Desafio real: pais precisam conversar com os filhos sobre o que se passa na internet

Profissionais da saúde explicam como abordar os jovens diante de correntes virtuais que os instigam até ao suicídio

Renan Cacioli

Os chamados desafios virtuais, nos quais crianças e adolescentes são provocados a cumprir determinadas ordens em correntes que circulam nas redes sociais, têm tirado o sono de muitos pais. Mas a solução para enfrentar sem alarde esses seres imaginários como a Baleia Azul e, mais recentemente, a boneca Momo, pode estar em algo bem mais simples do que se imagina: o diálogo.

Por mais complicado que seja quebrar os escudos que muitos jovens constroem nessa fase da vida, potencializados ainda pela característica de bolha do mundo online, aos adultos cabe a missão de encontrar o tom adequado para se inserir nesse universo dos filhos e desmistificar as lendas.

“A melhor coisa a se fazer é conversar sobre o assunto. Orientar se aparecer um personagem como a Momo no meio do vídeo e disser que é para fazer coisas como se machucar, que é justamente para não fazer isso”, explica Mônica Barros, psicóloga da equipe do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) da AMA/UBS Integrada Jardim Brasil, na zona Norte da cidade.

Os vídeos já vêm circulando desde o ano passado, mas ganharam repercussão maior nas últimas semanas, quando pais começaram a recebê-los em grupos e correntes do WhatsApp. “Outra orientação é não procurar esse vídeo e orientar as crianças a não acessá-lo. Quanto mais você acessa, mais ele fica acessível”, afirma a psicóloga.

No CAPS Infantojuvenil II M’Boi Mirim, o assunto não teve tanta repercussão, mas a psicóloga Beatriz Deorsola nota que temas como suicídio e automutilação, situações muitas vezes provocadas por esses desafios virtuais, atraem cada vez mais o interesse desse público.

“Essa geração já nasceu nesse meio e passa por uma fase de querer respostas imediatas, de ansiedade, de não ter muito tempo de espera. A internet entra nesse contexto prometendo respostas a todas essas questões“, analisa.

Mais uma vez, os pais precisam estar presentes e conversar, mas sem forçar demais a barra. “A figura de autoridade precisa existir. Pai não é melhor amigo. Mas, antes da imposição, é entender como esse universo da internet conversa com os adolescentes”, diz a profissional de saúde.
 

O que fazer?

A Área Técnica de Saúde Mental da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) dá algumas orientações aos pais de como agir diante de correntes virtuais a exemplo da boneca Momo:

- Se vir seu filho recebendo essas mensagens, imediatamente sente e converse com eles, com postura acolhedora;
- Pergunte do que se trata para avaliar se a criança ou adolescente entende o teor da matéria;
- Pergunte abertamente se eles concordam com o que está sendo divulgado;
- Pergunte abertamente se eles pensam em fazer algo parecido consigo, sem tom de julgamento;
- Nunca aborde seus filhos dizendo que achou a mensagem no celular deles. Isso é invasão de privacidade e faz com que percam a confiança em você;
- Se eles responderem que pensam em agir assim ou estão agindo (se mutilando ou tentativas mesmo frustras de suicídio), procure ajuda imediatamente de um profissional de saúde mental;

Lembrando que a rede de SMS conta com CAPS Infantojuvenil e UBS com equipes de saúde mental preparadas para esse atendimento. Em casos de tentativa de suicídio efetiva, imediatamente procure um pronto-socorro de hospital próximo do local onde está o jovem para avaliação.