Mônica Nador - Autoria Compartilhada

Saiba mais

Em 2003 fundamos o Jardim Miriam Arte Clube, o JAMAC, um espaço voltado para a arte e cultura naquele bairro. Hoje ali funcionam oficinas de estêncil, de cinema e animação, além do café filsófico: encontros mensais com professores universitários que falam de temas escolhidos pelos seus frequentadores, entre eles, professores da rede pública de ensino, jovens que frequentam as oficinas de cinema&estêncil, ativistas do bairro.
Esta exposição mostra o núcleo de pintura em estêncil em plena atividade. Nosso objetivo é estampar todos os tecidos que aqui se encontram além da parede lateral desta sala.

O processo de trabalho se dá da seguinte maneira: desenhamos a partir das peças do acervo deste Pavilhão das Culturas Brasileiras, transformando os mesmos em estênceis e os replicamos sobre a superfície a ser ocupada, neste caso em panos e parede. A repetição da mesma imagem em sequências organizadas gera os padrões que aqui são apresentados.

Trata-se de uma situação onde compartilho a autoria com os participantes, uma vez que, na medida do possível, cada um deles atua em todas as etapas do processo, inclusive fazendo escolhas e tomando decisões.

Mônica Nador



A contribuição de Mônica Nador para tornar a arte acessível a parcelas significativas da população é uma realidade que recebe cada vez mais reconhecimento. Expor, compartilhar e dialogar com criações e produções culturais resgatadas em diversos momentos e lugares do Brasil, reunidos no Pavilhão das Culturas Brasileiras, é um momento que se reveste de significado, pois possibilita mostrar que a arte possui história de compartilhamentos, de aproximação e, sobretudo, ação coletiva. Esta proposta emerge num movimento leve, sinuoso e abrangente na sua potencialidade de tocar profundamente a alma de quem constrói num labor descompromissado e, tendo como objetivo maior, dar vida ao saber popular que se materializa e forma a cultura do povo brasileiro.

Nador seguramente não é a única que assume para si a responsabilidade de trazer para o andar de baixo a possibilidade de incorporar a arte no cotidiano das pessoas, ação que desenvolve na periferia de São Paulo, onde a rudeza da vida é evidente. Porém, o seu mérito maior é ser profundamente persistente com uma tenacidade despretensiosa, incomoda, pois rompe e escancara os espaços protegidos, fazendo emergir com simplicidade o verdadeiro sentido de compartilhar o saber e o fazer artístico.

Com um projeto na cabeça percebe, talvez como poucos, que a cultura não é propriedade só para alguns, que a beleza deve ser apropriada por pessoas em diferentes condições sociais e carrega consigo, para materializar a proposta, jovens que se somam a caminhada, filhos da periferia, aglomerações humanas, num país que se urbanizou extremamente rápido e infelizmente não transportou o legado da cultura local, ligada à labuta com a terra, para o nicho urbano. As relações comunais tradicionais foram rompidas; por outro lado, o amálgama urbano constrói e reelabora expressões típicas que influencia e são influenciadas, inseridos numa sociedade onde a comunicação estreita laços e contribui para resgatar traços culturais que estão presentes de maneira pulverizada nos pais, avós e familiares dos jovens que reencontram o passado a partir de leituras que o contato sistematizado com o universo cultural possibilita.

A decisão de tornar o Pavilhão das Culturas Brasileiras um espaço para potencializar o diálogo entre o passado, o presente e as culturas tradicionais apresenta-se como uma iniciativa extremamente lúcida, principalmente porque neste movimento teremos a oportunidade de conectar jovens artistas como Paulo O’Meira, Bruno Pereira , Cristiane Silva, Everson Santana e outros tantos da periferia da cidade de São Paulo com um universo dinâmico, com espaços culturais consolidados, que vem sendo alargado por Mônica Nador e, tudo indica, ganha densidade e visibilidade, abrindo fendas reais para a experimentação e o resgate da arte e da cultura popular.

Mauro Pinto de Castro, colaborador do JAMAC.