Carlos fala sobre os desafios do trabalho pelo controle da hanseníase e agravos em São Paulo

Há 20 anos na prefeitura, o enfermeiro atua no setor de controle de epidemias

Carlos Tadeu Maraston Ferreira, 62 anos, é enfermeiro e coordenador do Programa Municipal de Controle da Hanseníase (PMCH) na capital paulista. Há 20 anos na prefeitura, ele atua na Divisão de Vigilância Epidemiológica (DVE) da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), onde seu maior desafio tem sido o controle de epidemias, um trabalho que exige muito estudo e ainda mais prática, conhecimento dos cenários sociais e das doenças. No caso da hanseníase, a cidade de São Paulo conseguiu reverter a incidência da doença com esforços diários e as campanhas anuais Janeiro Roxo.
 
Formado em enfermagem pela antiga Faculdade Farias Brito, atual Universidade de Guarulhos (Ung), Carlos possui mestrado em cuidados e saúde pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP). Ele começou a carreira no Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Nos anos 1980, a Aids, sigla em inglês de síndrome da imunodeficiência adquirida, era a epidemia que preocupava a saúde pública. São Paulo, com a maior população do país, estava na linha de frente. “Eu me vi naquela ansiedade de querer conhecer mais sobre aquela nova doença cheia de estigmas e desafios”, relembra. Hoje, a cidade celebra muitas vitórias nesse campo. Desde o primeiro registro da doença, em 1981, nunca se observou uma queda tão prolongada nas notificações de HIV, como ocorreu em 2022, sexto ano seguido com queda das notificações no município.
 
Após cinco anos de experiência no enfrentamento da Aids, Carlos iniciou uma nova jornada, dessa vez contra a hanseníase, em 1989, quando passou a fazer parte da Divisão de Hansenologia e Dermatologia Sanitária (DHDS).
 
 
A foto mostra Carlos, um homem branco de cabelos grisalhos e óculos, em frente a um computador, no seu locald e trabalho.
Carlos atua há 20 anoos no enfrentamento a epidemias (Foto: Divulgação/SMS)
 
Em 2000, após um concurso público, ele se tornou servidor na Secretaria Municipal da Saúde (SMS), e foi um dos responsáveis pela criação do programa que lidera atualmente na capital. Mais uma vez, se deparava com uma doença cercada de preconceitos. Informar a população sobre a hanseníase era urgente para não atrapalhar os resultados do trabalho e alcançar o controle da doença. “Ainda que existam poucos casos novos por ano, o programa é muito extenso e importante. Uma vez que o indivíduo é diagnosticado, é necessário o acompanhamento durante e após o tratamento, por um período que muda de paciente para paciente. Por esse motivo, envolve ações sociais, técnicas, epidemiológicas e de educação continuada”, explica.
 
Em 2013, ao assumir a coordenação do programa na Covisa, Carlos desenhou, juntamente com a equipe, a linha de cuidados da hanseníase, o que permite que as regiões consigam organizar o atendimento aos pacientes conforme o protocolo para acolhimento, diagnóstico, notificação, tratamento e acompanhamento. “Nós trabalhamos para a eliminação da doença, é o resultado que esperamos do nosso esforço.”
 
Cuidados que geram vínculos
Carlos relembra com carinho o caso de um jovem internado com Aids, na década de 1980, quando os pacientes precisavam ficar em isolamento e não podiam receber visitas. O paciente estava em fase terminal da doença, pediu para comer um misto quente feito pela mãe e foi atendido pelo enfermeiro. “Na manhã do dia seguinte ele faleceu, e eu sempre lembro com emoção da mãe desse rapaz me agradecer por poder realizar o último desejo do filho”, conta.
 
Q+ 
Quando não está em cena contra a hanseníase, Carlos gosta de teatro, arte que chegou a cursar na década de 1990. ‘É minha grande paixão, além da saúde.” A leitura também ocupa suas horas livres e, atualmente, o servidor tem se dedicado a estudos das ciências humanas.
 
A foto mostra Carlos fantasaido de palhaço ao lado de outro palhaço.
Na peça "Judas em sábado de aleluia", no Teatro da Fundação Nacional de Artes (Funarte) de São Paulo (Foto: Divulgação/SMS)

 

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