Daniel Ribeiro, diretor do filme 'Hoje eu quero voltar sozinho', conta, em entrevista, como foi participar do Festival de Curtas-Metragens ENTRETODOS

Longa exibido no último Cine Direitos Humanos, com sala lotada, é baseado no curta 'Eu não quero voltar sozinho', que levou, em 2010, o prêmio de Melhor Roteiro do ENTRETODOS

Foi no Festival de Curtas-Metragens em Direitos Humanos ENTRETODOS, realizado desde o ano passado pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), que começou o sucesso do filme 'Hoje eu quero voltar sozinho', do diretor Daniel Ribeiro, exibido no Cine Direitos Humanos deste sábado, dia 30, com sala lotada. Era a 3ª edição do Festival e Ribeiro levava a estatueta de Melhor Roteiro com o curta 'Eu não quero voltar sozinho', o "embrião" do longa, que, logo na primeira semana de exibição, alcançou a quinta colocação entre as maiores bilheterias brasileiras.

O filme retoma os personagens, o elenco e a história de 'Eu não quero voltar sozinho' de forma mais complexa. Mas, segundo o diretor, embora o curta tenha funcionado como um piloto para o longa, as histórias são independentes, já que "percorrem caminhos diferentes". Na internet, 'Eu não quero voltar sozinho' alcançou mais de 3 milhões de visualizações, contribuindo para o sucesso de 'Hoje eu quero voltar sozinho' nas telonas.

A trama conta a história de Leonardo (Guilherme Lobo), um adolescente com deficiência visual que, como qualquer jovem, está em busca de sua independência. Ele precisa lidar com suas limitações e a superproteção da mãe (Laura Romano). Para decepção de sua melhor amiga, Giovana (Tess Amorim), Leo planeja se libertar do cotidiano com uma viagem de intercâmbio. Porém, a chegada de Gabriel (Fabio Audi), um novo aluno na escola, desperta sentimentos até então desconhecidos em Leonardo.

Em sua 7ª edição, o ENTRETODOS busca fomentar a cultura de direitos humanos e estimular a produção audiovisual sobre o assunto, incentivando a população em geral a utilizar a linguagem cinematográfica para se expressar sobre ele. As inscrições estão abertas até 15 de julho e a mostra competitiva acontece em novembro.

Confira a seguir a entrevista que o diretor Daniel Ribeiro concedeu ao Portal da SMDHC, falando sobre a experiência no ENTRETODOS, a transição do curta para o longa e o problema na homofobia no Brasil.

Como foi participar do ENTRETODOS, em 2010?

Daniel Ribeiro – É sempre legal participar de um festival de direitos humanos, porque você faz um filme querendo que ele tenha uma importância social. O festival gera um debate muito importante. E ter ganhado o prêmio foi uma forma de reconhecimento.

A ideia de transformar o curta 'Eu não quero voltar sozinho' em um longa já existia ou foi resultado do sucesso do curta?

Já existia. O curta era um piloto para o longa. Mas lógico que contribuiu muito a boa circulação dele (na internet).

Como foi esse processo de transição do curta para o longa?

Foi bem legal. Como muita gente já tinha visto o curta, fui estimulado a deixar o filme parecido com ele. Eu tinha que manter a alma do curta, mas, ao mesmo tempo, surpreender o público com algo novo.

Você acha que as histórias se completam ou prefere que o público as veja como independentes?

As histórias são independentes, mas é interessante ver as duas e perceber como seguem em paralelo. Há toda essa descoberta do amor, essa mesma trajetória, mas cada uma segue um caminho diferente. A intenção era fazer um filme que demonstra como a gente se apaixona de acordo com as coisas que vêm de dentro da gente. Pela reação do público, acho que quem assistiu entendeu. As pessoas escreveram muitas coisas positivas sobre o que sentiram enquanto assistiam ao filme.

Você percebeu alguma reação negativa, como tem acontecido com o filme 'Praia do Futuro', que também traz a temática LGBT?

Não. A reação tem sido superpositiva. Eu conheço histórias de pessoas que levaram os avós para assistir e todo mundo se encantou pelo filme.

Outro filme que causou polêmica foi o francês 'Azul é a cor mais quente', que mostra a história de amor entre duas mulheres. Você acha que o Brasil está preparado para aceitar as diferenças ou ainda estamos muito longe?

Eu acho que o Brasil está preparado. Todos esses filmes ajudam muito no debate. O 'Hoje eu quero voltar sozinho', por exemplo, que trata de uma forma mais inocente o tema, permite um tipo de diálogo. Aí, quando você vai para um filme mais polêmico, isso gera um debate em outro nível. Todos esses filmes são importantes. Um porque demonstra que é algo natural, que surge dentro da gente, e o outro porque a sociedade precisa incorporar um tema como esse sem preconceito.

Na televisão, você acha que a abordagem do tema LGBT também evoluiu?

Eu acredito que ocorreu uma evolução. Há muitos personagens gays hoje em dia, os caricatos e os realistas. Estamos bem encaminhados atualmente.