Mulheres da limpeza urbana de São Paulo: oito histórias inspiradoras no dia oito de março

Presentes em diversos setores, como coleta domiciliar e limpeza das vias, elas são essenciais para manter a zeladoria na maior cidade da América Latina

A limpeza urbana da maior cidade da América Latina conta com a dedicação e o trabalho de mulheres que atuam no serviço de coleta domiciliar seletiva, varrição das vias, operação de Ecoponto, segurança do trabalho, setor médico, entre outras atividades. O esforço desse time feminino contribui para que a Prefeitura de São Paulo, por meio da Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (AMLURB), colete cerca de 20 mil toneladas de resíduos por dia, sendo 12 mil toneladas de resíduos do serviço de coleta domiciliar e 8 mil na limpeza urbana.

Para celebrar o Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, a AMLURB apresenta oito histórias inspiradoras de mulheres que fazem parte do time de zeladoria urbana da capital paulista.



Ananias dos Santos Lima - Ajudante de Serviços Diversos

 

A trajetória de Ananias dos Santos em São Paulo começou ainda muito jovem, com apenas 14 anos trocou a cidade de Barrocas, na Bahia, pela capital paulista. Antes de atuar na limpeza urbana da cidade, trabalhou como atendente em salão de cabeleireiro, cuidadora de crianças e com limpeza doméstica. Há sete anos atua como ajudante de serviços diversos na região da Subprefeitura de Vila Prudente, “Gosto muito de trabalhar na limpeza pública, estou sempre na rua, não há uma rotina, e por isso podemos atuar em diversas áreas de zeladoria”, diz Ana, como gosta de ser chamada.

Ela também participa do projeto Revitaliza SP, que elimina e recupera todos os sábados espaços que viviam com acúmulo de lixo. Para ela, trabalhar nesse projeto é como uma terapia, pois durante as ações de revitalização tem a oportunidade de mexer na terra, plantar flores e decorar o local que era um ponto viciado de lixo. Hoje com 39 anos, Ananias conquistou casa própria, carro e atualmente cursa Enfermagem – profissão que pretende atuar no futuro.

Sobre a importância do papel da mulher na área, Ananias afirma ter muito orgulho em fazer parte de um serviço que apenas homens faziam anteriormente. “Hoje a mulher pode ser tudo o que ela quiser, ela pode dirigir um caminhão e fazer muitas outras atividades que antes não eram possíveis. Não há profissão que a mulher não possa atuar, inclusive na limpeza da cidade”, diz Ana. 


Maurília Borges - Técnica de Enfermagem



Maurília Borges, 51 anos, nascida e criada no Maranhão, veio para São Paulo em busca de oportunidade de emprego ainda muito jovem, com 23 anos, e começou a trabalhar como varredora, em 1994. Em busca de melhorar cada vez mais sua vida, em meados de 2009, se formou em Técnica de Enfermagem e dois anos mais tarde foi remanejada para o serviço médico, onde atua até os dias de hoje, cuidando da saúde dos coletores de lixo, da Zona Noroeste da cidade.

Casada há 26 anos com Romildo Carlos, Maurília tem dois filhos, Maurício Guedes (23) e Ronald Guedes (24). Ambos são formados e, segundo a colaboradora, tudo que conseguiu foi graças ao seu trabalho na limpeza urbana. Maurício é radiologista e Ronald é analista de sistema.


Íris Liberth Sevilla Medina - Varredora



A venezuelana Íris Liberth, de 48 anos, atua como varredora na região da Subprefeitura de Itaquera, em São Paulo. Íris decidiu deixar sua cidade natal, em Taíra, na Venezuela, em busca de uma vida melhor. Em 2019, ela e o marido chegaram ao Brasil pelo estado de Roraima, onde viveram por cinco meses. Já em solo brasileiro, o casal enfrentou dificuldades financeiras e falta de moradia.

A vida dos dois mudou completamente quando conheceram um pastor que entregava alimentos para pessoas carentes. Ele tinha um projeto social em São Paulo e os convidou para uma nova vida na metrópole. Iris passou a atuar como voluntária do projeto religioso, quando conheceu uma Analista de Responsabilidade Social de um dos consórcios de limpeza urbana da cidade. Esse encontro foi essencial para que ela conseguisse a sua primeira oportunidade de trabalho na zeladoria urbana.

“Eu cuido da rua como se fosse minha casa. Sei como é sofrido não ter uma”, conta a varredora. 



Ramaiane Santos de Almeida – Técnica de Segurança do Trabalho



Com 10 anos de experiência na limpeza pública de São Paulo, Ramaiane iniciou sua jornada como varredora, depois atuou como ajudante de serviços diversos no Ecoponto Cangaiba, na Zona Leste.

Em busca de realizar um sonho, após finalizar o ensino médio, Ramaiane fez o curso de técnico em segurança do trabalho e de bombeiro civil. Seus esforços foram reconhecidos e ela foi promovida a Técnica de Segurança do Trabalho – cargo que sempre admirou desde a época que varria as ruas da cidade.

Ramaiane não pretende parar por aqui, ela conta que ainda tem muitos sonhos a realizar, um deles é fazer uma graduação em fisioterapia e poder atuar na área da saúde para cuidar das pessoas.


Princiane da Silva Jesus Nobre – Varredora

Mãe ainda na adolescência, Princiane da Silva Jesus Nobre, de 28 anos, hoje trabalha como varredora na Zona Leste, nas regiões das Subprefeituras de Itaim Paulista e Guaianazes. Desde 18 anos, tentava uma vaga como varredora em uma das empresas prestadoras do serviço na capital paulista. Segundo ela, sempre admirou a profissão, mas quando externava sua vontade de trabalhar varrendo as ruas da cidade sofria preconceitos por parte de familiares e vizinhos.

Em 2018, quando finalmente conseguiu a oportunidade, não hesitou. Agarrou a chance e conseguiu mostrar o valor do serviço para aqueles que achavam o contrário. “Trabalhar como varredora é levantar todos os dias com um objetivo, deixar a cidade mais limpa e ver que as pessoas ficam satisfeitas com isso. No fim do dia, chega a hora de pendurar o uniforme e sentir a sensação de dever cumprido”, conta.

Há seis anos, Princiane é voluntária no Hospital A. C. Camargo, onde é conhecida como a palhaça Princi Florzinha. Seu objetivo é arrancar gargalhadas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes e seus familiares. Neste momento, o trabalho está paralisado devido à pandemia do COVID-19.


Maria José dos Santos – Coletora de Recicláveis


 

Maria José atua como coletora no serviço de coleta domiciliar seletiva há oito anos, na região da Subprefeitura de Vila Mariana. Ela faz parte do time que recolheu o maior número de resíduos secos passíveis de reciclagem nos últimos dez anos. Em 2020 foram coletadas cerca de 94.4 mil toneladas de recicláveis – um aumento de 17,4%, comparado ao mesmo período do ano anterior. 

Aos 34 anos, Maria é mãe de dois filhos e também é casada com um coletor, que atua no serviço de coleta comum na cidade. Possui muito orgulho da profissão que exerce, pois acredita que além de ajudar a manter a cidade limpa, também contribui para conscientização ambiental da população. Isso porque, durante seu trabalho, Maria também auxilia os moradores sobre o descarte correto dos materiais recicláveis.


Cristiana Papaiani de Carvalho – Ajudante de Serviços Diversos



“Eu trabalhava na Rua Tutóia, ali pertinho da Avenida 23 de Maio, no Paraíso, e via os garis passando. Ficava admirada e pensava: um dia, também vou estar aí, no meio da rua, fazendo parte disso”, conta com grande sorriso Cristiana Papaiani. Após 11 meses tentando uma vaga na limpeza urbana da cidade, Cristiana agora atua como ajudante de serviços na Zona Sul da cidade, onde realiza diariamente diversas tarefas de zeladoria, como manuseio do carrinho de pintura, reforço do grupo de coleta de resíduos, varrição de vias, entre outras atividades.

O que significa trabalhar na limpeza urbana? Cristiana responde com muita sinceridade: “É muito bom, era tudo o que eu queria e tenho o desejo de me aposentar nesta área”, conta. A vida melhorou para ela e as duas filhas: Yara, de 25 anos, cursa graduação em Matemática; e Yasmin, de 15 anos, é estudante do ensino fundamental.

Neste 8 de março é dia de comemoração dupla: além do Dia Internacional da Mulher, é também seu aniversário – está fazendo 43 anos.
 

Marinalva Bastista – Assistente de Recursos Humanos


Marinalva Batista, de 49 anos, é nascida em Canavieiras, Bahia. Criada em São Paulo desde pequena, há 10 anos trabalha em umas das empresas de coleta domiciliar no município.

Em 2011, exercia a função de auxiliar de Recursos Humanos e, depois de promovida, passou a atuar como Assistente de RH. Mari, como gosta de ser chamada, possui algumas limitações físicas, mas isso nunca a impediu de ser uma grande profissional e muito admirada pelos colegas de equipe.

“Não me sinto PCD na empresa, me sinto uma profissional como qualquer outra. Se você procurar oportunidade, irá encontrar. Tudo vai depender do que almeja. Você tem de buscar conhecimentos. Sou a prova de que é possível.”