Projeto Caoby concilia desenvolvimento comunitário, geração de renda e proteção ambiental

Implantação de canteiros, hortas, agrofloresta, vão agir na revegetação da Represa Guarapiranga

Texto: Isabela Meleiro

O Projeto Caoby, é fruto das secretarias municipais de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho e do Verde e Meio Ambiente, com a ONG SOS Represa Guarapiranga, faz a combinação de empreendimentos econômicos solidários, geração de renda, preservação e recuperação produtiva da bacia da Represa Guarapiranga. De forma conjunta, os beneficiários produzem, consomem e comercializam tudo o que é produzido.

O Caoby é desenvolvido no Sítio Santa Mônica, situado próximo à represa Guarapiranga. O projeto conta com canteiros e hortas, a agrofloresta, contribui na revegetação da represa e ainda é revertido em renda para os beneficiários à longo prazo.

Num galpão, numa tarde de sol, uma roda de conversa, equipe reunida em plena discussão. De forma descontraída, o grupo falava sobre técnicas de plantio, torneado por ferramentas, variedades de sementes, adubo e todo o tipo de material utilizado para o desenvolvimento do projeto.

“Quando você põe uma mudinha pequenina na terra, você precisa fazer a manutenção do solo, pois a muda não pode competir com os matinhos que vão crescendo em volta”, afirma a mediadora da conversa e coordenadora técnica da SOS Represa Guarapiranga, Maria Pia.

De acordo com a coordenadora, com aprendizado técnico, eles podem ter autonomia para viver do trabalho, criar associações para o desenvolvimento solidário e cooperativo, além de se tornarem empreendedores, para fazer uma eficaz gestão do próprio negócio. Ela enfatiza que esta é uma das grandes metas do Projeto Caoby e, possivelmente, seu maior desafio.

De forma orgânica, são cultivados diversos tipos de hortaliças, que variam sua produção de acordo com a época do ano. Há canteiros de folhas (couve, alface, escarola, repolho, etc), raízes (mandioca, cenoura, beterraba, entre outras), flores (couve-flor e brócolis) e frutos (quiabo, pimentão, jiló, etc).

Os beneficiários atuam 6 horas por dia e são capacitados no segmento agrícola, sustentável, tecnológico e agrônomo. Durante a semana, acontece a produção no sítio, e aos finais de semana, das 8 às 15h, em escala, os atuantes se revezam para a venda e entrega destes produtos fora do sítio, com divulgação em toda a comunidade.

O POT – Programa Operação Trabalho, tem por objetivo atender o munícipe de família com baixa renda, que se encontra desempregado, com a intenção estimulá-lo a buscar uma ocupação, reinserindo-o no mercado de trabalho. O trabalho realizado atua na recuperação da dignidade destas pessoas.

Financeiro – O dinheiro arrecadado pelos atuantes no Projeto segue uma lógica de utilização. Primeiro, garante a retirada mínima para ex-beneficiários do POT, que agora caminham sozinhos; segundo, compra insumos, sementes e ferramentas; terceiro, arca com pequenas despesas administrativas; e por fim, o restante é guardado numa poupança coletiva, que, no momento, funciona como fundo de caixa.

Também coordenadora do projeto, Célia Cymbalista, explica que, dos 15 beneficiários iniciais, que recebem um auxílio mensal de R$ 535,50, quatro pessoas encerraram seu contrato pelo POT (válido por até dois anos), e são hoje trabalhadores remunerados no valor de R$ 580,00, pelo próprio Caoby.

Beneficiários – Diretamente, são mais de 20 famílias já contempladas pelo projeto, indiretamente, mais de 500 pessoas, entre comunidade, escolas e organizações, que compram os produtos por um preço acessível. Os moradores da redondeza ainda podem participar dos cursos oferecidos pelo Caoby, de agroecologia e empreendedorismo.

Uma das alunas do projeto, Érika Matias, de 27 anos, conheceu o projeto através do pai, Adalto, beneficiário há um ano e meio. Seu sonho, na verdade, é trabalhar na área de biomedicina. “Desde quando estava no Ensino Médio, tive vontade de fazer vestibular, mas não tive oportunidade”, elucida.

Para Érika, mexer na horta é desestressante, a traz paz interior. “Sou muito nervosa e o projeto está me ajudando a me controlar. Atuo no plantio e na colheita, mas o que me mandarem fazer, eu ‘tô’ fazendo”, completa.

Preservação – O Caoby tem como proposta construir um modelo de restabelecimento ecológico e utilização produtiva de áreas degradadas na bacia da Represa Guarapiranga, de forma que permita sustentabilidade ambiental, social e econômica, associando a produção agroecológica à proteção do meio ambiente.

Esse modelo, bem sucedido, pode ser reaproveitado em qualquer área de fragilidade socioambiental, reforçando os impactos positivos. Ele contribui para evitar o desmatamento e a ocupação predatória de uma área de 300 mil m² (área do sítio), onde há mata em estágio médio de regeneração e três nascentes.

Saúde e participação – A beneficiária Érika Gonçalves Ferreira, de 22 anos, possui o segundo grau completo e afirma já ter ganhado significativa experiência ao longo de seus seis meses no projeto. Atuante na área de finanças, confessa fazer de tudo um pouco, não ficar escolhendo em que campo trabalhar. “É importante a atuação de cada um em todas as áreas”, explica.

O projeto ajudou Érika a ser menos ansiosa e a abandonar os medicamentos. “Hoje eu não preciso mais. Este ambiente está fazendo bem à minha vida”, enfatiza. Seus dois filhos, de 4 e 7 anos, visitam regularmente o sítio e até pedem à mãe para levar pra casa as verduras e legumes cultivados. A mãe, com orgulho, ainda garante que eles não gostam de doces.

Projetos para 2010 – O Caoby ainda tem planos de fundar a Agroindústria Familiar, que vai agregar valor às frutas produzidas no sítio, como a banana. De acordo com Célia, haverá produção de artigos a partir da fruta, que estará com produção em alta, podendo assim, gerar renda para o grupo com produtos como, bananas passa, chips, entre outros.

Ainda pretende-se desenvolver tecnologias sociais, visando saneamento e tratamento de efluentes, além da fabricação de húmus (matéria orgânica em decomposição, que fertiliza a terra). As novidades estão sempre abertas à comunidade, associações, igrejas, não apenas aos atuantes no projeto.

A área de cultivo está sendo ampliada, e com isso, o sistema de irrigação também deverá ser expandido. Novos recursos carecem de ser buscados para a evolução uniforme do projeto. Maria acredita que o tempo está favorável ao cultivo. “Temos boa quantidade de folhas, que já começam a rarear no mercado”, certifica.