Uso Racional de Antibióticos e Agravamento da Resistência Bacteriana

Assunto foi tema de programa do Canal Profissional

Por: Marcella Jeane Duarte

Para falar sobre Uso Racional de Antibióticos e Agravamento da Resistência Bacteriana, o médico Milton S. Lapchik, coordenador do Núcleo Municipal de Controle de Infecção Hospitalar CCD/COVISA, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) esteve presente, na última sexta-feira (10), esteve presente nos estúdios do Canal Profissional da Rede São Paulo Saudável, na sede da Escola Municipal de Saúde, para participar do programa Formação em Debate.

Milton explicou que bactérias multirresistentes são aquelas que não respondem ao uso da maior parte dos antibióticos testados no exame laboratorial. “É uma preocupação enquanto saúde pública, saúde coletiva, considerando inclusive as possibilidades de erro de tratamento, de falha de tratamento pelo alto índice de resistências das bactérias aos antibióticos”, salientou.

BACTÉRIAS RESISTENTES E ATENÇÃO BÁSICA
O médico também apontou a possibilidade de os profissionais da atenção básica encontrarem casos de pacientes que sofram com bactérias resistentes à medicação, principalmente se o paciente tiver um histórico de internação em hospitais, infecções de repetição ou então ter feito uso de antibiótico por muito tempo. “Daí a importância, de mesmo nas unidades básicas de saúde, ou nas diversas modalidades de assistência à saúde, todos estarem atentos aos antecedentes do paciente, considerando as práticas de precaução de isolamento, biossegurança, no atendimento desses pacientes, evitando a disseminação dessas bactérias para o ambiente ou para outros pacientes dentro do serviço de saúde”, reforçou.

SITUAÇÃO NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
Ele esclareceu que o município de São Paulo, desde 2004, conta com um programa de monitoramento de bactérias causadoras de infecções hospitalares. Entre as bactérias mais encontradas, temos a klebsiella, conhecida como superbactéria, resistente aos carbapenêmicos. Essa mesma bactéria, alertou o médico, está se tornando resistentes as polimixicinas. “Nessa situação, muitas vezes, o médico se vê de mãos atadas, sem saber o que fazer com o seu paciente”, lamentou.

PREVENÇÃO NO AMBIENTE HOSPITALAR
O médico reforçou que, para evitar a disseminação de bactérias multirresistentes nos ambientes hospitalares, o ideal é manter as práticas de precaução padrão e isolamento de contato. "Basicamente isso envolve higiene de mãos, do profissional de saúde e de todo mundo que prestar assistência ao paciente, a utilização de luvas de procedimento, avental descartável, sempre que for entrar no box ou no quarto do paciente e, após o atendimento, descartar esses EPIS (equipamento de proteção individual) de maneira correta, como resíduo infectante”, reiterou. O ideal, segundo ele, é que os serviços monitorem a adesão dos profissionais de saúde a esse procedimento.

PROTOCOLOS
Sobrea existência de protocolos de prevenção à disseminação e contaminação de bactérias multirresistentes no município de São Paulo, ele explicou que eles são alinhados com aqueles existentes em nível estadual e federal, do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), com respaldo da literatura internacional. “O que nós temos preconizado nas reuniões com os profissionais que atuam em comissão de controle de infecção hospitalar é que cada hospital defina a adaptação desses protocolos a sua rotina, a sua estrutura. O que é fundamental é que exista um monitoramento, um gerenciamento desses protocolos, dessas ações, seja através de auditorias internas, através de indicadores próprios, de maneira que a gente tenha sempre a máxima adesão a esses procedimentos de biossegurança e do uso racional de antimicrobianos nos hospitais”, pontuou.

Ele também destacou que cada ambiente de atendimento pode encontrar uma diferente situação de resistência bacteriana e, por isso, “é fundamental que cada hospital estabeleça o seu protocolo, as suas indicações de terapia, baseado no cenário local de multirresistência bacteriana”.

USO RACIONAL DE ANTIBIÓTICOS
Sobre o uso consciente de antibióticos, Milton falou sobre a importância de o médico pedir a realização do exame de cultura e o antibiograma para a identificação adequada do causador da infecção. Além disso, é importante ter cautela em relação à posologia do medicamento, a duração do tratamento e também a interação medicamentosa. “O uso prolongado de antibióticos de maneira até desnecessária agrava a questão da resistência bacteriana aos antibióticos. Então, como princípio do uso racional dos antibióticos, é importante a gente atentar para a duração correta do tratamento, sem estender de maneira desnecessária o tratamento com antimicrobianos”, recomendou.

NOTIFICAÇÃO DOS CASOS
Sobre a notificação de casos de infecção por bactérias multirresistentes, a recomendação é que seja feita em casos de surto, epidemias, tanto no ambiente do serviço de saúde quanto na comunidade em que está inserido. “Casos isolados, casos pontuais, específicos de infecção por uma bactéria multirresistente(...) para alguns tipos existe um trabalho de vigilância, de monitoramento microbiológico, no sentido de confirmar o mecanismo de resistência dessas bactérias aos antibióticos”, explicou.

FALHA TERAPÊUTICA
Quando ocorre a chamada falha terapêutica, ou seja, quando o uso do antibiótico não dá resultado, alguns aspectos importantes devem ser considerados, entre eles: a possibilidade de o agente causador da infecção ser resistente a medicação utilizada, a possibilidade de superinfecções e má adesão do tratamento pelo paciente. “São aspectos a serem considerados numa situação de falha terapêutica com paciente que está usando antimicrobiano”, esclareceu.

TERAPIA SEQUENCIAL
Segundo Milton, a terapia sequencial é uma estratégia para uso racional de antibióticos, passando a utilização do medicamento da via venosa para a via oral, dando continuidade ao tratamento. “O fato de você reduzir o uso de antibióticos por via endovenosa também está associado à retirada do cateter vascular desse paciente. Para quem trabalha no controle da infecção hospitalar o uso desses dispositivos invasivos, como cateter vascular, é considerado porta de entrada de microrganismos e incorre em maior risco de infecções por contaminação desses dispositivos”, declarou.

ARSENAL TERAPÊUTICO
Apesar de alguns agentes causadores de infecção serem resistentes a todos os tipos de antibióticos, Milton declarou que a maioria das bactérias respondem aos medicamentos disponíveis na rede pública de saúde.

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