Após vinte anos de espera, os moradores da região norte de São Paulo ganham um presente do tamanho de São Paulo: o Parque do Trote. Idealizado para revitalizar o local que antigamente abrigava a Sociedade Paulista de Trote (SPT), o projeto do Parque do Trote - realizado pela Secretaria do Verde e Meio Ambiente, Secretaria Especial da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida e Secretaria Municipal de Cultura, sob o gerenciamento da Subprefeitura Vila Maria/Vila Guilherme - devolveu para a cidade um endereço histórico, que marcou a geração paulistana das décadas de 50 e 60.

O evento de inauguração, que aconteceria no dia 02 de julho, foi adiado em razão da chuva, mas o Parque já está aberto para visitação.

A revitalização da área que pertenceu a SPT traz uma grande novidade para mais de 3 milhões de paulistanos que têm alguma deficiência ou mobilidade reduzida. O Parque do Trote é o primeiro endereço de lazer da cidade a ser totalmente acessível a essas pessoas. A primeira etapa das obras durou três meses e transformou o local. Foram construídos uma nova entrada, pátio para eventos, playground, pista de bicicleta, pista de cooper e trilha dos sentidos. O restauro do salão de festas - que faria parte da quarta etapa - também já está sendo realizado.

Para as pessoas com deficiência foram construídos acessos por toda a área do parque, colocados corrimãos na pista de Cooper - além da implantação de piso intertravado (ideal para a circulação de cadeiras de rodas) e piso tátil de alerta para deficientes visuais. No playground foram disponibilizados brinquedos adaptados desenvolvidos com tecnologia assistiva, ou seja, equipamentos feitos sob medida para melhorar as habilidades de pessoas com deficiência. E, claro, a criação da trilha dos sentidos, que é um jardim com plantas aromáticas e flores de diversas texturas que possibilitam a um deficiente visual participar da natureza.

A segunda etapa está em fase de orçamento e licitação. As obras prevêem o paisagismo, drenagem e recuperação da pista e iluminação. A terceira e quarta etapas estão em detalhamento de projeto e pressupõem o restauro da casa da administração, cocheiras e construção do espaço para equoterapia. A obra está orçada em R$ 3 milhões de reais e é realizada em parceria com a iniciativa privada. As empresas construtoras Cyrella e Vivenda Nobre são as responsáveis pelos serviços.

Duas décadas de história

A Sociedade Paulista de Trote foi inaugurada em 1944 e viveu seu apogeu entre as décadas de 50 e 75. Ela surgiu da união de carroceiros e imigrantes (principalmente portugueses).

O trote é uma espécie de corrida de charretinhas e cavalgada com velocidade inferior ao galope. O hipódromo da Vila Guilherme era o único especializado em trote no Brasil. Primo pobre do Jóquei Clube, nos anos 50 e 60, os guichês de aposta eram disputados pela elite paulistana e atraíam centenas de apostadores. Cerca de 10 mil pessoas freqüentavam o local em dias de corrida. Os resultados dos páreos eram divulgados em importantes jornais da época, como o Gazeta Esportiva, no dia seguinte às provas.

Além das corridas, o Trote era o único local de lazer e diversão do bairro. "Todos os eventos importantes e casamentos eram feitos lá", afirma Marcolino Duque, 72, um dos sócios fundadores da Sociedade. Segundo ele, o Trote era uma referência à população, tanto que havia uma linha de ônibus que saíam da Praça Clóvis (centro de São Paulo) e ia direto para lá. Uma visita ao Trote constava no roteiro turístico da cidade.

Nos tempos áureos, o terreno da Sociedade Paulista de Trote era cercado por bambus vivos. Para Marcolino era o que dava mais charme ao local. "O lugar era extraordinário", disse.

Havia um restaurante muito freqüentado até 1980 que servia todos os tipos de comida. As homenagens aos políticos e personalidades do bairro eram realizadas lá. "Eles faziam uma pizza maravilhosa", relembra Marcolino

No entanto, nos últimos anos, as provas de trote já não atraíam tanto público quanto antigamente. O espaço foi se degradando, em parte devido ao que o Sr. Marcolino define como um processo de desapropriação mal feito, iniciado em 1986, ainda na administração do ex-prefeito Jânio Quadros (1983-1986), e que acabou se estendendo por muito tempo.

No local foi construído o Parque da Vila Guilherme. No entanto, em fevereiro do ano passado, finalmente, a Prefeitura de São Paulo assinou um acordo com a Sociedade Paulista de Trote para a desapropriação total da área.

Com a posse da área a Prefeitura iniciou um processo de limpeza, com corte de mato e dedetização das cocheiras. O local passou a ser freqüentado pelos moradores do bairro que aproveitam a pista do trote para realizar caminhadas.

Com a desapropriação da área em 2005, a atual diretoria da Sociedade adquiriu um terreno em Itaquaquecetuba para construir um novo Trote. Segundo Marcolino, a área deve abrigar 100 a 150 cavalos de primeira linha importados da Argentina. "Em um ano esperamos estar com as obras concluídas", afirma.

Mais informações:

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Claudia Carletto

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