Além do protocolo: Silvia busca fazer a diferença na vida dos pacientes

Profissional acredita que uma palavra de acolhimento também pode ajudar a curar

Aos 54 anos de idade, Silvia Helena da Silva tem mais tempo de vida dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) do que fora dele. Servidora pública da rede municipal de saúde desde os 23 anos, ela começou como copeira hospitalar no Hospital Municipal e Maternidade Professor Mario Degni, na zona oeste da capital. Por ser cuidadosa, ter ouvidos atentos e sempre estar pronta para dar uma palavra de conforto, ela foi incentivada pelas colegas a trabalhar com enfermagem.

No entanto, o apreço pela da área da saúde veio desde antes, de casa, ao ver a mãe trabalhar como atendente de enfermagem. E o instinto de cuidado despertou após perder o pai, aos 15 anos. Quando a irmã mais velha se uniu à mãe sustentar a casa, ela precisou ajudar na criação dos sete irmãos, dos quais quatro possuem deficiência intelectual. “Eu pensava: eu cuido tão bem deles, por que eu não posso fazer isso como trabalho também?”.

Sendo uma mulher negra e pobre, o preconceito racial atravessou a sua vida desde muito nova. Silvia conta que, por volta dos sete anos de idade, foi fisicamente agredida por uma diretora da escola em que estudava. Mas isso não fez com que ela desistisse dos estudos. Depois do curso de auxiliar, fez o técnico em enfermagem e hoje está fazendo a graduação na área.

A imagem é uma foto de Silvia, uma mulher negra, com cabelo preto, crespo e curto. Ela está sorrindo e com os olhos semiabertos. Ela está de braços cruzados coberta em tons de rosa e azul.

Silvia está há 31 anos trabalhando na Saúde da capital. (Arquivo pessoal)

Tanto no trabalho quanto na família, Silvia entende que o apoio das mulheres que passaram por sua vida foi decisivo para que ela pudesse enfrentar todos os desafios que surgiram ao longo do caminho. E ela busca fazer o mesmo com as pacientes: “Eu fico muito em cima das pessoas, especialmente das mulheres com mais de 40 anos que fazem parte do atendimento de Saúde Mental, para estimular, para levantar a autoestima para elas estudarem, fazerem um curso, serem independentes.”

Silvia acredita que a enfermagem permite ao profissional uma abordagem completa: “Cuidamos não só do ferimento físico, mas às vezes até do sofrimento na alma, você dá uma palavra e ajuda a pessoa”, diz ela, que hoje, além dos estudos, divide o seu tempo entre os cuidados com a família, composta pelo filho, a mãe, alguns irmãos e dois sobrinhos-netos, além de dois empregos, um no Centro de Convivência e Cooperativa (Cecco) Perus e outro no Hospital Municipal Dr. José Soares Hungria.

Silvia acredita que o trabalhar na Saúde é especial: “É de uma dignidade diferente ter um impacto real na vida das pessoas.”