Um recomeço para os alunos do curso Fábrica da Madeira

Texto: Regina Ramalho

A oportunidade de participar de um curso de capacitação, muitas vezes, pode ser a única porta de entrada para um novo começo. Foi o que aconteceu com Willian Sergio Ribeiro, 43 anos, ex-bancário e um dos 31 beneficiários do projeto Fábrica da Madeira, fruto de parceria entre Prefeitura de São Paulo, por intermédio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho e a empresa Leo Madeira.

No último dia 9, Ribeiro e seus colegas receberam certificação para trabalhar no ramo de marcenaria. Após três meses de curso, período em que os estudantes puderam desenvolver atividades teóricas e práticas que depois foram aplicadas na fabricação de móveis, brinquedos e objetos de decoração.

Ribeiro enfrentou problemas profissionais, psicológicos, físicos e familiares tudo ao mesmo tempo e como resultado foi parar onde jamais poderia imaginar: “nas ruas da cidade”. Passou fome, frio, sofreu discriminação, desespero, angústia e as mais diversas formas de violência, chegando até em pensar em suicídio. Mas decidiu buscar ajuda: “Resolvi que a prioridade era sair das ruas e procurar um tratamento de saúde para um quadro depressivo, para só depois pensar em moradia e trabalho”, lembra.

Ribeiro foi para um albergue social e lá, encaminhado para acompanhamento psicológico no CAPs - Centro de Atenção Psicossocial, ambos da Prefeitura de São Paulo. “A psicóloga do CAPs disse que a melhor terapia seria trabalhar, mas como conseguir trabalho com mais de 40 anos e morando em albergue?”, esse era o dilema enfrentado por Ribeiro. “Já havia tentado trabalhar diretamente nas empresas e sabia das dificuldades e discriminações com aqueles que residem em abrigos”, conta.

Mas também foi no albergue que Ribeiro começou a encontrar o caminho para reinserção na sociedade. Em 2008, veio a primeira oportunidade ficou sabendo que poderia participar de cursos gratuitos e também ingressou nas frentes de trabalho, mas sem experiência anterior continuou desempregado.

Foi só em 2010, com os beneficiários do POT- Programa Operação Trabalho, durante o curso do projeto Fábrica da Madeira que Ribeiro começou a mudar sua história. “Já havia feito cursos em outros locais, mas era tudo muito formal”, diz. “Com o professor Gilberto foi diferente, ele dizia: “Vocês são capazes”. A frase e a certeza transmitidas pelo professor, Ribeiro começou a trabalhar nas horas vagas como voluntário na ONG onde funcionam as instalações do curso.

Não demorou muito para surgir o convite e hoje o emprego conseguido proporcionou a coragem que faltava para retomar os laços com a filha. “Montar uma mesa de cozinha para uma família se alimentar, já fazia para mim mais sentido na vida do muito que fiz durante anos nos bancos, ao montar lotes de cheques, borderôs, cadastros, etc”, afirma.

Mais exemplo- Jonathan José de Lima Oliveira, 21 anos, colega de turma de Ribeiro, se tornou pai de dois filhos ainda muito novo. Mora no Grajaú com sua mãe, companheira, filhos e mais dois irmãos. Estudou apenas até a sexta série e nunca tinha trabalhado com carteira assinada. Passava os dias fazendo bicos na comunidade para ajudar a mãe no sustento da família.

Oliveira conta que iniciou o curso de marceneiro por incentivo da mãe, mas não imaginava que fosse gostar da área. A bolsa-auxílio de R$ 357, oferecidos pelo POT, durante o curso, garantiria a contribuição em casa antes obtida com os bicos, enquanto se preparava para alcançar seu objetivo: “emprego”. O sonho se concretizou antes do esperado: “Ainda durante o curso, vendo meu esforço, o próprio pessoal do projeto me indicou para uma vaga numa marcenaria em Interlagos”, lembra. Oliveira foi até o local participou de entrevista e agora está empregado. Faz planos em voltar a estudar e realizar mais cursos na área de marcenaria.

POT- instituído pela Lei nº. 13.178 de 17/09/2001 com nova redação na Lei 13.689 de 19 de dezembro de 2003, o POT- Programa Operação Trabalho é gerenciado pela Supervisão Geral de Qualificação da Semdet e tem por objetivo, atender o munícipe em estado de desemprego, visando estimulá-lo à busca de ocupação, bem como à sua reinserção no mercado de trabalho. O POT atende ao cidadão a partir dos 18 anos de idade, desempregado há mais de quatro meses, não recebe o Seguro Desemprego, cuja renda familiar seja de até ½ salário mínimo per capta (por pessoa) e residente no município de São Paulo há mais de um ano.