Esclerose múltipla pode levar ao acúmulo de sequelas

Não existe cura para a doença, autoimune; tratamentos evoluíram ao longo de décadas

Por Gabriel Serpa

30 de agosto é a data em que se celebra o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla. Ainda que considerada rara no Brasil, a condição acomete cerca de 20 a cada cem mil brasileiros. O objetivo da efeméride, criada pela Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM), é dar visibilidade à doença, assim como aos desafios diários vividos pelos pacientes. A neurologista do Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM), Dra. Taís Benevides, explica o que é e possíveis fatores que favorecem o surgimento da condição.

A esclerose múltipla é uma doença autoimune que afeta o sistema nervoso central. Faz com que as defesas do próprio corpo ataquem a bainha de mielina — revestimento dos neurônios feito de material gorduroso. Além de atuar como isolante elétrico, a capa privilegia uma comunicação mais rápida entre neurônios. Com a degradação da bainha de mielina, passam a surgir sintomas neurológicos: “alterações visuais, déficits de força nos membros, tonturas, formigamentos, incontinência ou retenção urinária e fecal, além da perda de coordenação motora”, ressalta Dra. Taís Benevides.

A forma mais comum da esclerose múltipla é a remitente recorrente, observada em 80% dos pacientes com a doença. Nela ocorrem surtos — episódios agudos que duram pelo menos 24 horas e podem deixar sequelas. Os pacientes que apresentam essa forma de esclerose múltipla “tendem a evoluir para a secundariamente progressiva, em que os surtos desaparecem. Mas a progressão da doença segue”, explica a neurologista do HSPM. Não existe maneira de prevenir a doença. “Entretanto há fatores de risco: genética, histórico de mononucleose, tabagismo, obesidade e gradiente geográfico — populações do hemisfério norte com baixos níveis de vitamina D”, arremata ela.


A progressão da doença leva ao acúmulo de sequelas, desde a redução das capacidades visuais, o comprometimento do raciocínio até paraplegia. Não há cura para a esclerose múltipla. “Nos últimos 30 anos, foram estabelecidos tratamentos, conhecidos como ‘modificadores de doença’. Podem evitar e reduzir a ocorrência de surtos, sintomas, lesões no sistema nervoso central e acúmulo de incapacidades”, relata Dra. Taís. Além disso, recomenda-se abordagem multidisciplinar: acompanhamento com fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e psicólogo.