Duque e o final do século 19 carioca (2a. edição EDUERJ, 2009) e Poesia e crítica: uns e outros (SeteLetras, 2005), além de ter reeditado livros de Gonzaga Duque e publicado outros em coautoria.