Em alusão ao mês da Consciência Negra, Saúde destaca projeto voltado ao enfrentamento do racismo

Desenvolvido em unidades de saúde nas regiões leste, sul e central, Café Preto visa promover o debate racial e a conscientização de pacientes, funcionários e comunidade

A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) trabalha continuamente para combater o racismo estrutural e oferecer condições igualitárias assistência em saúde. Pautada pela Política Nacional de Saúde da População Negra do Ministério da Saúde (MS), a Área Técnica de Saúde da População Negra da SMS implementa ações, como a declaração do quesito raça/cor, e desenvolve e apoia projetos voltados ao enfrentamento do racismo, como o Café Preto, que a secretaria destaca neste mês da Consciência Negra. A iniciativa visa promover o debate racial e o senso de pertencimento de pacientes, usuários e profissionais em serviços de saúde das regiões leste, sul e central da cidade.

Realizado no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Álcool e Drogas III Penha, ligado à Coordenação Regional de Saúde Sudeste no bairro Vila Esperança e gerenciado pela Superintendência de Atenção à Saúde - Serviço Social da Construção Civil do Estado de São Paulo (SAS Seconci-SP), o projeto foi criado em 2019, após a equipe multiprofissional perceber que os usuários, que são moradores da região, chegavam acanhados, constrangidos e sem identidade. “Eles são, na sua maioria, pretos e pardos, e notamos que, além dos vícios, era preciso resgatar suas origens, empoderar essas pessoas para dar andamento ao tratamento. Um olhar singular ajuda muito. Também temos o cuidado de incluir profissionais pretos para conduzirem esse projeto em prol da representatividade”, explica Marcus Verjan, oficineiro da unidade.

O grupo, vencedor do 1º Prêmio Edna Muniz, em 2019 – que valoriza as contribuições na promoção de práticas voltadas à questão étnico-racial – inclui nas atividades, que abarcam em média de 15 a 20 pacientes por semana, músicas e artes plásticas, que contam a história dos negros no Brasil. “São homens e mulheres que tomam conhecimento dos representantes que existem na história para se orgulhar. Tivemos um caso emblemático, no qual o usuário, um homem de 30 anos, preto, se identificava como branco. Investigando, por meio de conversas, descobrimos que ele tinha essa postura por achar que seria aceito nos banheiros dos shoppings. Esse trabalho o resgatou”, conclui Verjan.

Outro local beneficiado pelo projeto desde outubro de 2021 é o complexo que integra o Caps Infantojuvenil, o Centro de Convivência e Cooperativa (Cecco), o Serviço Integrado de Acolhida Terapêutica (Siat) III e a Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Heliópolis, também atendido pela Coordenação Regional de Saúde Sudeste. Um dos integrantes do Café Preto é Daniel Carvalho Simões, 23 anos, morador do bairro Jardim Patente, na região. Além da participação na oficina musical, ele vê no projeto uma forma de resgate. “Com essas reuniões e experiências, a gente tem outra visão e percepção da própria história. Fortalece o encontro com as origens. Até ingressar no grupo, eu tinha crises de identidade, agora estou, a cada dia, buscando meu lugar”, conta. Em reuniões realizadas uma vez por semana, sempre às quintas-feiras, o grupo, que tem em média 15 pessoas, faz atividades e oficinas com o objetivo de discutir a temática antirracista e estratégias de cuidados para o desenvolvimento de políticas públicas.

Um outro modelo do projeto é desenvolvido na região central, por meio da UBS Bom Retiro, gerenciada pela Associação Filantrópica Nova Esperança (Afne). O grupo, que conta com 15 participantes por sessão desde junho deste ano, se reúne às segundas e sextas-feiras de cada mês e é por meio de conversas que o enfrentamento é conduzido. “O cuidado com as palavras e a mudança de vocabulário são alguns dos pontos com os quais trabalhamos no Café Preto. O que mais chama a atenção dos colaboradores nos encontros é como o preconceito é estrutural, naturalizado e reproduzido por meio de expressões cotidianas. Além disso, falamos sobre como acolher as vítimas do racismo. É preciso preparar e fortalecer nossos profissionais para lidar com as adversidades que surgirem, dentro ou fora das unidades”, pontua Adriana Souza, assistente social da UBS.

Endereços:

Caps Álcool e Drogas III Penha
Rua Evans, 729, Vila Esperança

Complexo Heliópolis
Av. Almirante Delamare, 3.033, Vila Heliópolis

UBS Bom Retiro
Rua Tenente Pena, 8, Bom Retiro