Sete chances para recomeçar

Após levar 7 tiros , garoto da zona sul de São Paulo tem uma nova perspectiva de vida a partir do tratamento no Centro Especializado em Reabilitação (CER IV)

Allan Carvalho Alves era um garoto de 17 anos extrovertido e bem disposto.Trabalhava na entrega de gás de cozinha e fazia bicos entregando pizzas a noite para ajudar na renda da casa, que dividia com a mãe, Maria de Fátima, no Grajaú. No dia 18 de dezembro de 2012, quando estava em um salão de cabeleireiro aguardando sua vez, foi vitima de um grupo de atiradores. Allan, que estava de costas, não percebeu a movimentação e levou sete tiros (no braço , nas costas, na barriga, na nuca , e no pé). Até hoje, não sabe quem foram os autores dos disparos.

Ao ser socorrido, Allan foi diretamente para a mesa de cirurgia. Ele teve hemorragias, infecções, complicações hospitalares, quebrou a bacia e sofreu uma lesão medular grave que o colocou em uma cadeira de rodas. Ao todo, Allan passou quase três meses no hospital.

A partir daí, Allan tinha duas opções. Desistir da vida ou recomeçar a partir dali. Apesar de estar sofrendo muito, ele escolheu a segunda opção.

Já em casa, o início do tratamento foi muito difícil. Allan passava a maior parte do tempo deitado sob os cuidados da mãe e de um amigo, que morou com eles por dois meses.

A reviravolta começou em maio de 2013, quando Allan foi encaminhado para tratamento no antigo NIR/NISA (Núcleo Integrado de Reabilitação / e de Saúde Auditiva) M’Boi Mirim, administrado pela organização social CEJAM, em convênio com a Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura de São Paulo. Após passar pela avaliação de uma equipe multidisciplinar formada por fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos e enfermeiros, iniciou uma série de atividades para a sua reabilitação. O tratamento também ajudou Allan a conhecer novas pessoas, fazer novos amigos e verdadeiramente começar a viver a sua nova vida.

Hoje com 19 anos, o rapaz é mais otimista, faz natação, sai com amigos , namora e tem autonomia. “Nunca coloquei obstáculos para nada que eu precisasse fazer. Não fico botando dificuldades no meu caminho. Se eu desistir de subir uma rua por ela ser muito inclinada , não vou sair do lugar , então , mesmo que eu demore , eu vou por ali mesmo “ afirma.

A maior preocupação do rapaz era a dificuldade de se relacionar com as garotas, afinal, antes nunca havia tido problemas com isso, mas acabou se surpreendendo. As oportunidades aumentaram e até convite para dar carona em sua cadeira de rodas ele recebeu. “Meu sonho é me formar em engenharia mecânica e ajudar minha mãe que já me ajudou tanto” finaliza o garoto com brilho nos olhos.

Eduardo Luis Moreira, fisioterapeuta da unidade de reabilitação conta que Allan chegou ao local com o emocional muito abalado, porém, com o passar do tempo, o tratamento foi dando um resultado muito bom e tudo foi evoluindo. “É como se fosse uma viagem que deu errado, como se ele tivesse se programado para ir para um país e chegasse a outro totalmente diferente, uma nova descoberta”, conclui.

Desde o final de 2013, o NIR M’Boi Mirim foi habilitado para um Centro Especializado em Reabilitação (CER IV) e passou a atender também pessoas com deficiência visual. Antes já realizava tratamento para casos de deficiência auditiva, motora, e intelectual.

Com investimentos de R$ 345 mil por mês, vindos do Governo Federal, o serviço segue as diretrizes da Portaria 793/2012 do Ministério da Saúde. Ela estabelece a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) de atenção ambulatorial especializada em reabilitação. O CER realiza o diagnóstico, tratamento, adaptação e manutenção com foco no olhar do Projeto Terapêutico Singular dos pacientes que abrange o trabalho integrado da equipe multiprofissional, do paciente e da família.

Além do CER IV M’Boi Mirim, está prevista, no Plano Municipal São Paulo Mais Inclusiva, a implementação de outros 14 CERs na capital até 2016.