Programa da SMS leva meditação e serenatas a idosos na capital

Iniciativas de equipes do Programa Acompanhante de Idosos (PAI) ajudam população idosa a amenizar solidão e tristeza

Durante a pandemia de Covid-19, especialmente no início, antes da chegada das vacinas contra a doença, as pessoas com mais de 60 anos de idade eram as mais vulneráveis e sentiram mais fortemente o impacto das restrições decorrentes da circulação do novo coronavírus. Se o distanciamento físico imposto pela pandemia foi difícil para os jovens, foi ainda mais cruel para os idosos, que nem sempre têm facilidade para se comunicar virtualmente. Para aplacar a solidão e oferecer a eles mais alegria e bem-estar, desde o início da pandemia equipes do Programa Acompanhante de Idoso (PAI), da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo (SMS), decidiram diversificar sua atuação e recorrer a práticas de meditação e serenatas, por exemplo, como complemento ao trabalho que já desenvolvem regularmente auxiliando-os em atividades cotidianas, como higiene pessoal e doméstica, preparo de alimentos, exercícios físicos e acompanhamento a consultas médicas, supermercado e outras ações externas.

Desde abril, o PAI da Unidade Básica de Saúde (UBS) Vila Sônia, na zona oeste da capital, ensina técnicas de meditação aos idosos que atende. A equipe, composta por assistente social, médica, enfermeiro e técnicos em enfermagem, além de acompanhantes de idosos que realizam os atendimentos de saúde, e apoio às atividades de vida diária em domicílio com o objetivo de promover a inclusão dessa população nos sistemas de saúde e assistência social a fim de constituir uma rede de apoio e reduzir a vulnerabilidade, agora aposta também na prática de ficar em silêncio, relaxar e prestar atenção na respiração para melhorar a saúde mental dos pacientes.

Foto de mãos. Duas mãos masculinas com rugas estão cruzadas, uma em cima da outra, apoiadas no topo de uma bengala de madeira. A mão esquerda tem uma aliança de ouro no anelar. O homem veste uma calça marrom clara e uma camisa quadriculada marrom clara com cinza e branco.

Iniciativa ajuda população idosa a amenizar solidão e tristeza na capital (Foto: Divulgação)

“Nesta pandemia eu percebi os idosos tristes demais, com pouca vontade de viver e percebi que, depois dos momentos para meditar, houve um impacto psicossocial e eles foram reagindo. É muito bacana ver as mudanças. Eles saem da frustração social, de família, na qual muitas vezes estão inseridos em uma situação de não atenção. Quando eles fecham os olhos e a gente pede para ficarem tranquilos, eles esquecem, se encontram. A meditação é para encontrar o seu eu, se sentir bem consigo. O autoconhecimento é muito importante e eles entendem isso. A gente os motiva a fazer em casa, em momentos do dia a dia”, explica Roberto dos Anjos, 34 anos, enfermeiro responsável técnico pelo PAI Vila Sônia.

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A aposentada Ângela Menezes Azevedo Peres, 64, conta que a meditação a ajuda a lidar com a tristeza e ficar mais calma. “A gente tem altos e baixos na vida. Perdi pessoas queridas e dei uma caída. Em 20 dias neste ano perdi três pessoas para a Covid-19. Ano passado, por outro motivo, perdi minha mãe. Então, às vezes, o sentimento de tristeza vem forte, mas me esforço para ficar bem, procuro me autoajudar. Fiquei muito triste, sem vontade de fazer nada, mas estou começando a me levantar, principalmente com a meditação. Procuro me concentrar, coloco músicas relaxantes. Por mim faria o dia todo, porque isso traz uma paz, uma calma, eu adoro. Falo para mim mesma que vou ficar bem, vou melhorar”, relata ela, que é atendida pelo PAI desde 2019.

A prática também tem beneficiado a aposentada Vanda Ciotti, 90, que ficou viúva há seis meses, após um casamento que durou 70 anos. Ela vê na meditação uma saída para a insônia e para amenizar a solidão, especialmente após o isolamento imposto pela pandemia. “Depois que meus filhos casaram e eu enviuvei, os afazeres da casa são poucos, a comida é para um, quer dizer que fico sem fazer nada, sem sair de casa, e ficar na frente da televisão todo dia não faz bem. Há muito tempo não durmo direito. Vêm maus pensamentos, eu fico nervosa e uma coisa vai puxando a outra. Gosto muito da meditação, fico mais calma e isso vai me ajudar com certeza.”

Foto de idosos. No centro da imagem, um idoso está sentado em um banco. Ele veste calça jeans azul e uma blusa de frio bege. O idoso está segurando uma bola amarela e azul em uma das mãos. Ao seu lado direito, está sentada uma pessoa mais jovem, com uma das mãos apoiadas na mão do idoso que segura a bola.

Equipes do PAI decidiram diversificar sua atuação com os idosos durante a pandemia (Foto: Divulgação)

Serenatas para aniversariantes
Para alegrar os idosos e fazer com que eles se sintam mais queridos, o PAI da UBS Dr. José Toledo Piza, na zona norte, resolveu resgatar a tradição das serenatas e levar música aos idosos aniversariantes.

O projeto, batizado de Florescer, teve início no ano passado, quando os 120 idosos atendidos pela unidade ganharam serenatas. “É muito bonito poder proporcionar isso aos idosos. Nós cantamos parabéns e algumas músicas de homenagem. Muitos choram e agradecem o companheirismo e carinho da equipe. Um deles, emocionado, nos contou que aquela era a primeira conversa que ele tinha tido em meses com alguém. Esse é o nosso propósito”, afirma a assistente social Maria Isabel Costa dos Santos, 61, responsável pelo PAI Dr. José Toledo Piza.

Essa emoção e felicidade também se refletem na casa das irmãs Oliveira. Moradoras do Jaçanã, bairro da zona norte de São Paulo, foram surpreendidas com a homenagem cantada em seus aniversários. A aposentada Elzira de Oliveira, que completou 97 anos em agosto do ano passado, se diverte ao falar sobre o dia. “Foi um presentão de aniversário, fiquei muito contente. Gosto muito de música desde criança. Nossos pais eram músicos e cantores, crescemos nesse ambiente, mas nunca recebi uma serenata, só agora, depois de ‘véia’”, conta. Aniversariante em abril, Elza de Oliveira Nascimento, 96, também aposentada, se emociona ao lembrar da ocasião que, mesmo a distância, do outro lado do portão, guarda com carinho. “Lembrei dos tempos de novinha, senti como uma cerimônia de aniversário muito bonita, que eu nunca tive. Se a gente soubesse, teria até se arrumado melhor. Foi uma festa”, relembra.

A dona de casa Irma Maria de Jesus Castilho Laurindo, 82, moradora da Vila Mazzei, zona norte, recebeu a serenata em junho de 2020 e vê a ação como mais uma forma de enfrentar o isolamento e o luto. “Perdi meu sobrinho-neto e vizinho pela Covid, além de uma irmã por câncer. Quando essas coisas ruins acontecem, a gente fica muito pra baixo, mas fiquei muito feliz com essa atenção que recebi do PAI. Eles são como uma família. Lembro do quanto sou querida e isso me ajuda a levantar. Gostei demais da conta, nunca tive uma festa dessa de aniversário. Cantaram parabéns, tiraram fotografia, ganhei um presentinho, foi maravilhoso”, conta.

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Sobre o Programa Acompanhante de Idoso
O PAI, que atende ao todo 5.800 idosos no munícipio de São Paulo, promove cuidado domiciliar para população acima dos 60 anos de idade em situação de fragilidade e vulnerabilidade social. Por meio do programa, a SMS disponibiliza a prestação dos serviços de profissionais de saúde e acompanhantes de idosos, para apoio e suporte nas atividades de vida diárias. O objetivo é promover assistência integral à saúde da população idosa, desenvolvendo autocuidado, autonomia, independência e melhoria do estado de saúde.