Pro-Aim

Boletim PRO-AIM nº 33 / 3º trimestre 1998

Mortalidade e grau de instrução na cidade de São Paulo

O estudo dos perfis de mortalidade segundo as condições de vida das populações tem contribuído para o conhecimento dos problemas de saúde pública que afetam os diferentes grupos sociais. Apesar de sua reconhecida importância, as informações sobre escolaridade têm sido pouco utilizadas nestes estudos devido a baixa qualidade do seu preenchimento na Declaração de Óbito, conforme discutido no boletim 32 do PRO-AIM. Além disso, a existência de incompatibilidade das estratificações do grau de instrução utilizadas na Declaração de Óbito (nenhum, primeiro grau, segundo grau, superior) e no censo demográfico do IBGE (anos de estudo: 0, 1-3, 4-7, 8-10, 11-14, 15 e mais) impossibilita o cálculo de estimativas de risco de morte, trazendo dificuldades adicionais. Este problema deverá ser solucionado com a implantação da nova versão da Declaração de Óbito prevista para 1999.

Neste boletim, complementando o estudo anterior (boletim 32), é feita uma análise dos perfis de mortalidade nos diferentes níveis de escolaridade, a partir das Declarações de Óbito de pessoas com 10 anos ou mais, residentes e ocorridos na Cidade de São Paulo, em 1997.

As principais causas de morte em maiores de 10 anos em 1997 foram as doenças isquêmicas do coração (DIC), seguidas das doenças cerebrovasculares (DCV), homicídios, Pneumonias, doenças pulmonares obstrutivas crônicas, Diabetes e AIDS. No entanto, a posição dessas causas diferiu segundo a escolaridade. A principal causa de morte em todos os grupos de escolaridade foram as DIC, exceto entre as pessoas sem instrução, onde prevaleceram as DCV. O homicídio foi a segunda causa entre as pessoas com instrução ignorada e com até o primeiro grau, ficando na 13ª posição no grupo com o nível superior. A AIDS foi a 16ª causa no grupo sem instrução, a quarta no grupo com o segundo grau e a quinta no grupo com o nível superior. As neoplasias se destacaram no grupo com o nível superior, onde cinco cânceres de diferentes localizações (pulmão, mama, cólon, próstata e estômago) aparececeram entre as 10 principais causas. Entre as pessoas sem instrução, predominaram as doenças cardiovasculares, sendo que o único câncer que apareceu entre as principais causas foi o de estômago, na décima posição. No grupo com escolaridade ignorada, apareceram, com destaque, o alcoolismo e suas complicações. Considerando somente as mortes por causas externas, o homicídio ocupou o primeiro lugar em todos os grupos, exceto naquele com o nível superior, onde predominaram os acidentes e os suicídios.

Chamou a atenção, o predomínio das neoplasias entre as princicipais causas de morte no grupo com o nível superior, enquanto que, entre os sem instrução, o destaque foram as doenças cardiovasculares, em especial os acidentes vasculares cerebrais. Foi no grupo sem instrução que se verificou a maior proporção de óbitos de idosos (71,5%), com a predominância de mulheres, refletindo a maior dificuldade de acesso à instrução em idade precoce. Os diversos perfis de mortalidade estão relacionados com os diferentes graus de exposição aos fatores de risco e oportunidades de acesso aos serviços de saúde, entre outros aspectos, gerados pelas desigualdades nas condições de vida.

Em diversos estudos apresentados em boletins anteriores, o PRO-AIM tem apontado a distribuição socialmente desigual de vários problemas de saúde pública na Cidade de São Paulo. O enfrentamento adequado de muitos desses problemas exige um sistema de saúde de qualidade que contemple tanto ações preventivas quanto assistenciais. No entanto, muitas vezes, os problemas que afetam a saúde das populações extrapolam o âmbito do sistema de saúde e necessitam de políticas econômicas e sociais que estejam voltadas à promoção da equidade e da cidadania.

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