“Toda vida vale a pena”. É a partir dessa premissa que a socióloga Iacy Millone, 54 anos, norteia as suas ações na rede municipal de saúde. Gerente da Assistência Médica Ambulatorial/Unidade Básica de Saúde (AMA/UBS) Integrada Jardim São Francisco II, na zona leste da capital, ela prioriza no trabalho a longitudinalidade do cuidado, um dos atributos da atenção básica, junto aos usuários do território, estreitando laços, o acesso de qualidade ao serviço e a confiança entre equipe e paciente.
Apesar de quando criança sonhar em se tornar arqueóloga, um campo que busca compreender culturas e sociedades passadas por meio de evidências materiais históricas, foi na sociologia que Iacy encontrou a oportunidade de entender e questionar as relações humanas hoje, pautando-se em indicadores que ajudam a nortear ações para o alcance de melhores resultados. São esses indicadores que a impulsionam em seu trabalho diário em busca da qualidade.
“A minha motivação é perceber que os indicadores estão melhorando. Quando a gente consegue garantir que as equipes se empoderem desses dados e passem a discutir os caminhos para melhorá-los (planos de ação), é sinal de que o trabalho está sendo bem-feito”, afirma a gestora, para quem, conseguir analisar e intervir nos indicadores de saúde no território e fazer com que a equipe trabalhe isso na rotina, é fundamental para analisar situações e tendências em saúde.
Durante dois anos, por exemplo, devido ao alto número de gestantes na unidade, a prioridade das ações foi abordar a saúde reprodutiva na comunidade, reduzindo as estatísticas. E isso foi possível a partir do empenho e comprometimento de todos os colaboradores. A equipe multidisciplinar promoveu orientações e palestras nas escolas, com conversas semanais junto aos adolescentes; os médicos foram treinados sobre métodos contraceptivos, ampliando a oferta e contemplando o perfil de cada mulher.
“Foi possível atender a demanda para cirurgia de vasectomia, por exemplo. A separação das salas que atendem a demanda espontânea, criando um atendimento diferenciado à mulher, próxima ao Serviço Social, garante uma atuação rápida em casos de vulnerabilidade e violências”, destaca Iacy. Outro dado importante é que 98% das crianças da comunidade estão com a vacinação em dia.
Localizada na região de São Mateus, distrito de São Rafael, a AMA/UBS Integrada Jardim São Francisco II atende 26 mil usuários, dentre os quais cerca de mil são imigrantes haitianos e venezuelanos. A UBS conta com sete equipes de estratégia de saúde da família (ESF) que assiste, em média, 3.700 pacientes cada. Os principais desafios vivenciados no território são as questões socioeconômicas, como geração de renda e baixa escolaridade. Ampliar as ações para a população idosa é o principal desafio.
Iacy Millone, 54 anos, é gerente da AMA/UBS Integrada Jardim São Francisco II (Foto: divulgação/SMS)
Em meio à essa engrenagem, Iacy já está na área da saúde há 28 anos, atuando inicialmente em serviços de saúde mental e, em seguida, com gestão municipal. Nessa jornada, sempre motivada, a profissional segue inspirando as pessoas ao seu redor. “O meu filho mais novo, Francesco, quer ser Médico de Família e Comunidade. Cresceu me ouvindo falar bem do serviço”, comenta a gestora.
No entanto, ela reforça a importância do papel da comunidade por meio do Conselho Gestor, com seus segmentos, usuários, trabalhadores e gestores na gestão da saúde no território. “Precisamos de todos unidos para desempenhar nosso papel junto à comunidade, fortalecendo o SUS. Sou grata por toda a equipe que compõe a unidade. O papel conjunto da STS São Mateus e Fundação ABC, dando diretrizes claras, é fundamental para os bons resultados alcançados”, destaca.
Outro detalhe é a equipe que atua na AMA/UBS São Francisco II, que é composta, em sua maioria, por mulheres. “Temos cinco médicas e dois médicos, seis enfermeiras e um enfermeiro. No total, são 154 profissionais contratados, além de outros 14 nos serviços de apoio, totalizando 172 pessoas. Cada peça é fundamental para o funcionamento e promoção da saúde. Juntos somos mais fortes”, conclui a gestora.