Histórias de Superação - Lucidez e acessibilidade

Dona Joselina Pereira,70 anos batalhou insistentemente para morar em sua casa. O que a impedia? A falta de acessibilidade em seu prédio

Quem vê Joselina Pereira não acredita na persistência que a senhora de aparência serena tem. Aos 70 anos de idade, batalhou insistentemente para morar em sua casa. O que a impedia? A falta de acessibilidade em seu prédio, localizado em uma das avenidas mais movimentadas na cidade de São Paulo, a Nove de Julho.

Quando Joselina comprou o apartamento número três do condomínio Jardim Trianon, em meados de 1999, não imaginava que no futuro aqueles dois lances de escada que separam a rua de sua casa seriam um enorme problema. Em 2009, a vida surpreendeu Joselina quando um acidente vascular cerebral (AVC) deixou como sequela a perda dos movimentos das pernas e parcialmente do braço esquerdo.

Depois de sua recuperação, Dona Jo, como é conhecida no prédio, voltou para sua casa. Contente por sair do hospital, local que ficou por cerca de um mês, o que mais a alegrava era finalmente poder voltar para o lar; porém, ela não podia prever que aquela nova condição traria dificuldades. “Toda vez que precisava sair de casa necessitava de alguém para me carregar de um lado para outro. Imagina ter de descer dois lances de escada com cadeira de rodas, é impossível!”, disse Jo.

Essa dificuldade impediu que Joselina morasse em seu apartamento, tamanho trabalho que demandava para as pessoas que a ajudavam. Assim, decidiu morar junto com a irmã, que possuía uma casa em Suzano, município vizinho.
Após três anos, Joselina decidiu tomar uma atitude e lutar para ter acessibilidade e seu direito de entrar e sair livremente do apartamento. Primeiramente, entrou em contato com a Comissão Permanente de Acessibilidade (CPA), órgão vinculado a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, e pediu orientações sobre quais procedimentos deveriam ser realizados.

Por se tratar de um condomínio particular, quem deve fazer as reformas são os moradores. E, assim, começou a longa batalha por uma rampa que facilitasse a locomoção de dona Jo ao próprio lar.
Foi marcada reunião com os moradores do condomínio Jardim Trianon e, para surpresa de Jô, a maioria de seus vizinhos não gostou da ideia da construção da rampa. “As pessoas não pensam que no futuro elas poderão precisar de acessibilidade, só pensam no custo", afirmou Jo indignada.

Se dona Joselina desistiu? Pelo contrário, ela foi ao juizado de pequenas causas e lutou para que seu condomínio, apesar de antigo, tivesse acessibilidade para ela e os demais moradores. "O pessoal do prédio achava que eu estava falando mentira, que eu me locomovia pelo prédio sem problemas, acredita? E outros vizinhos tinham medo de ficar mal falados por estarem me ajudando", contou Joselina.

Depois de muitos “nãos” da justiça e as batalhas envolvendo advogados, a rampa foi aprovada e construída. “A rampa deixou até mais bonita a entrada do prédio e o melhor, até as pessoas que não queriam hoje utilizam o acesso.”

Dona Joselina conseguiu a rampa na porta de sua casa, que era a prioridade; e agora outra, no salão de festas, está no orçamento do condomínio. Dona Joselina vende bijuterias, feitas por ela, e cosméticos para conseguir renda extra; já que esta aposentada desde 2004. "Não é porque tenho deficiência que tenho que restringir minha vida. Posso fazer tudo, com algumas limitações, mas luto como puder para conseguir meus direitos e viver da melhor maneira possível”, concluiu Joselina Pereira.