Com tradução em Libras, letras de rap são transformadas em poesia visual

O rap tomou conta do Vale do Anhangabaú nessa Virada Cultural e junto com ele a tradução para Libras

Apesar do sol forte na tarde de domingo, as centenas de pessoas presentes no Vale do Anhangabaú cantaram as rápidas letras de rap do cantor Dexter sem perder o ritmo e fazendo muito barulho. Com discursos de propagação do amor, respeito e não violência, o rapper e a sua família 8º anjo inspiraram e conquistaram o público caloroso. Seu carisma cresceu ainda mais quando chamou amigos ao palco para expressar sua admiração por eles, incluindo até um garotinho. Nos seus 41 anos de idade, o rapper acredita na inclusão social e parabenizou a atuação dos intérpretes de Libras disponibilizados pela Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida. “Fiquei lisonjeado de ter uma pessoa dessas no palco passando a minha mensagem. As pessoas merecem saber e conhecer o que está sendo falado, é um processo importantíssimo de inclusão e é exatamente isso o que o rap faz”, assinalou o cantor.

A amiga de Dexter, Mônica Araújo, de 36 anos, disse ter se surpreendido com a quantidade de crianças curtindo o show e cantando as letras revolucionárias e com a tradução em Libras. “O rap leva uma mensagem positiva para todos nós e também para a inclusão social. A música tem força para levar-nos para cima, levar mensagem de paz”, declarou.

“A gente pode transformar música em poesia”, afirmou Fabiano Campos, intérprete de Libras do palco de rap que se apaixonou pela língua de sinais em 1999. Apesar de ainda trabalhar em outras áreas, Fabiano contou ter se descoberto na arte, no teatro e na música. “Acredito que a arte transforma vidas, e o surdo precisa dela para ser transformado”, comentou. Ele admitiu também ser fã do estilo de música e dos artistas que estava interpretando e confessou o nervosismo e a dificuldade. “O desafio na verdade é conciliar o rap e a letra com a questão do ritmo e a velocidade que é cantado”.

Na sequência, o palco do Anhangabaú foi o cenário para uma viagem pelo rap nacional, apresentada por Milton Salles e com participação de convidados, entre eles Thaíde, Pepeu e Rappin Hood, todos acompanhados por intérpretes de Libras.

Sidnei Chagas, de 43 anos, é assessor jurídico do grupo Quimika, um dos que subiram ao palco, e pai de Akin, garoto de 12 anos que possui deficiência auditiva. “Isso foi a junção daquilo que gostamos em nível de música com a inserção do surdo dentro do evento da Prefeitura”, comentou. “Quando ele (meu filho) viu o Fabiano já ficou feliz. A postura dele mudou porque ele pensou ‘não estou sozinho’”, contou Sidnei sobre a impressão de Akin.