Membros do Clube 220, entidade que reunia agremiações negras do Estado de São Paulo, se empenharam na construção de um monumento à Mãe Preta em São Paulo, no começo dos anos 1950. A Câmara Municipal e os jornais Diário da Noite, Diário de São Paulo e Correio Paulistano debateram sobre o assunto. A discussão resultou em projeto de autoria do Vereador Elias Shammas que, aprovado na Câmara, deu origem a um concurso público de maquetes para a construção do monumento, instituído pelo prefeito Jânio Quadros em 1953. O trabalho vencedor foi o de Julio Guerra (Santo Amaro, SP, 1912 - São Paulo, 2001), dada sua simplicidade e realismo, conforme avaliação da comissão julgadora e da imprensa.
Aos olhos do militante negro José Correia Leite, personalidade das mais representativas e respeitadas pela comunidade afro-descendente de São Paulo, as qualidades apontadas pela comissão julgadora eram defeitos. Os traços modernos da escultura não o agradaram, pois esperava ver a Mãe Preta imortalizada em linhas acadêmicas: mucama bonita e bem arrumada como costumavam ser as amas de leite, e não uma figura “deformada” como a do Paiçandu, dizia.
A inauguração ocorreu em 23 de janeiro de 1955, como parte das comemorações de encerramento do IV Centenário da Cidade de São Paulo. A escolha do Largo do Paiçandu para acolher a homenagem à Mãe Preta se deveu à presença da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e de ser aquele largo, desde a construção da igreja no começo do século XX, um ponto de referência para a comunidade afro-descendente de São Paulo.
O bronze da Mãe Preta ganhou foros de entidade religiosa, integrando rituais católicos e afro-brasileiros. Tornou-se comum depositar velas e oferendas como flores, bebidas, comidas e pedidos em pedacinhos de papel. Transformou-se em local privilegiado para as comemorações pela libertação dos escravos, no dia 13 de maio e, mais recentemente, também pelo Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro. Manifestações artísticas e religiosas ocorrem ao redor da estátua da mulher negra que amamenta a criança branca, relembrando as amas de leite no período da escravidão. Em 2004, com base em pedido encaminhado pela Irmandade do Rosário dos Homens Pretos e da comunidade local, o monumento à Mãe Preta foi tombado pelo CONPRESP, reconhecendo seu valor cultural para a cidade de São Paulo.
O escultor Julio Guerra autorizou a implantação de uma cópia da Mãe Preta no Largo São Benedito, atual Praça Anita Garibaldi, na cidade de Campinas. A escultura tem as mesmas dimensões do monumento paulistano e foi inaugurada em 1984.
Seção Técnica de Levantamentos e Pesquisa
Divisão de Preservação - DPH