Parceria entre Prefeitura e entidade qualifica mulheres vítimas de violência doméstica

Texto: Regina Ramalho

O projeto “Excelência na Hospitalidade”, parceria da Prefeitura de São Paulo, por intermédio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho com a Apaf – Associação Paulista de Apoio à Família qualifica mulheres de baixa renda, oferecendo capacitação profissional na área de hospitalidade. A formatura da primeira turma do projeto acontece no próximo sábado dia 7, a partir das 14h, na sede da entidade, rua Avanhandava, 485, Centro.

Para essa primeira edição, 38 mulheres fizeram inscrição e 28 delas participarão da formatura no sábado. São histórias de mulheres com os mais variados perfis, principalmente, vítimas de violência doméstica.

No projeto, há curso com duração de 200 horas, sendo 4h dia., onde as alunas recebem treinamento teórico e prático nas funções de camareira, garçonete, cozinheira, confeiteira e lavandeira. Após esse período, passam por vivência prática em hotéis e lavaderias da cidade.

Violência doméstica- Duas pessoas, duas nacionalidades, mas com uma história comum a muitas outras mulheres no país: a “violência doméstica”. Segundo dados divulgados pela Fundação Perseu Abramo, em parceria com o Sesc,: a cada dois minutos, cinco mulheres são espancadas no Brasil.

As colegas de curso do Excelência na Hospitalidade, que, por segurança, vamos chamar de Antonia e Ana, fazem parte desta triste estatística.

Quem vê Antonia, toda sorridente, com os cabelos impecavelmente presos em uma redinha e rosto pintado com uma suave maquiagem, nem imagina tudo o que ela já passou. Seu ex-marido tem dependência alcoólica, doença que destrói muitos lares: “As bebedeiras eram o combustível para as agressões morais e físicas, que me forçaram a sair de casa com os meus filhos para uma das Casas de Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência, mantidas pela Prefeitura”, conta. Agora Antonia começa a reorganizar a sua vida. Orientada pelo Cras - Centros de Referência e Atenção às Mulheres que Sofrem Violência Doméstica recebeu o auxílio para custear o aluguel social e a informação sobre o curso.

“Durante as aulas, comecei a recuperar a minha autoestima e a sonhar com um futuro melhor pra mim e para os meus filhos.Tenho certeza que quando acabar o estágio, uma das vagas será minha”, diz.

Com Ana as violências morais e físicas também foram desesperadoras. Estrangeira de visita ao Brasil, Ana se apaixonou pelo país e por um brasileiro. “Vim passear e acabei me casando e ficando no país. Ajudava o meu marido a tocar um pequeno comércio na Região Sul da cidade”, lembra. “Aos poucos sobre o pretexto de cuidar mais dos filhos e da casa, meu marido foi fazendo com que ficasse isolada em casa. Não me deixava trabalhar nem estudar”, desabafa.

Após as privações, começaram também as agressões morais. “Meu marido vivia me menosprezando na frente da família, dos amigos e até dos filhos”, diz. Quando Ana resolveu pedir a separação as coisas pioraram. “Ficamos morando no mesmo terreno, mas em andares diferentes. Ele aproveitava a situação para vigiar todos os meus passos e não importava quantas vezes mudasse o segredo das chaves, ele sempre arrumava uma maneira de copiá-las, entrar quando eu não estava, escondia meus documentos, rasgava minhas roupas e das crianças e chegou até mesmo a amolar uma faca de cozinha como forma de me intimidar”, salienta. “Não vi outra alternativa. Fiz a mala com o que sobrou e fui para rua com os meus filhos”, explica.

Ana também recebeu o apoio da Coordenadoria da Mulher, da Secretaria Municipal de Participação e Parceria. “Finalmente, comecei a realizar o meu sonho de estudar. Agora estou dividindo a casa com uma colega e meus filhos e durante o curso me apaixonei por uma área que nunca tinha pensado em trabalhar: a lavanderia”, destaca.

Drogas- Outra aluna do curso, Manuela teve forte depressão e uso do crack a levaram ao fundo do poço. “Cheguei a ser presa por roubar um aparelho de celular para comprar drogas e vivia a vagar pelas ruas do meu bairro, mesmo grávida de meu segundo filho”, lembra. Após cumprir a pena e do nascimento do filho, Manuela percebeu que precisava mudar de vida. “Não sabia por onde começar. Existe muito preconceito com egressos do sistema penitenciário, ainda mais ex-usuário de drogas”, desabafa. Foi então que Manuela ficou sabendo do curso. “Apesar da distância, não tive dúvidas e fiz minha inscrição”, conta.

Manuela leva quase duas horas de sua residência até o Centro da cidade onde são ministradas as aulas. Surge então mais uma barreira, os gastos com a condução. “Pego três conduções para chegar até aqui e outras três para voltar para casa. Sem o auxílio concedido pela Prefeitura não teria como continuar o curso”, finaliza Manuela.

Inscrições- Há 40 vagas para a próxima turma que inicia no dia 6 de junho e as inscrições já estão abertas. Para participar do projeto, a candidata deve atender ao perfil de beneficiários do POT- Programa Operação Trabalho. Mulheres a partir de 18 anos, com ensino fundamental, desempregadas há no mínimo quatro meses, sem receber seguro desemprego, renda per capita familiar de meio salário mínimo.

Apresentar no ato de inscrição na própria Apaf (rua Avanhandava, 485, Centro, segunda à sexta, das 9h às 15h), cópias do RG, CPF, comprovante de residência e das páginas de identificação e último registro da Carteira Profissional. As beneficiárias do projeto recebem bolsa auxílio no valor de R$ 381,50, concedida pelo POT.