Capacitação de profissionais contribui para o aumento da oferta de Pics na rede municipal

Cursos oferecidos pela Saúde aos seus profissionais ampliam o acesso da população a práticas como acupuntura, meditação e yoga

O número de atendimentos de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (Pics) cresceu 479% na cidade de São Paulo. Em 2023, foram realizados 740.698 atendimentos em modalidades como acupuntura, meditação e dança circular, em comparação a 476.868 atendimentos em 2022. Em 2018, antes do início da pandemia de Covid-19, foram 172.637 atendimentos ao longo do ano.

De acordo com Adalberto Kiochi Aguemi, coordenador da Área Técnica Saúde Integrativa da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo (SMS), o aumento da oferta de modalidades e atendimentos se deve à criação de uma estrutura de capacitação contínua dos profissionais da saúde.

Em 2023, os principais cursos oferecidos pela SMS aos profissionais da rede municipal de saúde foram em yoga, meditação, fitoterápicos e plantas medicinais, Tai Chi Pai Lin, terapia comunitária integrativa e dança circular. Adalberto reitera que pelo menos 700 profissionais foram formados só no ano passado, contando apenas os cursos organizados pela área técnica da secretaria, já que também existem iniciativas por parte das Coordenadorias Regionais de Saúde (CRSs). Atuam na oferta das Pics trabalhadores como médicos, enfermeiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, nutricionistas, entre outros.

O coordenador destaca a importância da existência de uma área técnica para entender qual a necessidade de cada região e quais insumos e capacitações devem existir para ampliar o acesso a determinadas terapias.

Auriculoterapia é a prática mais procurada
A modalidade com maior número de atendimentos na rede municipal é a auriculoterapia, que iniciou um crescimento expressivo no número de atendimentos entre 2016 e 2017, quando passou de 2.068 para 24.270 atendimentos, um aumento de 1.073.60%. Segundo coordenador, isso ocorreu devido a uma parceria de capacitação feita com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), iniciada em 2016. Em 2023, foram 374.712 atendimentos em auriculoterapia, comparado a 238.551 em 2022, o que representa um aumento de mais de 50%.

Marcelo Spiandon, coordenador do CRPics São Mateus, acredita que, na região, as práticas integrativas estão fortalecidas devido ao grande número de capacitações que são realizadas. De acordo com Marcelo, além dos pacientes que são encaminhados ao serviço, existe uma demanda espontânea de pessoas que vão até o equipamento procurando alguma terapia. “As Pics são extremamente importantes porque um dos pilares norteadores do Sistema Único de Saúde (SUS) é a integralidade, que é tratar a pessoa como um todo, não apenas uma dor específica”, explicou.

Usuários e trabalhadores elogiam as práticas
Marcia Bastos, de 51 anos, conta que começou a participar da terapia comunitária integrativa no CRPics São Mateus após entrar em depressão devido o diagnóstico de epilepsia: “Lá tem pessoas que realmente escutam. E você vê pessoas que passam por coisas que você também passa, o que ajuda a não se sentir tão só. Eles me ajudaram na aceitação do problema.” Na mesma unidade, ela ainda participou de grupos de meditação e Tai Chi Pai Lin.

A assistente administrativa de gestão do CRPics São Mateus, Isabel Solano, de 58 anos, teve sua vida transformada pelas Pics. Ela começou a fazer auriculoterapia quando trabalhava no Pronto Atendimento (PA) de São Mateus durante a pandemia de Covid-19, como uma maneira de ajudar na redução do estresse do momento, o que ajudou a diminuir as crises de ansiedade: “Com a auriculoterapia, eu deixei de tomar o antidepressivo.”

Município de São Paulo é pioneiro nas Pics
Reconhecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde (MS), as terapias integrativas possuem uma abordagem holística, propondo-se a auxiliar na resolução de problemas físicos, mentais e emocionais. "Muitas dessas modalidades resgatam o coletivo, importante em aspectos como socialização e interação comunitária, além de trabalhar o autocuidado e a autonomia”, ressalta Adalberto, acrescentando que as Pics são também uma estratégia para reduzir a medicalização do cuidado de saúde.

Pioneira, a cidade de São Paulo começou a estruturar a área técnica de práticas integrativas em 2001.

Atualmente, todas as 471 UBSs ofertam uma ou mais modalidades de Pics na cidade de São Paulo. Elas podem ser atividades coletivas e abertas, como por exemplo a dança circular ou a terapia comunitária integrativa, ou serem recomendadas por um médico como terapia auxiliar para múltiplas condições, de dores a insônia e ansiedade.

Além das Unidades Básicas de Saúde (UBSs), as Pics são oferecidas nos Centros de Referência da Dor Crônica (CRs Dor) e nos Centros de Referência em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (CRPics), equipamentos que oferecem à população um atendimento focado na promoção da saúde integrado à prevenção de agravos à saúde e à reabilitação, utilizando métodos naturais e cuidando da pessoa de forma integral.