Projeto Tudo de Bom leva prevenção às ISTs/AIDS para travestis e transexuais de São Paulo

Objetivo é promover a educação entre pares, ao gerar identificação entre os agentes e o público-alvo

Por Thiago Pássaro

Já faz um ano que todas às quintas-feiras, às 15h, Rubi Ribeiro chega ao Serviço de Assistência Especializada (SAE) Campos Elíseos, no Centro de São Paulo, para se reunir com suas colegas de trabalho. Rubi faz parte do “Tudo de Bom”, projeto de prevenção às infecções sexualmente transmissíveis (ISTs)/AIDS, do Programa Municipal de DST/AIDS (PM DST/AIDS), órgão da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de São Paulo, voltado para a população de travestis e de mulheres transexuais, bem como para mulheres profissionais do sexo (cis ou trans).

Rubi Ribeiro, que faz parte do projeto Tudo de Bom, em foto de arquivo pessoal

Rubi Ribeiro, em foto de arquivo pessoal

O projeto é formado, justamente, por agentes de prevenção que se encaixam no perfil do público-alvo, ou seja, também são travestis e mulheres transexuais e ainda mulheres cis e transexuais que são ou tiverem experiência com o trabalho sexual. O objetivo é levar o trabalho de prevenção para fora da unidade, com a chamada “educação entre pares”, gerando identificação entre as agentes e a população a ser atingida.

“Nós, trans, fazendo o projeto e estando dentro da prevenção, facilitamos o trabalho, porque uma entende a outra. Nada melhor do que nós falarmos, pois nos identificamos”, conta a jovem de 32 anos.

Nesses encontros no SAE, as agentes de prevenção conversam sobre novos locais de atuação, que são decididos pelas regiões onde o público do projeto vive em maior contexto de vulnerabilidade às ISTs/AIDS. “A gente tem essa preocupação de ver novas possibilidades de campo”, diz Ribeiro.

Definido os pontos, elas vão para as ruas do Centro por volta das 18h, com cerca de duas horas de trabalho por dia. As voluntárias fazem o abastecimento de preservativos nos hotéis da região, deixam panfletos e ainda conversam com as profissionais do sexo. As agentes atuam também em locais de convivência da população trans, não necessariamente que trabalham com o sexo.

“Nós falamos sempre da Prevenção Combinada, da PEP, da PrEP, para mostrar que existem outras formas de prevenção além do preservativo”, relata Ribeiro. “Elas até nos param na rua para pedir os insumos, então nunca tivemos problemas. Sempre fomos bem recebidas”, completa.

Projetos de Prevenção

O “Tudo de Bom” faz parte do conjunto de cinco projetos de prevenção do PM DST/AIDS que também atuam na proposta de educação entre pares para a população mais vulnerável às ISTs/AIDS. O “Cidadania Arco-Íris” é voltado para os gays; o “Elas por Elas”, para mulheres em situação de vulnerabilidade; o “Plantão Jovem”, para o público jovem; e o “PRD Sampa”, para redução de danos entre usuários de drogas.

Estes projetos estão presentes nas 26 unidades da Rede Municipal Especializada (RME) em ISTs/AIDS de São Paulo. É possível ter todos os projetos em um único serviço ou apenas dois, três, de acordo com o contexto sociodemográfico da unidade de saúde.

“Os agentes são fundamentais para ampliarmos a prevenção na cidade, pois eles e elas chegam a pessoas que muitas vezes o serviço de saúde não consegue atingir, além de atuarem em horários que as unidades estão fechadas, como à noite e nos finais de semana”, ressalta Cristina Abbate, coordenadora do PM DST/AIDS.

Todos os projetos de prevenção são formados por agentes voluntários, que juntos ultrapassam a marca de 200 em toda a capital. No caso do “Tudo de Bom”, por exemplo, a capital conta com 64 agentes de prevenção, atuando em 21 unidades da RME.

“Eu acho que o ‘Tudo de Bom’ abre portas e conscientiza as meninas. Nós mesmas aprendemos o que é saúde, os tratamentos etc. O mais importante é levar a informação para a pessoa, saber que ela está te escutando. Podemos falar com 1.000 e nem sempre as 1.000 vão tomar uma atitude. Mas saber que uma passou a se cuidar e ter mais saúde, já faz toda a diferença”, diz Ribeiro.