Rede SUS da capital realiza inédita cirurgia intrauterina

Gestante passou pelo procedimento nesta quinta-feira (24) no Hospital e Maternidade-Escola Vila Nova Cachoeirinha para correção de coluna em seu bebê de 24 semanas

Um procedimento cirúrgico inédito de alta complexidade foi realizado na rede municipal de saúde de São Paulo nesta quinta-feira (24), no Hospital Municipal e Maternidade-Escola Dr. Mário de Moraes Altenfelder Silva - Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte. Uma gestante de 23 anos, grávida do segundo filho, passou pela primeira cirurgia intrauterina no Sistema Único de Saúde (SUS) da capital para correção de coluna no feto por mini-histerotomia.

Thais Coutinho Melo, 23 anos, descobriu em uma consulta do pré-natal na Unidade Básica de Saúde (UBS) próxima à sua casa que o bebê tem mielomeningocele, um defeito de fechamento da coluna. Com o diagnóstico, a gestante foi encaminhada ao Hospital e Maternidade-Escola Vila Nova Cachoeirinha.

"Na hora me assustei, porque nunca tinha ouvido falar [da doença]. Agora [no hospital, prestes a fazer a cirurgia], já estou tranquila. Meu marido também", contou Thais um dia antes de passar pelo procedimento. Ela está na 24ª semana de gestação do bebê Isaac e também é mãe de Ana Clara, de 2 anos.

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Pelo caráter inédito, a cirurgia foi transmitida no anfiteatro do hospital aos alunos da Maternidade-Escola, médicos e enfermeiros da unidade. Também acompanharam a transmissão o prefeito da capital, Ricardo Nunes, e o secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido.

Foto da transmissão da cirurgia. Algumas pessoas estão sentadas de costas em frente a um telão onde o procedimento está sendo transmitido. Do lado esquerdo da foto aparece uma mesa com duas toalhas sobrepostas, uma branca e uma vermelha. O chão e o teto são cinza e as paredes, brancas

Alunos da Maternidade-Escola, médicos e enfermeiros da unidade acompanharam a cirurgia por um telão (Foto: Reprodução)

A cirurgia durou cerca de três horas e foi conduzida pelos obstetras especialistas em medicina fetal Enoch Quinderé de Sá Barreto e Clarice Hideko Yamaguchi. Por meio de um orifício no útero da mãe, os cirurgiões operaram o feto para a correção da mielomeningocele, da mesma forma como o procedimento é feito em recém-nascidos.

“Esse é um dos nossos hospitais mais importantes para o acompanhamento das gestantes na cidade. Um hospital que tem a parte de ensino, com várias universidades que o utilizam como campo de estágio e agora, essa primeira cirurgia vem ao encontro de uma série destas que o SUS na cidade começa a fazer. Embora o município seja responsável apenas pela rede de atenção básica, aqui em São Paulo nós fazemos baixa, média e alta complexidade”, explicou o secretário Edson Aparecido.

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Este tipo de cirurgia é indicado nos fetos que apresentam um defeito chamado disrafia espinhal, comumente conhecida como mielomeningocele e que afeta o fechamento da coluna. Nos bebês que nascem com essa condição, as raízes nervosas ficam alteradas e presas à pele e aos ossos da coluna, prejudicando a inervação dos membros inferiores, intestinos e vias urinárias. Além disso, ocorre uma herniação de parte do cérebro (tronco cerebral) para o canal da medula, o que leva à hidrocefalia (acúmulo de líquido no cérebro).

Mais qualidade de vida
Para a qualidade de vida das crianças, a literatura médica nacional e internacional já demonstra amplos ganhos na área neurológica proporcionados pelo diagnóstico precoce aliado à intervenção intrauterina.

Segundo dados do maior estudo científico realizado até o momento sobre o tratamento da mielomeningocele, o Management of Myelomeningocele Study (MOMs), realizado pelo Centro de Bioestatística da Universidade George Washington, nos Estados Unidos, os bebês operados ainda no útero tiveram melhor desempenho neurológico e menor necessidade de colocação de drenos no cérebro, por causa da hidrocefalia, na comparação com aqueles que passaram pelo procedimento após o nascimento.

Foto da sala de cirurgia. Dois médicos de roupa azul estão operando a paciente, um de cada lado da mesa. Uma pessoa também de azul aparece ao fundo, de costas, e outra pessoa está ajustando um aparelho no alto, do lado esquerdo

Equipe realiza cirurgia intrauterina inédia na rede municipal no Hospital e Maternidade-Escola Vila Nova Cachoeirinha (Reprodução)

Os profissionais do Hospital e Maternidade-Escola Vila Nova Cachoeirinha envolvidos no procedimento - médicos obstetras, neurocirurgiões infantis, anestesistas e intensivistas - foram treinados pela equipe do médico Fabio Peralta, do Hospital e Maternidade Santa Joana/Pro Matre e Hospital do Coração (HCOR). O Hospital e Maternidade Santa Joana também cedeu materiais que foram utilizados na cirurgia.

Pelo ineditismo, a cirurgia realizada pela rede municipal representa mais um passo na qualidade e abrangência do atendimento que a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo (SMS) oferece às mulheres e gestantes. Mesmo na rede particular, a cirurgia intrauterina de correção de mielomeningocele por mini-histerotomia é feita em poucos hospitais da capital.

O Hospital e Maternidade-Escola Vila Nova Cachoeirinha é amplamente conhecido pelos protocolos já estabelecidos baseados nas melhores evidências científicas, pela formação de residentes em ginecologia, obstetrícia e neonatologia e pela excelência do seu quadro de profissionais e da assistência que presta à população. O local atende a uma grande parcela de casos de alto risco envolvendo gestantes.