Secretaria realiza atendimento médico a imigrantes haitianos

Das 80 pessoas examinadas, quatro foram encaminhadas para uma Unidade Básica de Saúde

Foram realizadas atualizações da carteira de vacinação com aplicação de vacinas contra sarampo, caxumba, rubéola, gripe, dupla adulto e teste rápido de HIV 

 

Por Keyla Santos
Fotos: Edson Hatakeyama

Imigrantes haitianos e de outros países, num total de 80 pessoas, passaram por exames clínicos na tarde desta quarta-feira (27/5) na Paróquia Nossa Senhora da Paz, na Rua do Glicério, região Central. A Secretaria Municipal da Saúde (SMS), por meio da Coordenadoria Regional de Saúde Centro (CRS Centro), também promoveu a vacinação de alguns dos imigrantes. Apesar de a ação ser direcionada aos recém-chegados, também foi uma oportunidade para os que já estão na cidade há mais tempo passar por exames. Os imigrantes também participaram de palestra sobre o Brasil e seus hábitos culturais.

Para realizar o atendimento a CRS Centro disponibilizou equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF) e Consultório na Rua com um médico, dois enfermeiros, um auxiliar de enfermagem, um psicólogo e quatro agentes comunitários que realizaram atendimento, com ajuda de intérpretes voluntários, nos casos necessários.

Das 80 pessoas atendidas, 28 precisaram de orientação e consulta médica e quatro apresentaram hipertensão, sendo encaminhados para início de tratamento na UBS da região. Foram realizadas 108 vacinações, entre elas contra tétano, duplo adulto e hepatite. Foram realizadas ainda atualizações da carteira de vacinação com aplicação de vacinas contra sarampo, caxumba, rubéola, gripe, dupla adulto e teste rápido de HIV.


Os imigrantes também participaram de palestra sobre o Brasil e seus hábitos culturais

 

Acolhimento

De acordo com o coordenador da CRS Centro Clóvis Silveira Junior, trata-se de uma ação importante, porém não pontual. Trabalhos que envolvem a política do imigrante na área da saúde já vêm sendo desenvolvidas pela SMS, inclusive com o atendimento e acompanhamento nos equipamentos de saúde a imigrantes.

“A gente tem uma política estruturada para atendimento e acompanhamento. Especificamente nesta questão de hoje ela é importante. Nos sentimos no dever, como serviço público, de atuar, de ver as queixas, ver os casos que precisam de acompanhamento mais detalhado, vincular com a UBS, que é a referência, e já fazer as ações pertinentes. A ideia é dar acolhimento a eles e fazer com que se sintam pertencentes ao Sistema Único de Saúde (SUS), que é universal”, disse o coordenador.

Os imigrantes também participaram de uma palestra intercultural, para que conheçam as características e costumes básicos do Brasil. Segundo o padre Paolo Parise, diretor do Centro de Estudos Migratórios, que recebe os imigrantes na paróquia, as palestras ajudam os recém-chegados a entender alguns mecanismos culturais do Brasil e suas leis trabalhistas.

Os grupos que chegaram do Acre recentemente contam com cerca de 360 pessoas. “Aqui eles têm aulas de português das 9h às 12h, médicos voluntários durante a semana, psicóloga, parte de documentação, advogado, encaminhamento para o trabalho, para cursos profissionalizantes e para universidades. Só este ano conseguimos encaminhar mais de 30 pessoas para o curso superior”, explicou Parise.


Os grupos que chegaram do Acre recentemente contam com cerca de 360 pessoas

 

‘Para ter vida melhor é preciso estudar aqui ou em qualquer outro país’

Ao visitar a paróquia e percorrer as ruas do entorno é possível encontrar inúmeras histórias de vida. Nelas encontramos pessoas que saíram de seus países de origem fugindo da crise econômica e, consequentemente, do desemprego. É gente que realiza muitas vezes uma viagem clandestina, correndo riscos de morte até desembarcarem no Brasil. São pessoas cheias de esperança e de força de vontade para mudar de vida. Segundo alguns haitianos recém-chegados, o país é repleto de possibilidades. Muitos, porém, não estão preparados para abraçá-las.

Uma das histórias é a de Enise Jeanty, de 29 anos, que chegou ao Brasil há três meses. Grávida de cinco meses e desempregada, ela não arrisca o português mas, por meio de um conterrâneo, Ronal Joseph, de 41 anos, que está aqui há pouco mais de um ano, disse que deseja voltar ao Haiti. “Ela descobriu a gestação ao passar por consulta em um equipamento de saúde. Agora ela precisa de ajuda financeira para voltar para o país dela, nosso país, o Haiti”, disse Joseph.

O caso de Loopez L. Ricardo Pierrelis, engenheiro mecânico de 28 anos, é um pouco diferente. Ele está no Brasil há quatro anos, trabalha na construção civil e falou um pouco sobre a decisão de deixar seu país. “No Haiti não tem emprego. E para ter uma vida melhor é preciso estudar aqui ou em qualquer outro país. Uma pessoa que não estuda não consegue uma profissão. Os haitianos falam que no Brasil tem emprego, eu sou haitiano, mas não é assim. Tem que usar a cabeça. O Brasil tem muitas possibilidades. Tem escolas [universidades] gratuitas, mas tem haitiano que não sabe ler. Aprender não mata ninguém e ajuda a abrir a cabeça”, disse Pierrelis.