Prefeitura de São Paulo humaniza ensino nos cursos do Planteq

Texto: Regina Ramalho

Nos cursos oferecidos pela Prefeitura de São Paulo, por meio da Semdet- Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho no Planteq- Plano Territorial de Qualificação Profissional, em parceria com o governo federal, os alunos de auxiliar de escritório, operador de telemarketing, atendente de lanchonete e vendedor de comércio varejista recebem mais do que capacitação profissional. Os professores deixam de lado a rigidez da grade pedagógica e usam sua criatividade para transmitir o ensinamento aos participantes dos cursos.

O filme “Ao Mestre com Carinho” que nas décadas de 60 e 70 fez muito sucesso, conta a história de um professor que dava aulas para jovens carentes e rebeldes em uma escola pública da periferia de Londres. Usando de firmeza e convicção, o mestre ensinou e auxiliou seus alunos a tomarem as rédeas de seu próprio destino.

Quem assistiu e se emocionou com o clássico, dificilmente imagina que pode esbarrar com um professor com essas características, ainda mais em um curso gratuito oferecido pela Prefeitura de São Paulo. Mas foi exatamente o que aconteceu com duas turmas de alunos da professora do curso de vendedor de comércio varejista, Margareth Kajiyama.

Para ensinar as técnicas de vendas, a professora trabalha questões como custo, estoque, como proceder durante a abordagem dos clientes, utilizado noções de meio ambiente, reciclagem, cidadania e empreendedorismo. “Logo no primeiro dia de aula faço um trato com os alunos e explico 50% é meu e vou fazer o máximo para atingir, mas os outros 50% são deles e eu vou exigir e auxiliar para que cada um alcance a sua porcentagem” explica Margareth. “Outro fator fundamental é respeito mútuo, já que cada estudante traz a sua bagagem, uma vez que temos alunos na faixa dos 16 aos 60 anos e para que a troca seja positiva, necessitam apreender a trabalhar em equipe ainda aqui na sala de aula”, diz.

Relatos dos estudantes - Diego Alves, 17, mora com o pai deficiente visual e tinha dificuldades para acompanhar a turma. “Quando iniciei as aulas achava que era apenas mais um curso. Em razão de precisar cuidar do meu pai, porque não tenho mãe, sempre chegava atrasado e algumas vezes, tive até que faltar. Mas a professora nunca desistiu da gente, mesmo sem saber do meu problema, ela continuava exigindo e estimulando, o que fez com que quisesse apreender tudo que podia, para sair pronto para conquistar o emprego e poder cuidar do meu pai”, afirma o jovem.

O menor T.G.S, de 16 anos, conta que a convivência nos cursos do Planteq mudou a sua vida. “Me inscrevi na intenção de ‘zoar’, mas graças ao auxilio da professora e da turma senti vontade de mudar minha vida. No último Dia dos Pais, falei para a minha ‘feliz dia dos pais’ (pois o meu pai nos deixou) e disse à ela da minha decisão de fazer tudo diferente de agora em diante”, explica.

D.S também de 16 anos, foi morador de rua, viciado e preso por tráfico de drogas. “Tentaram me matar, mas, por duas vezes, o tiro falhou, foi quando resolvi mudar de vida e procurar meus pais. Há três meses tudo mudou comecei a me tratar em uma associação que ajuda viciados em drogas. Fiquei sabendo do curso e resolvi fazer. Hoje, trabalho fazendo manutenção de micros na minha comunidade e sonho com uma vida diferente, melhor e melhor”, destaca o adolescente.

Juan Carlos Flores, 37, é boliviano e está no Brasil desde 97. Sempre trabalhou com confecção, resolveu fazer o curso para apreender técnicas de vendas e também melhorar a pronúncia do português. “Apreendi mais do que queria: percebi que o mais importante é você se abrir e procurar conhecer tudo de bom que as pessoas têm para oferecer. Perdi o preconceito que tinha como migrante e perdi o medo de me relacionar com as pessoas”, diz.

Empreendedores - Entre os formandos das turmas dos períodos manhã e tarde também estão saindo empreendedores como são os casos de Newtong Guarino Filho, 54 anos, Adriana da Silva Correa, 24 anos, Maurício ShiH Iti Mori, 46 anos e Jorge Aparecido Graciano Paiva, 45 anos.

Foto: Bruno FontouraO cunhado de Newtong ensinou a confeccionar canecas feitas com latinhas de cerveja e refrigerantes recicladas. "Durante o curso, nas aulas de empreendedorismo, junto com a professora e colegas montamos um plano de negócio. Em menos de 15 dias já tínhamos feito 80 canecas e estamos vendendo e faturando" conta Newtong. “Como meu negócio é vender me coloquei a deposição para revender as canecas. Já recebi até encomendas com times de futebol”, diz Adriana.

Formatura - Na próxima segunda-feira, dia 30, às 10h30, no auditório da Unicsul, campus Anália Franco - Av. Regente Feijó, 1295, acontece a formatura de cerca de 1.600 estudantes nas funções de operador de telemarketing, auxiliar de escritório, atendente de lanchonete e vendedor de comércio varejista e inicia a etapa de encaminhamento para mercado do trabalho, realizada pelas unidades do CAT- Centro de Apoio ao Trabalho e as empresas, associações e sindicatos que assinaram compromisso para inserção dos formandos.

E ainda há tempo para quem deseja participar de um dos cursos do Planteq edição 2010. Há 2.857 vagas remanescentes para operador de telemarketing, atendente de lanchonete e vendedor de comércio varejista. As inscrições vão até dia 09 de setembro e podem ser feitas nas unidades do CAT.

Os interessados podem fazer a inscrição na unidade do CAT mais próxima de sua residência apresentando RG, Carteira de Trabalho e CPF. Os postos atendem de segunda a sexta das 7h às 18h.