População negra pede mais oportunidade e igualdade para ingressar no mercado de trabalho

 Por: Regina Ramalho

“Oportunidade, qualificação e mais espaço para a diversidade racial nas empresas e no setor público” foram as principais questões levantadas pelos participantes e palestrantes durante o Seminário de Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial na cidade de São Paulo, promovido pela Prefeitura, por intermédio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho e realizado pelo CAT- Centro de Apoio ao Trabalho.

O evento contou com a presença de cerca de 250 profissionais das áreas de psicologia, serviço social, acadêmicos, advogados, sindicatos, ONGs, empresários, entidades dos setores público e privado e demais interessados.

Na abertura do evento, o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho,  ressaltou que para haver o desenvolvimento é necessária a inclusão da diversidade. “Não se pode menosprezar o potencial de trabalho e inteligência de parte da população por puro preconceito. Para corrigir as consequências de um preconceito histórico é necessário que São Paulo promova ações afirmativas gerando programas específicos que tragam condições, juntamente com o desenvolvimento econômico de criar políticas públicas para construção de uma sociedade mais justa”, salientou.

Já o presidente da Comissão Municipal de Emprego da Cidade de São Paulo e também do Conselho de Administração do São Paulo Confia, Hugo Duarte, anunciou sistema de crédito exclusivo voltado para atender a microempreendimentos encaminhados pelas comunidades negras e ainda ressaltou a necessidade da realização de seminários anuais para discussão da geração de trabalho e renda e concursos públicos como principal porta de entrada para a diversidade racial.

“Em conversa com o secretário Marcos Cintra, o São Paulo Confia reservou R$ 500 mil para motivar a geração e ampliação de incrementos e empreendimentos da população encaminhados pela comunidade negra”, disse Duarte. O sistema vai estar a disposição da população a partir da segunda quinzena de setembro.

O secretário municipal de Participação e Parcerias, Uebe Rezeck, também prestigiou o seminário. “São Paulo é a demonstração que uma megalópole não pode deixar a questão do preconceito reinar pois somos todos irmãos, independentes da cor ou da raça”.

Na sequência, o coordenador geral do Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (Laeser/UFRJ), Marcelo Paixão proferiu palestra chamando toda a sociedade e, principalmente, os setores empresarial e público, para promoção da diversidade. “A sociedade democrática está convocada a contribuir para a construção de um novo quadro social e as estatísticas devem deixar de ser apenas números e constatações”, explica Paixão.

A coordenadora de Assuntos da População Negra (Cone), Maria Aparecida de Laia, explanou sobre o Plano Municipal de Igualdade Social e também sobre o Centro de Referência e Combate ao Racismo, instalado no Pátio do Colégio. “O programa possui ações afirmativas que atuam na valorização da cultura negra, por intermédio dos diálogos regionais, encontros da população negra, valorização das religiões de matrizes africanas, formação da juventude negra, estudos, pesquisas e publicações e promoções da cultura africana e afro-brasileira”, explicou a coordenadora.

O professor da Fundação Getúlio Vargas e sócio diretor da Txai Consultoria e Educação, Reinaldo Bulgarelli, mediou as discussões sobre preconceitos e políticas afirmativas que empresas adotaram. A coordenadora da área de responsabilidade social da Dupont do Brasil, Flávia Zuanazzi, esclareceu que antes da implantação das políticas afirmativas por sua empresa, apenas 1% dos funcionários eram negros.

“Após os treinamentos de sensibilização e a implantação de uma central de apuração sobre o sentimento de discriminação e os investimentos no acesso ao aperfeiçoamento educacional, os números de negros trabalhando no grupo aumentaram para 20%”, conta. A coordenadora acrescenta: “Também foi necessário fazer um trabalho junto aos fornecedores do grupo, solicitando que os mesmos também contassem com trabalhadores negros, deficientes e indígenas”, disse Flavia.

Para o coordenador do Grupo de Afinidade sobre Diversidade Racial do Banco HSBC, Edvaldo Vieira, é necessário fornecer às pessoas vítimas históricas de discriminação, mais que oportunidade, e sim condições iguais de disputar uma vaga.

“Ninguém quer ser tratado como coitadinho”, ressalta. Já o diretor de Relações Institucionais da Integrare - Centro de Integração de Negócio destacou a importância de existirem oportunidades. “O sonho é por conta do negro, mas é necessário dar oportunidade de acesso para trabalho e renda”, explica.

A experiência relatada pela coordenadora do Instituto Feira Preta, Adriana Barbosa, foi pessoal. Adriana começou a trabalhar juntamente com uma amiga como vendedora ambulante depois que ficou desempregada. “Juntas eu e minha amiga percebemos que existia um nicho de mercado para o público negro e resolvemos montar a primeira feira do gênero”, lembra. “Hoje, a feira movimenta um mercado de R$ 25 milhões, já está na décima edição e os visitantes gastam, em média, R$ 100”, conta.

O último painel do seminário foi exposto pela secretária executiva da Faculdade Zumbi do Palmares, Roseli de Oliveira que cobrou mais políticas públicas para a inclusão do negro e falou da herança de princípios que o povo negro deixou para o Brasil. “A cultura negra é muito rica e emprestou ao povo brasileiro uma série de princípios: liberdade, solidariedade, equilíbrio e respeito do homem com a natureza. Gestão de talentos e oportunidades são o que necessitamos. O resto a gente consegue”, frisou Roseli.