HSPM Responde: Alzheimer: tomar medidas proativas é mais importante que o tempo em que o diagnóstico aconteça

Segundo o World Alzheimer Report 2022, no Brasil a taxa de subdiagnóstico de demência atinge quase 80%

Imagem ilustrativa na qual aparece à esquerda um holofote dentro de um celular e à direita o Texto HSPM Responde

Por Luísa Carvalho

 Em 21 de setembro lembramos o Dia Mundial do Alzheimer, data que tem como objetivo esclarecer sobre a doença e ressaltar a importância do tratamento. O tema da campanha 2023 é: “Nunca é cedo demais, nunca é tarde demais, apontando que iniciar o tratamento a qualquer tempo é importante, seja para retardar, amenizar ou prevenir os efeitos da doença no organismo. Segundo o World Alzheimer Report 2022, divulgado pela Alzheimer Disease International (ADI) - Federação Internacional de Associações de Alzheimer e Demência - as taxas de subdiagnóstico de demência no Brasil atingem quase 80% e a maioria das pessoas que vivem com demência recebem um diagnóstico avançado da doença. Entrevistamos a Dra. Taís Benevides, Neurologista do HSPM, que traz informações acerca da prevenção, diagnóstico e tratamento do Alzheimer.

1) Quais são os principais sintomas relacionados ao Alzheimer?
O principal sintoma da Doença de Alzheimer é a perda de memória, especialmente a de fatos mais recentes. Esses esquecimentos pioram aos poucos e, em geral, associam-se a dificuldades na realização de tarefas cotidianas, na fala, no aprendizado e na orientação espacial. Com isso, por exemplo, é comum que o paciente se perca em locais que costuma frequentar. Além disso, alterações comportamentais podem ocorrer, desde apatia até agressividade, incluindo acusações infundadas de furtos, infidelidade e outras ideias delirantes. É válido lembrar que o fim da tarde costuma ser um momento de piora da confusão mental desses pacientes.

2) Outras doenças podem ser confundidas com o Alzheimer por terem sintomas parecidos?
A Doença de Alzheimer se tornou tão famosa que, para os leigos, ela virou sinônimo de demência, mas, na verdade, ela é apenas uma das condições que podem levar ao quadro demencial. O conceito de demência é caracterizado por déficits na cognição, ou seja, em diversos aspectos envolvidos no nosso raciocínio que, ao irem se agravando, prejudicam a realização de tarefas cotidianas. Tendo isso em mente, por exemplo, um paciente que sofre um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e fica com sequelas cognitivas importantes recebe o diagnóstico de "Demência Vascular", não de Alzheimer. Outras doenças neurodegenerativas podem apresentar sintomas parecidos com os do Alzheimer, como a Demência Frontotemporal, mais associada a alterações comportamentais do que à perda de memória, ou a demência associada à Doença de Parkinson. Além das doenças neurodegenerativas, há condições potencialmente reversíveis que podem cursar com alterações de memória, como doenças da tireoide, deficiência de vitamina B12, tumor cerebral, distúrbios do sono, intoxicação por drogas e fármacos, infecção crônica (ex: neurossífilis e HIV) e depressão grave.

3) Existe alguma faixa etária em que a doença apareça com mais frequência?
A Doença de Alzheimer é a causa mais comum de demência no idoso, sendo a idade o principal fator de risco para o seu desenvolvimento. Considera-se que, após os 60 anos de vida, a incidência da doença cresça, mas a faixa etária mais acometida é a população ainda mais idosa, com 85 anos ou mais.

4) Há hábitos ou métodos de prevenção contra o Alzheimer?
Até o momento, a melhor maneira de prevenir a Doença de Alzheimer é investir em qualidade de vida: alimentação balanceada, bom padrão de sono e, principalmente, atividade física. Outra questão importante é o estímulo mental, como leituras e aprendizagem de novas línguas. Concluindo, não há medicação ou procedimento específico para a prevenção do Alzheimer, no entanto, medidas simples como estímulo físico e mental trazem benefícios consideráveis.

5) Como a doença é adquirida?
A Doença de Alzheimer não é contagiosa, e sim, neurodegenerativa; porém ainda é desconhecido todo o seu mecanismo. Entretanto, com as descobertas das últimas três décadas, tornou-se mais clara a ideia de que a doença se desenvolve silenciosamente por cerca de 10 anos antes do aparecimento dos primeiros sintomas. Alterações cerebrais vão se acumulando, como placas neuríticas com amilóide Aβ, emaranhados neurofibrilares no citoplasma neuronial e Aβ42 nas paredes arteriais dos vasos sanguíneos cerebrais, e ainda não se entende direito o que leva ao início desse processo nem os efeitos diretos dessas modificações na nossa capacidade cognitiva. No entanto, elas culminam numa importante atrofia cerebral em função da morte de neurônios. A idade avançada, o sexo feminino, um menor nível educacional, fatores de risco cardiovasculares (hipertensão arterial, diabetes, obesidade, sedentarismo, entre outros) e alguns componentes genéticos são fatores de risco para a Doença de Alzheimer e devem exercer algum papel nesse contexto.

6) O Alzheimer tem cura?
Infelizmente, a Doença de Alzheimer ainda não tem cura, sendo a sua busca um dos maiores desafios da ciência atual.

7) Caso o paciente suspeite que esteja com Alzheimer, como ele deve proceder para realizar o diagnóstico da doença?
O paciente com suspeita de Doença de Alzheimer deve ir a um neurologista para ser adequadamente avaliado. É essencial que o profissional analise as queixas e o quadro clínico do paciente e realize testes cognitivos, como o Mini Exame do Estado Mental (MEEM). Diante disso, o neurologista deve avaliar a possibilidade de outros diagnósticos associados a alterações de memória, sendo a depressão, o hipotireoidismo e a neurossífilis alguns deles. Caso o médico realmente considere possível o diagnóstico de Alzheimer, ele deve pedir exames de sangue e uma neuroimagem, preferencialmente uma ressonância magnética de crânio. Em alguns casos mais específicos, a análise do líquor (líquido límpido e incolor que banha o sistema nervoso central, incluindo o cérebro) e a realização de exames mais complexos são necessárias.

8) Como é o tratamento?
Infelizmente, ainda não há nenhuma medicação que modifique o curso da Doença de Alzheimer. Todavia, existem condutas e remédios que melhoram a qualidade de vida do paciente e, consequentemente, do seu cuidador. Em relação a medidas comportamentais, o estabelecimento de uma rotina diária fixa de tarefas; a elaboração de cadernos e lembretes; a manutenção de ambientes seguros e não alterados; e o estímulo físico e mental do paciente parecem trazer benefícios importantes. Além disso, é válido ressaltar que contradizer ou brigar com o paciente não é recomendável, sendo mais interessante concordar e acalmá-lo para, depois de algumas horas, voltar ao tópico com a informação correta. Já sobre as medicações, as mais usadas são as da classe dos inibidores da colinesterase (Donepezila, Rivastigmina e Galantamina), que ajudam no tratamento de déficits cognitivos e alterações comportamentais. Como complemento, em fases moderadas a graves da doença, usa-se comumente a memantina, que parece potencializar o efeito dos inibidores da colinesterase, melhorando a funcionalidade do paciente. Outras drogas que são ferramentas relevantes no manejo desses pacientes são antidepressivos, indutores do sono, ansiolíticos, anticonvulsivantes e antipsicóticos. Por fim, os cuidadores dos pacientes com Alzheimer costumam ficar sobrecarregados e deve-se prestar atenção em como eles estão lidando psicologicamente com um quadro tão delicado envolvendo uma pessoa querida, podendo-se indicar grupos de apoio locais e nacionais.