Praça Kantuta recebe lançamento do projeto CasaLatina

Atividades iniciadas em junho deste ano buscam ressignificar o espaço público e criar novas relações entre as pessoas que frequentam a Kantuta

CasaLatina - Cidadania nas Ruas da Kantuta é o nome do projeto lançado, neste domingo (27), pela Prefeitura de São Paulo, na tradicional feira da Kantuta. Localizada no Pari, há poucas quadras da estação Armênia do metrô, a feira acontece ali desde 2002, organizada pela comunidade boliviana que vive na cidade.

“Já estamos vendo no entorno da Praça Kantuta as intervenções da CasaLatina nos muros, nos jardins, no trabalho com as crianças e muito mais coisas vão acontecer por aqui”, promete o secretário-adjunto da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), Rogério Sottili.

Rogério Sottili, secretário-adjunto municipal de Direitos Humanos e Cidadania 

“Queremos a participação da comunidade na construção deste espaço para que nós possamos exercer a nossa cidadania e fazer de São Paulo uma cidade cada vez mais bonita, cada vez mais forte e cada vez mais colorida, com todas as cores dos habitantes que aqui vivem”, disse Sottili, após lembrar as políticas para imigrantes criadas na gestão Haddad como a criação de cadeiras para imigrantes no Conselho Participativo, os recentes trabalhos para elaboração da Política Municipal para a População Imigrante e a criação do CRAI - Centro de Referência e Acolhida para Imigrantes - e de outras casas de acolhida específicas para esta população.

As ações na Kantuta envolvem um amplo trabalho intersecretarial e conta também com apoio da subprefeitura. Simão Pedro, secretário municipal de Serviços, participou da cerimônia de lançamento e falou de algumas mudanças realizadas para melhorar as condições da praça, como o wi-fi livre, gratuito, a nova iluminação, além de lixeiras e de dois containers instalados para ajudar na limpeza do local. “Nós, do governo municipal, vemos a comunidade boliviana como uma comunidade paulistana, uma comunidade da nossa cidade”, enfatizou Simão Pedro. Os trabalhos de iluminação e limpeza são efetivados pela Secretaria Municipal de Serviços, por meio da Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (Amlurb) e do Departamento de Iluminação Pública (Ilume).

Rogério Sottili (SMDHC), Simão Pedro (SES) e René Quisbert (Feira Kantuta)

"Todos que estão aqui fazem parte da nossa cultura brasileira", reafirmou o supervisor de Cultura, Waldemar Kremer, representando a Subprefeitura da Mooca. René Quisbert, presidente da Associação Gastronômica, Folclórica e Cultural da Feira Kantuta, agradeceu o trabalho que vem sendo feito pela atual gestão municipal. “Hoje, nos sentimos felizes porque vemos que as autoridades públicas atendem às necessidades que a Feira Kantuta vem suscitando há bastante tempo”, disse.

Grupo Folklorico Kantuta Bolivia

A cerimônia de lançamento contou com a apresentação cultural de grupos de dança boliviana, afro-boliviana e afro-brasileira. A programação contou também com um debate sobre a nova Lei de Migração, organizado pela Coordenação de Políticas para Migrantes da SMDHC.

Reinvenção da praça

O projeto CasaLatina é a terceira experiência de ressignificação urbana do Plano de Ocupação do Espaço Público pela Cidadania. Criado em 2014, pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), o Plano tem três objetivos centrais: valorizar a cultura de direitos humanos, estimular a ocupação do espaço público e promover a participação social.

Marília Jahnel, coordenadora de Promoção do Direito à Cidade

“Nossa proposta é ressignificar este espaço [da Kantuta] e valorizar a cultura imigrante aqui da praça, que já tem uma atuação forte”, disse Marília Jahnel, coordenadora de Promoção do Direito à Cidade da SMDHC.

Desde junho, a praça vem recebendo intervenções artísticas e urbanas como oficinas de arte, pintura nos muros, rodas de conversa, construção de mobiliários, jardins e de uma horta comunitária. Depois de três meses de construção coletiva, já é possível perceber uma relação de confiança travada entre os organizadores do projeto e os frequentadores da praça. Esta relação, o coordenador do CasaLatina, Fernando Sato, define como “vizinhança”.

Fernando Sato, coordenador do projeto CasaLatina

“Acreditamos que todo mundo que mora nesta cidade é vizinho, e vizinho a gente cuida, a gente conhece. A CasaLatina é um projeto pensado para que esta vizinhança se construa e para que novos elos se criem nas relações entre as diferentes populações que frequentam a praça”, diz Sato. Caminhando por ali, pode-se ver como as mudanças feitas no lugar possibilitam novos encontros e formas de conviver. “Ainda temos tempo para criar coisas belas e fazer esta cidade muito mais tolerante, igualitária e feliz”, convida Sato!

O projeto "CasaLatina: Cidadania nas Ruas da Kantuta" é uma iniciativa da Coordenação de Promoção do Direito à Cidade, realizado em parceria com a Coordenação de Políticas para Migrantes da SMDHC. As atividades seguem até dezembro, com programação às quartas-feiras e aos domingos.

 

Chakana, diversidade e cooperação

Foto: CasaLatina

A Chakana, cruz dos Andes, faz parte da simbologia sagrada dos povos andinos. "O símbolo é bastante reconhecido pela comunidade da feira. Algumas pessoas vieram dizer que se sentiram emocionadas ao reconhecê-lo aqui”, conta Marcus, integrante do CasaLatina, sobre o jardim em cruz construído pelo projeto na Praça Kantuta, em referência ao símbolo ancestral. Técnico em agricultura biodinâmica e estudioso da agrofloresta, Marcus aprendeu a lidar, de forma cuidadosa, com a diversidade e a cooperação. Ao reconhecer o elemento da cultura boliviana “muita gente se colocou à disposição para ajudar, trazendo mudas, regando e ajudando no plantio. As pessoas têm dado um retorno muito positivo”, diz.

 

Troca de sementes e doação de mudas

Assim como o jardim, o projeto CasaLatina tem contado com apoio do Viveiro Alfredo Di Cunto, mantido pela Subprefeitura da Mooca, para as atividades de troca de sementes e doação de mudas, aos domingos, na feira. As terras do viveiro, compostadas com sobras das podas de árvores da cidade, também têm sido usadas na horta comunitária.

 

Podemos hablar español!

“No ano passado iniciamos um trabalho de pesquisa na Kantuta e percebemos que, embora falássemos em espanhol com eles, muitas das crianças mais novas respondiam apenas em português. Desde junho, antes das oficinas de arte com Álvaro Vaz, fazemos uma leitura, em espanhol, de um conto, como forma de manter a língua de origem e a cultura viva”, conta Viviana Peña, imigrante colombiana, que participa do CasaLatina em várias frentes e faz questão de contar suas histórias em espanhol.

 

Quanto custa? Nada, é um regalo! [regalo é presente em espanhol]

Zeca Caldeira, fotógrafo há 20 anos e responsável pelo projeto FotoRegalo, conta como a ideia de tirar retratos e dá-los de presente, foi abrindo, devagar, uma nova relação com a comunidade da Kantuta. “Este trabalho com as fotos a gente começou a fazer lá pela quarta semana e ele acontece em três fases: a primeira é a captação das imagens; a segunda é a fase de distribuir os retratos em molduras; e a terceira, que estamos começando a fazer, é a exposição dos retratos no muro da praça”.

 

Vizinhança

Foto: CasaLatina

Uma das funções do projeto é criar vínculos e possibilidades de relação entre aqueles que moram no entorno da praça e a comunidade boliviana que trabalha ou frequenta a feira. “Dividir as imagens de imigrantes e moradores locais no muro é uma forma de dizer: vamos dividir este espaço”, diz Zeca Caldeira, o fotógrafo da Kantuta!

 

Veja o vídeo do lançamento!