A medida do tempo das coisas


Exposição de Daniel Malva
7 de novembro de 2015 a 20 de março de 2016

Há cerca de 200 anos, pelas ruas que cercam o Solar da Marquesa de Santos, trilharam caminho John Mawe (1807), Gustavo Beyer (1813), Martius e Spix (1817) e Saint-Hilaire (1818), entre outros viajantes e naturalistas que buscavam informações para suprir a catalogação do mundo que se desenvolvia na Europa. 

Nas fotografias de Daniel Malva vemos algumas espécies exóticas e outras encontradas na fauna brasileira, que foram localizadas em coleções de história natural, exemplares que auxiliam o reconhecimento do elo com o pensamento científico do passado e sua tentativa de classificação das formas vivas. Entretanto, contradizendo as práticas descritivas – e da fotografia documental –, estas imagens surpreendem pela opacidade que impede a leitura de seus detalhes. Realizada entre 2008 e 2014, Museu de História Natural foi integralmente captada com uma lente desenvolvida para a série, sendo o software da câmera digital reprogramado. Juntas, essas alterações criaram imagens embaçadas, nas quais a identificação do objeto é apenas sugerida. O resultado alude ao olhar contemporâneo que, frente a tantas informações, refuta a leitura integral do mundo. 

Em OJardim, série exposta ao público pela primeira vez, Malva utilizou filme de grande formato e retomou o uso do equipamento analógico. Entretanto, a reconciliação com o foco, resultado de outra lente construída pelo artista, subordina-se ao confronto com a morte, representada pelas partes dissecadas do corpo humano, que o autor encontrou em laboratórios de anatomia. A visão dissonante – e por vezes amarga – reintroduz o argumento inicial sobre a passividade do olhar, mas o visitante que se envolve com a seriedade do que vê à sua frente é recompensado com imagens de grande eloquência. 

No trabalho de Daniel Malva observamos um padrão de construção que enfatiza a criação do discurso e a elaboração da metodologia de registro antecedendo a produção das imagens, estratégia que o posiciona no âmbito da narração. São imagens que se distanciam das regras clássicas da composição, que incorporam a pesquisa e a experimentação dos limites da técnica e da beleza, este múltiplo e questionável conceito. Em suas fotografias, tudo converge ao objeto, transformando-o no universo de sua expressão. Para Malva, parte dele a medida do tempo das coisas.


The measure of the time of things

About 200 years ago, the streets surrounding the Solar da Marquesa de Santos were tread by John Mawe (1807), Gustavo Beyer (1813), Martius and Spix (1817), Saint-Hilaire (1818), and other traveling artists and naturalists who sought information to supply the cataloguing of the world that was being carried out in Europe.

Daniel Malva’s photographs feature exotic species of fauna and many others which are endemic to Brazil, which were found in collections of natural history and serve as links that recall the scientific thought of the past and its attempt to classify forms of life. But unlike the descriptive practices – including those of documentary photography – these images have a surprising opacity that prevents the reading of their details. Produced between 2008 and 2014, Museu de História Natural [Museum of Natural History] was entirely captured with a lens especially developed for the series, coupled with the use of reprogrammed digital camera software – modifications that give rise to foggy images, where the object’s identity is merely suggested. The result alludes to the contemporary gaze where the surfeit of information prevents any complete reading of the world.

In OJardim [TheGarden], a series being shown here for the first time, Malva went back to the use of analog, large-format film photography. The reconciliation with the focus, resulting from another lens constructed by the artist, however, is subordinated to the confrontation with death, represented by desiccated parts of the human body that the artist found in anatomy laboratories. The dissonant and sometimes bitter view reintroduces the initial argument concerning the passiveness of the gaze, but any visitor who painstakingly observes these photographs will be rewarded with highly eloquent images.

In Daniel Malva’s work, we observe a pattern of artistic construction that emphasizes the creation of the discourse and the elaboration of a particular method of photographic capture that precedes the production of the images, a strategy that positions it in the field of narration. Far from the classic rules of composition, the resulting pictures spring from research and experimentation with the limits of both technique and beauty – that multiple and questionable concept. In his photographs, everything converges on the object, transforming it within the world of his expression. For Malva, the object is the basis for measuring the time of things.

Evento: A medida do tempo das coisas 
Abertura: 7 de novembro de 2015 
Período expositivo: de 7 de novembro de 2015 a 20 de março de 2016 
Local: Solar da Marquesa de Santos
Sede do Museu da Cidade de São Paulo 
Endereço: Rua Roberto Simonsen, 136 01017-020 - Sé – São Paulo SP 
Telefone 11 3241 1081 
Horário de Funcionamento: de terça a domingo, das 9 às 17 horas
Entrada gratuita