Empatia a serviço da saúde: Marcela vale-se de sua experiência pessoal para atender pessoas em situação de vulnerabilidade

Agente de saúde integra equipe do Consultório na Rua na região central da cidade

Há dois anos Marcela Barone Amorim de lima, 43, teve o que chama de um evento “divisor de águas” em sua vida. Foi em 2022, quando ela se tornou agente de saúde da equipe multiprofissional do Consultório na Rua (CnaR) vinculada à Unidade Básica de Saúde (UBS) Santa Cecília. Seu dia a dia de trabalho, então, passou a ser a interação com pessoas em situação de rua ou em centros de acolhida em bairros como Santa Cecília, Campos Elíseos, República e Bom Retiro, aproximando-as dos serviços de saúde.

O emprego foi um divisor de águas para Marcela por se tratar do seu primeiro vínculo formal depois de um longo período de luta para conseguir completar os seus estudos até o ensino médio, e por marcar sua inclusão profissional na condição de mulher trans.

Outro ponto importante, conta, é a identificação com as pessoas que atende. “Eu já estive em um lugar de grande vulnerabilidade, então tenho uma profunda empatia”, diz a agente de saúde. Em sua rotina de trabalho, Marcela, que integra a equipe estendida do CnaR, com atuação das 13h até as 22h, divide-se entre a abordagem às pessoas em situação de rua na região e o atendimento às demandas no Centro de Acolhida Aconchego, voltado a idosos.

Com ambos os públicos, suas atribuições incluem o cadastro de novos usuários dos serviços, o encaminhamento de guias para consultas ou medicamentos e a solicitação do suporte de profissionais como auxiliares de enfermagem ou mesmo a médica, sempre que necessário. Ao todo, a equipe possui cerca de 700 usuários cadastrados.

“Nós agentes de saúde muitas vezes somos o primeiro vínculo desses cidadãos com a rede pública”, comenta Marcela, que, tanto na rua quanto nos centros de acolhida, se depara frequentemente com pessoas adictas em álcool e outras drogas. “Por conta do vício, quem está na rua muitas vezes não quer ir para os centros de acolhida, e quem está nos centros de acolhida, como os idosos que atendo, perdeu os laços com a família”, lamenta.

Além do trabalho como agente de saúde, Marcela também põe outro talento, de cabelereira, a serviço do bem-estar das pessoas atendidas pelo CnaR, em eventos de promoção de autocuidado e beleza. “Eu vejo o meu trabalho como profundamente social, me realizo ajudando pessoas que estão em situação de vulnerabilidade e precisam de um olhar humano”, diz a profissional, que já planeja o próximo passo: iniciar sua primeira faculdade, para tornar-se uma assistente social a serviço da saúde.

A foto mostra Marcela, uma mulher de cabelos avermelhados e compridos; ela usa um colete azul no qual se lê “Agente de saúde”; sob ele, uma camiseta branca em cuja manga se vê a logomarca do Consultório na Rua; Marcela está sentada e escreve em um papel, e tem próximo de si um homem de boné, visto de costas

Marcela durante atendimento pela equipe do Consultório na Rua (Acervo SMS)