Vacina contra a covid-19 chega à aldeia guarani

Mulher indígena de 107 anos que teve a doença foi a primeira a receber o imunizante na UBS Vera Poty, em Parelheiros

Sentada numa cadeira, a índia Maria Rita da Silva, 107 anos, com chapéu bordô e vestido estampado miúdo em preto e branco, com o ombro direito à mostra recebe a vacina de uma agente de saúde, que usa jaleco branco, touca rosa, máscara e óculos

Do alto de seus 107 anos, a índigena Maria Rita da Silva, que teve covid-19 no início da pandemia, recebe a primeira dose da vacina na UBS que fica na aldeia em Parelheiros

 

 A vacina contra a covid-19 chegou nesta quarta-feira (20) ao território indígena da capital paulista. A primeira parada da campanha de vacinação da população indígena que vive em aldeias nos limites do município foi Parelheiros, zona sul da cidade, região que conta com seis grupos da etnia guarani: Tenondé-Porã, Krukutu, Kalipity, Marsilac, Brilho do sol e Guierapaj.

E numa reverência à resistência e força destes povos nativos, a primeira vacinada foi Maria Rita da Silva, do alto de seus 107 anos. Ela sobreviveu às fortes dores de cabeça, cansaço e a outros sintomas da covid-19 e chegou a ser internada.

A centenária Maria Rita não fala português e com a ajuda da intérprete Clarice Honório dos Santos, que é indígena e agente de saúde da Unidade Básica de Saúde (UBS) Vera Poty, ela disse estar muito feliz.

Voltada exclusivamente para este público, a UBS Vera Poty será a responsável pela imunização de 913 indígenas do entorno de Parelheiros, começando pelos Tenondé-Porã e Krukutu.

A unidade de saúde indígena conta com 21 profissionais especializados e capacidade mensal de 340 consultas médicas e 250 consultas de enfermagem.

Ilda Gabriel, de 83 anos, também foi vacinada. “Estou muito feliz, a vacina é importante para minha saúde”, disse em sua língua natal com voz vibrante. No começo da pandemia, ela passou muito mal por conta da covid-19.

“A vacina é uma vitória para os povos indígenas, que historicamente enfrentam epidemias pelo seu modo de vida muito junto, uma convivência muito próxima”, disse Lucimar Regina Constantino, gerente da UBS Vera Poty.

Ela conta que mais de 70% da população de cerca de 1.300 indígenas nas dez aldeias da região contraiu covid logo no início da pandemia e imediatamente após o primeiro caso o enfrentamento foi muito difícil. No dia a dia, os atendimentos mais comuns são de problemas respiratórios e parasitoses, além do acompanhamento à saúde dos idosos.

Liderança indígena da aldeia, Pedro Delane - ou Verá Popygua, seu nome em guarani -, comenta que o SUS e a UBS Vera Poty são muito importantes para o seu povo.

“O SUS é muito importante para todo mundo. Ter um postinho de atendimento dentro da aldeia evita que a gente fique saindo muito, e a parceria com a prefeitura trouxe a saúde da família”, destaca.

Ele admite que no início da pandemia, por ser uma doença desconhecida, o grupo não deu muita atenção ao problema. “Mas agora nós conseguimos passar informação e orientar sobre cuidados. A vacina veio nos ajudar.”

De touca rosa e avental branco, agente de saúde aplica vacina no braço direito do líder indígena Pedro Delane, os dois estão em pé e ele usa camiseta branca e um colar de palha azul nos ombros. A parede da sala é de azulejos brancos e há um armário de metal verde escuro

O líder indígena da aldeia, Pedro Delane também é imunizado na UBS Vera Poty


 
Vacinação na capital
Com o recebimento de 203 mil doses - destinadas aos profissionais que atuam na linha de frente da assistência direta a pacientes com o novo coronavírus em hospitais (enfermarias e UTIs Covid-19) públicos e privados, prontos-socorros, UPAs, AMAs, UBS (profissionais da ponta para atendimento de sintomáticos respiratórios) e os profissionais que trabalham no SAMU Resgate, idosos e indígenas - a vacinação no município começou nesta terça-feira, 19.

A população de três mil indígenas que vivem em aldeias na cidade também integra o grupo dos primeiros vacinados contra a covid-19 na capital.

Considerando a quantidade de doses, neste primeiro momento não será possível iniciar a imunização ao público geral. Em até 15 dias, a Secretaria Municipal da Saúde deve receber cerca de 200 mil novas doses para concluir essa etapa de vacinação, com a aplicação da segunda dose.

No planejamento de vacinação do município, assim que novas remessas do imunizante forem chegando, serão incluídos na campanha, de forma escalonada, os demais profissionais de saúde e outros públicos prioritários, como idosos acima dos 75 anos.