Projeto da Unidade de Vigilância em Saúde de São Miguel Paulista recebe prêmio internacional

Cãominhar visa conscientizar a população sobre a raiva humana

Por Keyla Santos

Agentes de endemias da Unidade de Vigilância em Saúde (UVIS) São Miguel Paulista idealizaram o projeto Cãominhar – Integrar, orientar e prevenir: São Miguel Paulista no combate à raiva, que tem o objetivo de conscientizar a população sobre os riscos da raiva humana, informar sobre as medidas preventivas e orientar sobre o que fazer nos casos de ataques de animais. Em 2018, este projeto foi premiado em primeiro lugar no evento internacional World Rabies Day MSD Award da Global Alliance for Rabies Control, entidade ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS). Em 2016, o Cãominhar foi premiado em segundo lugar e, em 2017, ficou em primeiro. Ainda em 2017, recebeu o voto de júbilo da Câmara Municipal de Vereadores de São Paulo.

O projeto também foi representado no RITA Conference 2018, que aconteceu no fim de outubro em Buenos Aires, Argentina. Trata-se de um encontro científico internacional realizado anualmente desde 1990, com foco na apresentação e discussão de desenvolvimentos na pesquisa, vigilância, controle e prevenção da raiva.

De acordo com o veterinário e supervisor da Supervisão Técnica de Saúde (STS) São Miguel, Wernner Santos Garcia, a Cãominhada nasceu com a dedicação e o foco de profissionais em levar informação às pessoas que mais precisam. “O fato de essa ação ter um alcance mundial só reforça o quanto nossa informação é valiosa para as pessoas. Queremos ter a oportunidade de expandir essa ideia. Hoje, no município, o agravo que tem mais notificações obrigatórias é o atendimento antirrábico com, aproximadamente, 22 mil notificações por ano”, disse.

Sobre o Cãominhar

O projeto é resultado do trabalho de conclusão de curso dos agentes de endemias Wernner Santos Garcia, Edimar Alves de Azevedo, Fabio Junior de Oliveira Ferreira, Karen Fernanda de Freitas Garilho, Gisele Pereira Gonçalves e Claudia Pereira dos Santos Martinez, da UVIS São Miguel Paulista, que em 2016 participaram do curso de Técnico de Vigilância em Saúde (TVS). A ideia surgiu devido aos números de mordeduras registrados naquele ano.

De acordo com os dados obtidos pelos agentes, em 2016 foram notificados 26.016 casos de mordeduras por cães e gatos em São Paulo e 740 na região de São Miguel Paulista. O gasto com pacientes de mordedura é de, aproximadamente, R$ 300.

Os eixos do projeto são: prevenção para evitar o problema na ocorrência de eventual ataque; direcionar a vítima aos locais de atendimento; e expor de maneira educativa a promoção e a prevenção da saúde e a conscientização da população por meio da Cãominhada.

Em 2016 e 2017, a Cãominhada aconteceu em um parque da região de São Miguel Paulista. Em 2018, o local escolhido foi a Escola Municipal de Ensino Infantil (EMEI) Maria Quitéria.

Na ação da EMEI, 120 animais foram vacinados, 90 receberam o RGA, foram realizadas 450 orientações veterinárias, 50 exames de ultrassom e foram contabilizados 800 participantes ao longo do dia.

Ações realizadas

Durante os eventos são realizadas várias ações como: Registro Geral Animal (RGA); vacinação contra a raiva animal; orientações sobre mordedura de cães e gatos; contação de história sobre o programa – Cinco chaves para evitar mordedura de animais; palestras sobre morcegos; exposição de animais sinantrópicos; equipe voluntária de estudantes e professores de medicina veterinária da Universidade Anhembi Morumbi para orientação; ultrassom veterinário para os casos necessários; doação de sangue animal; teatro sobre cuidados com ectoparasitas (pulgas e carrapatos) com a Universidade Brasil; cãominhada para 200 animais; e atividades para as crianças com a Patrulha Canina.

Raiva humana

A raiva é transmitida ao homem por meio do contato com a saliva ou secreções de animais infectados, mas ocorre, principalmente, por meio da mordedura. Segundo o Ministério da Saúde, a doença apresenta letalidade de, aproximadamente, 100% e alto custo na assistência preventiva às pessoas expostas ao risco de adoecer e morrer. Apesar de ser conhecida desde a antiguidade, continua sendo um problema de saúde pública.

Os sintomas da raiva em humanos começam aproximadamente 45 dias após a mordida do animal contaminado. São eles:
- mal estar;
- pequeno aumento de temperatura;
- perda do apetite;
- dor de cabeça;
- náuseas;
- dor de garganta;
- cansaço;
- irritabilidade;
- inquietude;
- sensação de angustia;
- pode ocorrer sensação de grande dor ou de anestesia nos locais próximos à mordida do animal.

Na medida em que a infecção progride, surgem outros sintomas como:
- ansiedade, febre, delírios;
- espasmos musculares involuntários, generalizados, convulsões;
- espasmos dos músculos da laringe, faringe e língua, além de salivação intensa;
- surge paralisia, levando à dificuldade respiratória;
- retenção urinária e obstipação intestinal.

Normalmente, a pessoa intercala momentos de consciência e inconsciência, até entrar em coma. A morte pode chegar em até sete dias, se o tratamento não for iniciado.

Medidas preventivas

Segundo Garcia, a melhor forma de prevenção da raiva é a vacinação de cães e gatos com a vacina antirrábica fornecida gratuitamente pela prefeitura de São Paulo. Dessa forma, mesmo que um indivíduo seja mordido por um destes animais, não ficará doente, pois o animal estará livre da infecção.

“Outras medidas de prevenção são evitar o contato com animais de rua, abandonados e o contato com animais silvestres, mesmo que estes ainda não apresentem sintomas de raiva, já que os sintomas podem demorar semanas ou meses para se manifestar”, finalizou o veterinário.