Enfermeira no Caps conta como a terapia em grupo ajuda mulheres a cuidar da saúde mental

Com a saúde mental coletiva, Karolina dos Santos Germano transforma a vida de pacientes do SUS da capital

Para Karoline dos Santos Germano, 31 anos, mais importante do que tratar doenças, desde o início da formação, era poder se dedicar a projetos que promovessem a saúde. O trabalho que realiza no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Álcool e Drogas II Sapopemba oferece essa oportunidade à enfermeira nascida e criada em Santo André, cidade da região do ABC Paulista. Karol, como é conhecida, se formou em 2013 na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu, no curso de enfermagem.

Quando terminou a graduação, fez um intercâmbio e pôde conhecer as políticas de saúde na Irlanda, onde morou durante três anos e trabalhou como cuidadora de idosos. De volta ao Brasil, a enfermeira se especializou em saúde mental coletiva na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS). Em 2020, iniciou o mestrado em enfermagem na Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Em setembro do mesmo ano, Karol foi trabalhar no Sistema Único de Saúde (SUS) da capital paulista.

Nessa trajetória no serviço público de saúde, ela tem conhecido as “histórias que a transformaram”. João, (nome fictício), um homem de 27 anos em situação de rua, é um desses protagonistas. Quando buscava o Caps, permanecia no banheiro, como lembra Karol. “Ele chegou de um jeito diferente, entrava na unidade e passava duas, três horas no banheiro. Isso aconteceu algumas vezes, até que eu o chamei para conversar e o homem me contou que passava essas horas por lá para dormir, pois estava em situação de rua e não conseguia descansar”, conta. A enfermeira procurou os colegas para compartilhar o problema para juntos encontrarem uma solução. “No começo ele resistiu, não queria ir para uma acolhida em tempo integral. Nós respeitamos a vontade dele e o inserimos em um projeto intensivo. João chegava de manhã e passava o dia conosco, recebia atendimento, almoçava, tomava banho, mas voltava para rua no final do dia”, lembra.

Só que essa situação começou a incomodar a jovem, que via os outros pacientes indo embora para casa, enquanto ele ficava na rua. A equipe de saúde do Caps apresentou ao João outras possibilidades e ele pediu para ser encaminhado a um Caps III, unidade que oferece a acolhida integral, para depois ser aceito em um Serviço Integrado de Acolhida Terapêutica (Siat), onde teria a chance de retomar a convivência social e com a família.

“Possibilidade” é uma das palavras preferidas de Karoline. Com Juliana Aureana Leal e Tatiana Natalino Vilches, terapeutas ocupacionais do Caps II Sapopemba, a enfermeira criou um grupo para que as mulheres em tratamento contassem suas histórias. A iniciativa foi reconhecida, em março último, na 11ª edição do Prêmio David Capistrano, do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo (Cosems/ SP). “Crônicas de Marias – Escrevivências de mulheres que usam substâncias psicoativas na periferia de São Paulo” resultou em bem mais do que inicialmente seria um grupo de contação de histórias. No primeiro dia, após uma das mulheres compartilhar a vivência, ela resolveu escrever o relato e o leu para a paciente. “Isso teve um efeito que eu não imaginava, nos conectamos àquelas mulheres, não era a Karoline enfermeira, a Juliana e a Tatiana terapeutas ocupacionais e um grupo que precisava de ajuda, éramos mulheres compartilhando nossas dores e acolhendo umas às outras.”

Maryara, uma das personagens dessas histórias reais, contou sobre a estada em um centro de acolhida. Ela havia sido vítima de violência e não tinha onde morar. A situação de vulnerabilidade social era descrita pela mulher, enquanto as mãos se ocupavam de dobraduras que viravam flores de papel. Depois, Karol conta que o artesanato era entregue às participantes do grupo, quando contavam suas histórias para as demais. “Era um símbolo de acolhimento e afeto”, conclui.

Para saber mais sobre a história da Karoline dos Santos Germano, assista ao vídeo no Youtube da Secretaria Municipal da Saúde (SMS).