Já era fim de tarde do domingo (22), e mesmo com chuva a plateia estava cheia, sentia-se a ansiedade no ar, havia crianças e adultos empolgados e nenhum assento livre. E por fim, pontualmente foi anunciado que o espetáculo “Meu amigo Charlie Brown – Musical da Broadway”, iria começar, fazendo todos dirigirem sua atenção, sem nem piscar para o palco situado no Vale do Anhangabaú, na 12ª edição da Virada Cultural.

A peça contou com audiodescrição, recurso que descreve todos os detalhes que compreendemos por meio da observação, como por exemplo, figurinos, expressões faciais, cenário e mudança de tempo, que torna acessível para cegos e pessoas com baixa visão. Na prática, o método funciona por meio de um fone de ouvido com uma frequência exata da cabine em que está a audiodescritora, que transmite de modo sincronizado os detalhes da cena. Essa acessibilidade foi disponibilizada pela Secretária Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida – SMPED.

O show contou sobre um dia comum na vida de Charlie Brown, um menino com uma infinita esperança e determinação, mas que é dominada por suas inseguranças e uma incrível má sorte. Acompanhado de seus amigos Schroeder, Lino, Lucy e Sally, e com seu fiel companheiro, o cachorro Snoopy, a trama é recheada de pequenos momentos do cotidiano de uma criança, como ir para escola, tomar lanche e passear, porém com muita diversão e atrapalhadas.

Nickollas Grecco, de 9 anos, que é cego, acompanhou a peça por meio do fone de ouvido. Sua mãe, Silvia Grecco, contou sobre a reação do filho durante a apresentação: “Teve um momento em que o Nickollas deu muita risada e começou a pular, então questionei sobre o que a audiodescritora tinha falado, e ele contou direitinho que o pote de comida do Snoopy estava vazio, e que o cachorro queria comer e chamava pelo dono, o Charlie Brown. Então, percebi que realmente ele interagiu e entendeu todo o espetáculo”, falou apaixonadamente Silvia.

No final da montagem, o ator Tiago Abravanel, que interpretou Snoopy, e todo elenco do musical concederam alguns minutos nos bastidores para conhecer as crianças com deficiência que estavam na plateia. Muito atenciosos, perguntaram a Nickollas o que ele havia achado do teatro e da audiodescrição. Com um sorriso enorme e um pouco envergonhado, o pequeno respondeu: “Gostei muito!”.