Casa Angela celebra mais de 3,5 mil partos realizados em 15 anos

Serviço localizado na zona sul da capital oferece assistência à gestante durante o pré-natal, parto humanizado e acompanhamento ao bebê ao longo de oito meses

No mês de fevereiro, a Casa Angela, referência em parto humanizado na cidade de São Paulo, completa 15 anos. Neste período, mais de 3.500 bebês vieram ao mundo, auxiliados por enfermeiras obstetras e obstetrizes. Em 2023, foram acompanhados 465 partos no espaço, que funciona 24h e conta com uma equipe de 65 colaboradores, que inclui também técnicas de enfermagem e pessoal de apoio. 

Neste equipamento o protagonismo, no entanto, é sempre da parturiente, que pode escolher em que posição quer parir, se quer entrar na banheira ou não, se deseja uma massagem, um chá, um escalda-pés. E ainda quem deve acompanhá-la neste momento tão importante. É por todo esse cuidado, somado a um protocolo de atendimento rigoroso, que normalmente as mulheres que têm essa experiência na Casa Angela voltam para os próximos partos.

No caso da professora Bárbara Galter Francisco de Jesus, 31 anos, foram quatro: de João Pedro, 5 anos, Joaquim, 3 anos, Bento, 2 anos, e Mateus, nascido há dois meses. A decisão de buscar um serviço humanizado veio depois de um parto difícil do primeiro filho, Gabriel, que hoje tem 15 anos.

“Eu era muito jovem e tive o parto induzido às 39 semanas, sofri violência obstétrica e quase perdi o útero devido a uma infecção. Então, quando fiquei sabendo da Casa Angela por uma colega de trabalho, vim aqui com meu marido para um grupo de acolhimento. E tive certeza de que aqui era o lugar onde gostaria que o nosso filho nascesse”, relata Bárbara.

Segundo ela, o acolhimento recebido na casa de parto teve um impacto profundo na própria história da família. “Nos sentimos tão bem tratados que eu digo que o segundo parto funcionou como uma cura daquele primeiro, traumático; todo o amor e o acolhimento que recebi da equipe e que os meus bebês tiveram foram transformadores para a nossa vida. Foi algo tão intenso que sinto que faço parte deste lugar, desta história.”

Sua história tem pontos em comum com a de muitas outras mulheres que deram à luz na Casa Angela. Desde 2015 o serviço, localizado na região do Jardim São Luís, na zona sul da capital, integra a rede municipal de saúde e, juntamente com a Casa do Parto de Sapopemba, na zona leste, constitui a estrutura pública voltada ao parto natural e humanizado.

A foto mostra Bárbara, uma mulher branca, jovem, de cabelos pretos compridos. Ela está sentada em um sofá, segura um bebê no colo e está cercada de outras três crianças, todos meninos com menos de seis anos, e do marido, um homem moreno, de cabelos curtos e barba

Bárbara e a família: Casa Angela surgiu como espaço de acolhimento e cura (Foto: Acervo SMS)

Estrutura
A Casa Angela possui capacidade para receber 40 parturientes ao mês. Em 800 metros quadrados de área, estão dispostos quatro quartos de parto, dois alojamentos conjuntos para a mãe ficar junto do bebê e da pessoa que a acompanha, além de um salão no qual são realizados encontros de grupos, voltados tanto às gestantes (com uma programação que inclui preparação para o parto, cuidados com o bebê, amamentação e puerpério) quanto às puérperas. O local também possui uma cozinha própria, de onde saem todas as refeições, elaboradas com produtos naturais e seguindo eventuais restrições apontadas no Plano de Parto de cada mulher.

Acompanhamento começa com 28 semanas
O acompanhamento das gestantes interessadas em ter bebê no local acontece a partir das 28 semanas de gestação, desde que seja uma gravidez de baixo risco e o pré-natal esteja sendo feito em uma das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da capital. Até as 37 semanas as consultas são quinzenais, em paralelo ao acompanhamento na UBS. Depois, até as 40 semanas, passam a ser semanais ou de acordo com a necessidade, até o momento do parto.

De acordo com o protocolo da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) para as casas de parto, este pode ser realizado até as 41 semanas. Atingido este limite, a gestante é encaminhada para o hospital de referência do território. No caso da Casa Angela, o Hospital Municipal Dr. Fernando Mauro Pires da Rocha – do Campo Limpo, localizado a uma distância de cinco minutos em ambulância.

Segundo a gerente administrativa da Casa Angela, Amanda Meskauskas Melkunas, cerca de 20% das gestantes assistidas pela unidade acabam realizando o parto em hospital, seja em função de algum episódio que envolva risco à sua saúde e à do bebê, como um quadro hipertensivo, por exemplo, ou porque a mulher atingiu as 41 semanas de gravidez sem que o trabalho de parto se inicie. Isso não significa que ela não terá um parto natural, mas que possivelmente terá um parto normal induzido, o que requer a presença de uma equipe médica, num ambiente hospitalar. A casa possui uma ambulância disponível 24h, caso seja necessário realizar transferências.

Respeito e autonomia
A própria Amanda conheceu a Casa Angela como gestante, quando buscou um serviço no qual não se sentisse pressionada a passar por uma cirurgia cesariana. Assim nasceu seu primeiro filho, Pedro, hoje com 9 anos; o caçula, Artur, de 5 anos, nasceu quando ela já havia assumido a administração do espaço.

“Ser gestora da Casa Angela hoje me traz uma satisfação enorme e um grande comprometimento, de proporcionar essa mesma assistência a outras mulheres, pois sou testemunha do impacto profundo que isso causa na vida das mães, das famílias, dos bebês”, comenta Amanda, lembrando que o Plano de Parto que a gestante é convidada a fazer quando começa a ser acompanhada pela equipe garante que suas vontades e orientações serão respeitadas.

“No Plano de Parto elas indicam os procedimentos que desejam e autorizam, aqueles que não querem que sejam feitos e outras informações e vontades, como música, fotos de família e acompanhantes; com esses cuidados elas sentem-se mais confiantes, felizes e seguras, e temos melhores resultados”, diz a gestora. “Aqui cada parto é um parto, conhecemos todas as mulheres e todos os bebês, preservamos o respeito, a qualidade da assistência e o cuidado com a segurança da mãe e do bebê.

A foto mostra Amanda Meskauskas, uma mulher jovem, de cabelos ruivos presos; ela sorrri e segura um recorte de jornal escrito em uma língua estrangeira, no qual se vê a foto da parteira Angela, uma mulher loura com um bebê no colo e outras crianças e bebês atrás de si

Amanda: casa segue a tradição de parto humanizado iniciada na região por Angela (Foto: Acervo SMS)

Trabalho realizado por parteira alemã está na origem do serviço
A inauguração da Casa Angela, em 2009, se deu por iniciativa da Associação Comunitária Monte Azul, a partir do trabalho que vinha sendo realizado desde os anos 80 pela parteira alemã Angela Gehrke da Silva na comunidade do Jardim Monte Azul. Angela faleceu no ano de 2000, mas a casa de parto renasceu como Casa Angela graças ao trabalho da médica alemã Anke Riedel, que coordenou a implantação da nova casa. O convênio com a SMS, em 2015, permitiu a manutenção da atual estrutura.

Saiba mais sobre os serviços oferecidos no Pacote Parto da Casa Angela:

> acompanhamento pré-natal;
> cursos de preparação para o parto e a maternidade para gestantes e acompanhantes;
> acompanhamento do parto por enfermeira obstétrica e obstetriz;
> até dois acompanhantes de escolha da mulher no momento do parto;
> transferência para hospital, em caso de necessidade;
> internação de 24 a 48 horas no quarto privado para a mãe, bebê e um acompanhante, com alimentação e hotelaria completa;
> exames de triagem neonatal;
> duas a três consultas pós-parto para mãe e bebê com enfermeira obstetra ou obstetriz;
> apoio à amamentação (24h);
> curso Meu Bebê (acompanhamento do bebê ao longo de oito meses).

A Casa Angela está localizada na Rua Mahamed Aguil, 34, Jardim Mirante. Veja mais informações aqui:
http://www.casaangela.org.br/index.html