Inovando nos cuidados com a saúde mental

O CAPS Infanto-juvenil II Aquarela de Parelheiros desenvolve novas alternativas de cuidado com os jovens e inova na maneira de conscientizar profissionais sobre a saúde mental

Por Marie Serafim / Thamires Souto

O Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil CAPSij II Aquarela-Parelheiros realiza todas as terças-feiras a oficina de rádio Rádio CAPSij. Criada em 2015 para se apresentar em um encontro da Rede de Enfrentamento Contra a Violência e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes das regiões de Capela do Socorro e Parelheiros, a ideia deu tão certo que desde então acontece semanalmente na unidade.

“O objetivo é melhorar a vida dos usuários de saúde mental, promover a saúde, a socialização, as habilidades de comunicação e o protagonismo social dos adolescentes”, explica Valter Nunes de Sant’Anna, oficineiro, e um dos responsáveis pela oficina.

No começo, o projeto tinha as características de uma rádio convencional, mas eles queriam mais. “A primeira turma enfatizava muito essa questão da voz, do quem deixa falar e de quando eu posso falar em uma sociedade que me oprime o tempo todo, porque sou autista, tenho TDAH –Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade”, conta o oficineiro.

Após participarem de uma radionovela, eles acabaram tomando gosto pela dramaturgia, o que transformou a rádio em uma “Oficina de Comunicação”. Atualmente, cerca de vinte adolescentes estão empenhados em escrever uma peça de teatro. Para isso, trabalham no roteiro, na história, encenam e criam os próprios diálogos, com resultados surpreendentes, garantem os oficineiros e a psicóloga do grupo, Thamires da Silva Couto. “A gente entende que a oficina é um dispositivo terapêutico, cujo objetivo é o de trabalhar a comunicação, a interação, a criatividade e a transformação, (...) se formos rígidos enquanto estrutura, não teria como isso acontecer”, diz ela, que acrescenta: “tanto a rádio quanto o CAPS são locais de encontro, ou seja, espaços onde eles fazem amizades, criam vínculos...”

Mental game

Para ajudar os profissionais a entenderem mais a respeito do cuidado em saúde mental, alguns membros da equipe inspirados no game escape room – jogo em que é preciso desvendar mistérios para sair de uma sala – montaram um jogo com uma sala temática chamada ‘Manicômio’. Nela, até oito participantes têm de usar a inteligência, o raciocínio e a criatividade para encontrar pistas que os ajudem a desvendar alguns enigmas para conquistar o tratamento em liberdade. O jogo tem duração de uma hora e precisa ser previamente agendado com a equipe.

“A vivência desse jogo proporciona contato com o conteúdo da história da reforma psiquiátrica e com a reabilitação psicossocial; para jogar não é preciso conhecer previamente o tema”, explica a psicóloga Thamires. Encerrada a atividade, os participantes são convidados a participar de uma roda de conversa, para construir o conhecimento coletivamente e refletir sobre a experiência.

O game foi avaliado positivamente por profissionais, estudantes e graduandos na intervenção realizada pela equipe na 47ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia.

Mais games

Depois de um ano aplicando o jogo apenas para profissionais da rede, a equipe desenvolveu um game para os adolescentes sobre a prevenção do suicídio, a pedido de um deles. “É uma demanda que vem cada vez mais chegando para nós, principalmente do público adolescente. Entendemos que é preciso falar abertamente sobre o suicídio e as questões nele envolvidas”, explica a psicóloga Thamires.

A equipe planeja desenvolver mais games para os usuários jovens, com temáticas próprias do universo adolescente.

Serviço

Rua Alessandro Buri, 15 – Jardim Roschel